O Museu do Amanhã com o Mosteiro de São Bento ao fundo |
Escrevo este blog há quatro anos e meio, tendo produzido 170 posts no período. E até agora não tinha publicado um post dedicado à cidade onde nasci e morei a vida toda. Falha gravíssima, ainda mais se tratando do Rio de Janeiro. Para quitar esta dívida, escolhi uma região que vem se modificando totalmente nos últimos meses, a Praça Mauá. A área, que há décadas estava em franca decadência, vem se revitalizando, principalmente após a demolição do Elevado da Perimetral. É verdade que o bota-abaixo causou um nó no trânsito que inferniza a vida dos cariocas até hoje, mas com a retirada do viaduto que atravessava a praça, esta ganhou uma reformulação completa, coroada com a inauguração do notável Museu do Amanhã em dezembro de 2015.
Edifício "A Noite", ladeado pelo RB1 à esquerda |
A Praça Mauá, nomeada em homenagem ao Barão de Mauá e ponto de início da Avenida Rio Branco, sempre teve uma grande importância para o Rio desde sua inauguração em 1910, após a conclusão das obras do Porto do Rio, ali ao lado, na gestão de Pereira Passos. Ali foi erguido o primeiro arranha-céu brasileiro em 1929, o prédio do jornal "A Noite", que décadas depois passou a sediar a icônica Rádio Nacional. O edifício ainda existe, estabelecendo um contraste forte com o moderno RB1 ao lado.
Outra construção que chama a atenção na Praça é o MAR, o Museu de Arte do Rio, inaugurado em 2013 e que apresenta exposições de arte variadas. O museu ocupa dois prédios interligados por uma passarela, um dos quais é o Palacete Dom João VI, do início do século passado, formando um conjunto bem interessante. A solução arquitetônica de integração dos prédios do museu foi muito elogiada, tendo sido premiada. Desde a inauguração do Museu do Amanhã, o MAR tem um atrativo adicional - a visão do museu mais novo de cima, num ângulo diferenciado.
Não há qualquer dúvida de que a atração maior é o Museu do Amanhã. Sua inauguração preencheu uma lacuna há muito existente no Rio, a de um museu cujo projeto por si só fosse um atrativo para os turistas, como acontece com os Guggenheim americano e basco. O prédio fabuloso tem a marca habitual de arrojo do seu arquiteto, o premiado espanhol Santiago Calatrava (eu já tinha conhecido uma de suas obras mais famosas, o Auditório de Tenerife nas Ilhas Canárias - acesse aqui o post). O formato do Museu do Amanhã é totalmente inquietante, para mim lembrando algum inseto prestes a abocanhar sua presa pousada na água. E com aparência mutante, pois as placas do teto se movem para captar a luz solar, que se transforma em energia para iluminar e refrigerar o ambiente do museu. O espelho d'água que cerca os fundos do museu também tem uma pegada ecológica, sendo composto de água retirada da baía em frente.
O museu ocupa 15 mil metros quadrados do píer antes deserto que avança pela Baía de Guanabara. O conteúdo das exposições também impressiona, com muitos efeitos visuais instigando o visitante a todo instante. As diversas seções convidam todos a interagir e refletir sobre questões relativas ao planeta e à evolução. As informações são apresentadas em três idiomas - português, inglês e espanhol.
De quebra, ainda fomos brindados com uma ótima exposição temporária. Se você prestou atenção na segunda foto do post, já sabe quem é o homenageado - Santos Dumont. Comemorando 110 anos do voo pioneiro em Paris, uma réplica do lendário avião 14-Bis enfeita a área diante do museu. A exposição "O Poeta Voador" vai até o final de outubro e foca no empreendedorismo do Pai da Aviação. Estão incluídos na mostra sete modelos reduzidos criados por Santos Dumont, entre balões e aviões. Um dos destaques é uma réplica em tamanho real do Demoiselle, considerado o melhor modelo de avião criado por Santos Dumont. Com algumas atividades voltadas para crianças, como a oficina de aviõezinhos de papel, devidamente atirados do alto de uma plataforma, esta foi a parte do museu que meus sobrinhos mais curtiram.
