Ilhas Faroé: Tjornuvik, exemplo de vila típica |
"Intocadas, inexploradas, inacreditáveis". Estes adjetivos presentes no lema oficial de turismo das Ilhas Faroé caem como uma luva para qualificá-las. Mas vamos começar pela pergunta que a maioria dos leitores deve estar fazendo: onde ficam mesmo estas ilhas que visitei? Faroé é um arquipélago composto por dezoito ilhas (e várias ilhotas) situadas no Atlântico Norte com latitude no paralelo 62, entre Escócia, Islândia e Noruega. Sua área é de 1.400 km² e contam com somente 49.000 habitantes. Apesar de ficarem mais perto do Polo Norte que a alasquiana Anchorage, por exemplo, as ilhas gozam de um clima bem mais ameno, graças à Corrente do Golfo. Chove na maioria dos dias no ano, e o tempo muda constantemente ao longo do dia. Tive sorte, pois o arquipélago estava enfrentando um período anormal de seca e só choveu durante uma única tarde. A temperatura durante o dia variou de 8 a 14 graus na segunda semana de junho, máxima um pouco acima do normal. Se bem que quando falo em dia entenda-se o período de 20 horas em que não é noite nessa época do ano, em pleno verão nórdico.
As Ilhas Faroé no meio do Atlântico Norte - a Escócia fica a 320 quilômetros de distância |
Mapa das ilhas Faroé - fonte: Lonely Planet |
Os faroeses costumam classificar seu país como "nação autogovernada dentro do Reino da Dinamarca". E é isso mesmo, Faroé é quase independente, com a Dinamarca cuidando da segurança, judiciário e relações exteriores. O país possui parlamento com primeiro-ministro, bandeira e moeda própria - a coroa faroesa, que tem paridade total com a coroa dinamarquesa, sendo ambas usadas no arquipélago. Uma curiosidade que demonstra sua autonomia é o fato de a Dinamarca pertencer à União Europeia e Faroé não, com acordos econômicos costurados com os outros países em separado. A economia é baseada principalmente na pesca e derivados, com o turismo e a indústria da lã correndo bem atrás. Aliás, existem duas denominações em português para as ilhas - Faroé e Feroe. Como a primeira é muito mais difundida no Brasil, a adotarei em todos os textos no blog.
Minha curiosidade em relação às Ilhas Faroé começou há cinco anos quando visitei a Islândia e vi algumas fotos com belas paisagens do arquipélago com sua natureza exuberante. Estas são tão exóticas que muitas vezes nos dão a impressão de estarmos num conto de fadas. A natureza é realmente seu principal atrativo: o que se vê são vilas coloridas com pouquíssimos habitantes, debruçadas sobre fiordes cercados por montanhas de um gramado verde sem fim e tendo alguma outra ilha despontando elevada no horizonte do mar. Quanto ao gramado, não se espante; com exceção das cidades onde foram plantadas pela mão do homem, árvores são um artigo desconhecido naquelas paragens e a grama cobre praticamente tudo (até os telhados!), contribuindo para a magia do lugar.
A cada curva da estrada surge um cenário fantástico em que você pára para tirar uma foto. Ainda bem que as estradas têm recuos construídos com essa finalidade. As ilhas são muito montanhosas, trechos planos praticamente não existem e o país é conhecido pelas trilhas que enveredam morro acima ou que acompanham o litoral - um paraíso para caminhantes. Diante desse panorama, não surpreende que as Ilhas Faroé tenham sido eleitas no ano passado como melhor destino de viagem pelos leitores da National Geographic.
Monte Skælingsfjall e as ilhas de Streymoy e Vágar |
A cada curva da estrada surge um cenário fantástico em que você pára para tirar uma foto. Ainda bem que as estradas têm recuos construídos com essa finalidade. As ilhas são muito montanhosas, trechos planos praticamente não existem e o país é conhecido pelas trilhas que enveredam morro acima ou que acompanham o litoral - um paraíso para caminhantes. Diante desse panorama, não surpreende que as Ilhas Faroé tenham sido eleitas no ano passado como melhor destino de viagem pelos leitores da National Geographic.
Barco de pesca em Viðareiði, a vila mais ao norte das Ilhas Faroé |
Os faroeses são bastante solícitos e simpáticos, uma contradição com o estereótipo de que os povos escandinavos são frios e reservados. Em todas as viagens de ônibus que fiz os motoristas ao perceberem que eu era estrangeiro começavam a bater papo. Por sinal, os serviços do país são de primeiro mundo, como de hábito nos países nórdicos, e a vida corre sem nenhum stress. Sem falar na violência zero e taxa de desemprego baixa.
Não há problema na comunicação. Além do faroês, todos os estudantes saem da escola com noções de dinamarquês, inglês e alemão. Afinal, ninguém mais fala faroês no mundo. A língua é originária do idioma viking e parente próxima do islandês; sua pronúncia é complicadíssima para um alfabeto que inclui uma letra estranha e bem frequente, ð , que simplesmente não tem som, tal qual o nosso h.
