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Castelo de If, a prisão do Conde de Monte Cristo

O Castelo de If

        If é uma ilha pequena com somente 3 hectares de área, situada na baía de Marselha, e esteve para Marselha como Alcatraz para San Francisco. Lá fica o Castelo de If, que durante muitos anos sediou uma prisão cuja fuga era considerada impossível, mesmo mote de Alcatraz. O Castelo de If passou a ser conhecido mundialmente ao servir de cenário para os capítulos iniciais da obra-prima O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, como o local onde o protagonista Edmond Dantès esteve encarcerado por quatorze anos antes de iniciar sua vingança contra aqueles que causaram sua prisão.

Remadoras atravessam o Vieux Port rumo ao mar diante do Forte St. Jean

         Grande fã da obra de Dumas, não tinha ideia de que o Castelo está aberto a visitação até pesquisar sobre as atrações de Marselha. Reservei então a tarde do meu bate-volta a Marselha desde Aix-en-Provence para conhecê-lo. Os barcos para visita à ilha partem do Porto Velho, e o roteiro pode ou não incluir as outras ilhas do arquipélago Frioul, ao qual If pertence. Preferi me ater somente à ilha do castelo. O Lonely Planet indicava a companhia Frioul Express, na quina do Porto Velho junto à margem sul, mas ao chegar lá havia uma fila grande e algo tumultuada para pegar o cruzeiro. A poucos passos dali,  na parte inicial da margem norte, o quiosque da Croisières Maritimes estava bem mais vazio e comprei o tíquete. Com alguns turistas, o barco saiu em poucos minutos.

O Forte de St. Nicolas
Boca do Vieux Port, entre o Fort de St. Jean à esquerda e de St. Nicolas

            Por €10 mais €5 de ingresso no castelo, os barcos ligam Marselha e If a cada hora entre 10:15 e 16:15, de abril ao fim de outubro. O horário de volta é livre. No meu caso, a hora que permaneci na ilha foi mais do que suficiente para a visita ao castelo e um passeio breve pelos seus pátios.

           O curto trajeto de três quilômetros e meio é vencido em pouco mais de 20 minutos. O barco cruza todo o Porto Velho antes de entrar na baía propriamente dita. Essa parte inicial é recheada de monumentos históricos marselheses, como os fortes que guarneciam cada lado da entrada do porto, St. Jean e St. Nicolas.

Aproximando-nos da Ilha de If

          O sol que iluminou Marselha durante o meu passeio a pé pela cidade durante a manhã já tinha sumido, dando lugar a nuvens carregadas, que não chegaram a despejar chuva. E convenhamos, este cenário cinza escuro combina bem mais com a visita a uma prisão outrora sombria numa ilha desolada. Como não estava ventando muito, o passeio durante o restante da travessia curta foi bem agradável, sentado nos bancos do convés traseiro do barco.

Maquete mostrando a Ilha de If em 1681 - fonte: wikimedia - Mirabella

            O Castelo de If foi construído em 1529 como uma fortaleza real. O objetivo era duplo, proteção contra corsários (era a época do lendário turco Dragut, que assolou Malta e Córsega), além de vigilância sobre a própria Marselha, que tinha se tornado francesa somente algumas décadas antes. Sessenta anos depois, uma reforma reforçou o aparato militar, mas as defesas nunca foram usadas. A fortaleza de pouca serventia foi então transformada numa prisão, já que escapar dali era virtualmente impossível devido às correntezas - ninguém jamais conseguiu fugir, só mesmo na ficção de Dumas.

O barco do passeio atracado em If

           Se o hóspede mais famoso da ilha é fruto da imaginação de Alexandre Dumas, o mais inusitado tem uma história tão fantasiosa que sua veracidade é questionada. Em 1513 o rei de Portugal teria sido presenteado com um rinoceronte por um marajá indiano e repassou o amável presente ao Papa Leão X. A caminho do seu destino, o navio com o paquiderme teria feito escala na Ilha de If, onde o rinoceronte foi exibido durante dias como uma atração exótica; dá para imaginar o espanto dos franceses diante daquele animal com chifre enorme nunca visto por aquelas bandas. O final da história é triste: o navio naufragou na rota para Roma e o rinoceronte teria sido finalmente entregue ao papa, só que empalhado.

                 Ao longo dos anos, diversos tipos de prisioneiros foram encarcerados no Castelo de If: mais de 3.500 huguenotes, além de opositores de Napoleão III e finalmente, alemães na Primeira Guerra Mundial - o presídio tinha sido fechado em 1890, mas o castelo acabou recebendo  prisioneiros de guerra.

A fachada do Castelo de If

          Quando o barco se aproximou e pude vislumbrar o castelo, senti um pitada de desapontamento. Afinal, tinha lido o romance aos nove anos de idade e na imaginação fértil de criança, a prisão adquiriu proporções algo gigantescas. O que apareceu na minha frente era uma construção até acanhada para abrigar uma prisão histórica. Definitivamente If não tem a beleza característica dos castelos europeus, mas mesmo assim é um lugar que suscita o interesse.

A ponte sobre o fosso em foto tomada da entrada do castelo. Ao fundo, a Basílica de Notre Dame de la Garde em Marselha
     
         O castelo em si tem um formato esquisito e desproporcional, com duas torres de vigilância na frente e uma maior numa das laterais traseiras. A construção ocupa uma das extremidades da ilha rochosa, e na outra, está um farol cuja lanterna pintada na cor vermelha acende a cada seis segundos. O farol foi construído em 1948 em substituição ao farol anterior, destruído na Segunda Guerra Mundial.

Entrada de cela do Castelo de If

            Só existe uma única entrada no castelo, por uma ponte sobre um fosso seco que já foi uma ponte levadiça. Lá dentro, pode-se andar pelas antigas celas - algumas delas, mais confortáveis, eram  denominadas pistoles, sendo alugadas para prisioneiros mais ricos. Há exposições sobre a história da ilha e sobre a vida e obra de Alexandre Dumas. Para entrar ainda mais no clima das cenas do livro, duas das celas adjacentes do térreo foram batizadas com os nomes dos seus personagens aprisionados no castelo, Edmond Dantès e Abade Faria.

            Aliás, não é só no castelo que o livro é rememorado em Marselha - anualmente em junho acontece o Desafio de Monte Cristo, uma prova de natação de 5 quilômetros entre a Ilha de If e o continente que  em parte reproduz o percurso nadado por Edmond Dantès na sua fuga mirabolante.

Pátio interno do Castelo de If

          Além da vista ampla da cidade de Marselha, o terraço da torre reserva uma surpresa: um círculo no centro do assoalho indica um ponto com eco. Do pátio externo, a vista é semelhante. Na casa onde ficava a administração, na lateral do pátio, há um bar com algumas opções de lanche para os famintos.

Muralhas e farol de If

       No próximo post, um passeio pela região do Luberon, que apresenta alguns dos vilarejos mais bonitos da Provença.

➤ E se você tem interesse em visitas a castelos europeus, segue uma lista de posts deste blog sobre o tema:


 Postado por  Marcelo Schor  em 31.03.2016 

2 comentários:

  1. Oi, Marcelo. Tudo bem? :)

    Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Bóia – Natalie

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