Modelos de algumas aeronaves construídas por Santos Dumont |
De quebra, ainda fomos brindados com uma ótima exposição temporária. Se você prestou atenção na segunda foto do post, já sabe quem é o homenageado - Santos Dumont. Comemorando 110 anos do voo pioneiro em Paris, uma réplica do lendário avião 14-Bis enfeita a área diante do museu. A exposição "O Poeta Voador" vai até o final de outubro e foca no empreendedorismo do Pai da Aviação. Estão incluídos na mostra sete modelos reduzidos criados por Santos Dumont, entre balões e aviões. Um dos destaques é uma réplica em tamanho real do Demoiselle, considerado o melhor modelo de avião criado por Santos Dumont. Com algumas atividades voltadas para crianças, como a oficina de aviõezinhos de papel, devidamente atirados do alto de uma plataforma, esta foi a parte do museu que meus sobrinhos mais curtiram.
Réplica do Demoiselle, uma espécie de modelo pioneiro de ultraleve |
Compramos nossos ingressos pela internet e entramos sem maiores tumultos num sábado, dia de movimento intenso, sem problema algum. Quem quiser pode comprar também via on-line o ingresso conjugado do MAR e do Museu do Amanhã. Nesse caso há um requisito meio estranho, o MAR deve ser visitado em segundo lugar e em até uma semana após o Museu do Amanhã. Não custa ainda lembrar que a entrada do MAR é gratuita no último domingo de cada mês e a do Museu do Amanhã, toda terça-feira. Às segundas ambos não abrem.
O calçadão da Orla Conde passando embaixo da ponte que liga o continente à Ilha das Cobras |
O espaço deixado vago pela Perimetral entre a Praça Mauá e a Praça XV passou a ser ocupado por um calçadão, a Orla Conde. Vale a pena caminhar pelo trecho já aberto ao público para apreciar ângulos do histórico Mosteiro de São Bento, um belo prédio datado do século XVII, e da Ilha das Cobras, que abriga o Arsenal da Marinha, antes encobertos pelo viaduto.
Viela do Morro da Conceição |
Quem quer conhecer áreas históricas do Rio tem uma oportunidade excelente bem perto da Praça Mauá. O Morro da Conceição é uma região bem conservada, repleta de construções e vielas do período colonial, onde as ruas possuem nomes saborosos como Travessa do Sereno e Rua do Jogo da Bola. Um dos destaques na subida do morro é a Pedra do Sal, uma escadaria na rocha onde o sal era descarregado no cais ali existente por escravos africanos. Os degraus foram escavados pelos próprios escravos e o local posteriormente foi um dos berços do samba carioca. Já as casas nas ladeiras têm arquitetura tipicamente portuguesa, com muitas vilas do século XIX, algumas com calçamento da época. No pé do morro fica a Igreja de São Francisco da Prainha, no largo homônimo, que data do final do século XVI e foi reconstruída em 1738 após um incêndio durante uma tentativa de invasão por franceses. Hoje a vários quarteirões do mar, a igreja ficava diante de uma praia, daí sua denominação. A igreja estava fechada há vários anos e foi reaberta após restauração também em 2015.
Para coroar a revitalização da Praça Mauá, no mês passado foi inaugurado o VLT - Veículo Leve Sobre Trilhos, um bonde elétrico moderno cuja linha atravessa a praça e cuja estação Parada dos Museus fica situada a poucos metros. Aproveitei a visita e andei pela primeira vez no VLT, gratuito até a data desta publicação e cobrindo ainda um trajeto reduzido. Só estranhei a denominação da linha 1 - Praia Formosa. Esta praia ficava na área da atual Rodoviária e desapareceu do mapa há mais de cem anos para dar lugar a um aterro! De formosa, a região não tem absolutamente mais nada. Não tinham um nome mais contemporâneo para batizar a futura estação terminal da linha?
O VLT passando pela Praça Mauá |
P.S.: Visitamos a exposição do Museu do Amanhã num dia chuvoso de outono. Por isso voltei no último dia das minhas férias à área para registrar as fotos externas para o blog. Era uma segunda-feira, dia em que o museu está fechado e esta é a razão das suas cercanias estarem meio desertas.
Postado por Marcelo Schor em 16.07.2016
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