Costa de Húsavik, na ilha de Sandoy |
Passei lá cinco dias inteiros além dos meios dias de chegada e saída, sempre hospedado na capital Tórshavn. O acesso a Faroé é um problema. Além do ferry que aporta após singrar as águas revoltas do oceano, só há uma única companhia aérea que serve o arquipélago, a faroesa Atlantic Airways, e existem saídas habituais de poucas cidades: Edimburgo, Bergen, Reykjavik e algumas cidades dinamarquesas, incluindo a capital Copenhague. Devido ao monopólio as passagens não são lá muito baratas. Uma consequência direta da pouca oferta de voos é a baixa presença de turistas no país - lojas de suvenires são artigo raro. Outra é a maior dificuldade dos brasileiros para chegarem lá, pois nenhuma dessas cidades tem voo direto do Brasil, obrigando a fazer pelo menos um pernoite para a viagem não ficar muito cansativa. Acabei montando meu roteiro com paradas em Edimburgo na ida e em Bergen na volta. Achei o serviço da Atlantic bem satisfatório, com os voos em Airbus de uma hora e vinte minutos de duração saindo sem atraso e com lanche gratuito e gostoso, oferta cada vez mais incomum nas companhias aéreas europeias nos dias de hoje.
Realmente a melhor forma de se conhecer os recantos das ilhas é alugar um carro, mas devido à minha aversão a dirigir no exterior, busquei um plano alternativo e contratei tours diários através da Tora Tourist, cujo dono Sámal era o guia em todas elas. As quatro excursões que fiz foram boas e o guia veterano era bastante competente; fiquei satisfeito e foi um fator essencial para eu ter adorado o país. Esta era a única companhia que oferecia tours na primeira quinzena de junho (a temporada de excursões costuma ir de junho a agosto), e fechei as excursões pelo seu site, www.tora.fo. Quando recebi o e-mail de confirmação vieram junto instruções para transferência bancária de pagamento que me pegaram de surpresa, pois não havia nada mencionado sobre isso no site. Para piorar, isto aconteceu no início do ano, quando estava vigorando aquela taxa imoral de 25% sobre transferências para o exterior. Escrevi para a Tora explicando a situação e concordaram que eu pagasse o valor em coroas só em Tórshavn, durante a primeira excursão.
Além disso usei ônibus intermunicipais para visitar algumas outras localidades. Os horários são um pouco limitados e por isso se deve consultá-lo com antecedência pelo site www.ssl.fo/en para não se ficar preso numa vila sem possibilidade de volta e ter que chamar um táxi da capital, o que não sai barato.
Com toda essa movimentação, pisei em seis das dezoito ilhas e avistei outras dez. Faltaram apenas duas para poder dizer que vi todas as Ilhas Faroé. Certamente teria conseguido o intento se tivesse usado o helicóptero para me locomover entre elas (um sistema subsidiado pelo governo com preços muito mais baratos do que se imagina, apresentando a vantagem adicional de oferecer vistas fabulosas).
A imensidão gramada dos campos ao redor da vila de Gásadalur na ilha de Vágar |
Realmente a melhor forma de se conhecer os recantos das ilhas é alugar um carro, mas devido à minha aversão a dirigir no exterior, busquei um plano alternativo e contratei tours diários através da Tora Tourist, cujo dono Sámal era o guia em todas elas. As quatro excursões que fiz foram boas e o guia veterano era bastante competente; fiquei satisfeito e foi um fator essencial para eu ter adorado o país. Esta era a única companhia que oferecia tours na primeira quinzena de junho (a temporada de excursões costuma ir de junho a agosto), e fechei as excursões pelo seu site, www.tora.fo. Quando recebi o e-mail de confirmação vieram junto instruções para transferência bancária de pagamento que me pegaram de surpresa, pois não havia nada mencionado sobre isso no site. Para piorar, isto aconteceu no início do ano, quando estava vigorando aquela taxa imoral de 25% sobre transferências para o exterior. Escrevi para a Tora explicando a situação e concordaram que eu pagasse o valor em coroas só em Tórshavn, durante a primeira excursão.
O cais da marina e a torre da catedral da capital Tórshavn |
Além disso usei ônibus intermunicipais para visitar algumas outras localidades. Os horários são um pouco limitados e por isso se deve consultá-lo com antecedência pelo site www.ssl.fo/en para não se ficar preso numa vila sem possibilidade de volta e ter que chamar um táxi da capital, o que não sai barato.
Tinganes, a parte antiga de Tórshavn, fundada pelos vikings |
Com toda essa movimentação, pisei em seis das dezoito ilhas e avistei outras dez. Faltaram apenas duas para poder dizer que vi todas as Ilhas Faroé. Certamente teria conseguido o intento se tivesse usado o helicóptero para me locomover entre elas (um sistema subsidiado pelo governo com preços muito mais baratos do que se imagina, apresentando a vantagem adicional de oferecer vistas fabulosas).
Nos próximos posts vou detalhar cada um dos lugares que visitei e que me deixaram recordações de uma viagem verdadeiramente inesquecível. Como de praxe, vou fechar a série com um post relacionando todas as dicas para viajar a Faroé.
⏬ Posts sobre Faroé publicados no blog:
⏬ Posts sobre Faroé publicados no blog:
Postado por Marcelo Schor em 20.08.2016
Adorei o post! Muito interessante a paisagem... difícil imaginar ausência de árvores! Obrigada por compartilhar! Beijos
ResponderExcluirValeu, Juliana. Esse é um daqueles lugares em que a gente tem que se beliscar para ter certeza que não está sonhando.
ExcluirOi, Marcelo. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
Obrigado, Nat.
ExcluirÉ sempre bacana ter nossos posts indicados no Viaje na Viagem.