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Rio: Visita ao Palácio Guanabara


Frente do Palácio Guanabara

           O Palácio Guanabara é a sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, e no ano passado passou a estar aberto a visitação em dois sábados por mês. Localizado no bairro de Laranjeiras na zona sul do Rio, o palácio é vizinho de um dos clubes de futebol mais queridos dos cariocas, o Fluminense. Nos seus mais de 160 anos de existência passaram por ele algumas das maiores personalidades históricas do Brasil.
  
Palácio Guanabara e seus jardins, À direita, a arquibancada do clube tricolor - fonte: folheto de divulgação

              Este é um daqueles programas culturais bem legais que se pode fazer no Rio, mas que ainda recebem pouca divulgação. Para agendar a visita gratuita, basta acessar o site http://visitaguiada.casacivil.rj.gov.br/VisitaGuiada. Ao preencher o formulário são oferecidas as opções de datas e horários nos sábados. Apesar de ter me inscrito com um mês de antecedência, só recebi a confirmação por e-mail no início de setembro, alguns dias antes da data da visita, mas segundo a responsável houve um problema no processamento do sistema que retardou o envio das confirmações. 


Fachada do palácio, encimada pelo brasão da República

             A bela construção neoclássica da Rua Pinheiro Machado (que no século XIX se chamava Rua Guanabara, daí a denominação) foi erguida em 1853. Foi vendida doze anos depois à família imperial, passando a servir de residência para a Princesa Isabel e seu marido, o Conde d'Eu. O palácio foi nomeado então Paço Isabel. Para acesso da Princesa Isabel à praia, em frente foi aberta a Rua Paissandu, até hoje famosa pelas suas palmeiras imperiais, plantadas por requisição da herdeira do trono. O Palácio foi confiscado pelo governo pouco após a Proclamação da República (a família imperial tem processo para reincorporação que ainda hoje corre na Justiça), sendo ao longo das décadas seguintes usado como residência por  presidentes como Washington Luís e Getúlio Vargas. Virou sede da Prefeitura e com a transferência da capital do país para Brasília, passou a sediar em 1960 o Governo do Estado da Guanabara, que quinze anos mais tarde se fundiu ao Estado do Rio. 

             Em 2011 o Palácio foi inteiramente reformado sob um trabalho intenso de restauração, voltando a ter a aparência de cem anos antes. Pessoalmente eu preferia a cor branca da fachada que existia antes da reforma, mas o bege atual é a cor original da construção, descoberta após a retirada das camadas posteriores de pintura.


Escada de acesso ao pavimento superior, destacando-se ainda o piso antigo do andar térreo.

             Estava bem curioso com a visita, uma vez que por décadas passo pela porta do palácio e sempre ouvi falar da beleza dos jardins nos fundos. Os tours são conduzidas por alunos do curso de Turismo do Senac, que desta forma já vão treinando na atividade. Fui recepcionado por uma das alunas, que após checar minha inscrição me solicitou que aguardasse o início do tour num espaço de entrada lateral do Palácio, onde o piso antiquíssimo em mosaico já chamava a atenção.


Um dos guias dá explanação no Salão Nobre

            O grupo de oito pessoas iniciou a visita pelo segundo andar, onde se concentram os salões imponentes do palácio. O primeiro, o mais belo deles, é o Salão Nobre, onde a Princesa Isabel e posteriormente os presidentes ofereciam suas recepções. Hoje a sala é ainda usada para eventos estaduais importantes. A mobília é uma réplica da existente na época, e as paredes estão adornadas por pinturas retratando alguns presidentes que passaram pela edificação, incluindo Campos Sales, Delfim Moreira, Getúlio Vargas e Gaspar Dutra. O quadro "Morte de Estácio de Sá", pintado em 1911, enfeita o salão, misturando o fundador da cidade do Rio morto em 1567 a outros protagonistas históricos da época, como Arariboia e Padre José de Anchieta.


Detalhe do Salão Nobre

             A segunda sala é conhecida como Salão Verde devido ao mármore esverdeado. Foi decorada por Getúlio Vargas e por isso oficialmente tem o seu nome. É nesse salão que são assinados convênios e feitas entrevistas com a imprensa.


O Salão Verde

             Já na terceira sala as fotos são proibidas. Trata-se do Gabinete do Governador, o escritório do governante do Estado. É denominado Salão Estácio de Sá e conta com a mesa de trabalho que serviu a antigos presidentes da República. Só pudemos vislumbrar a sala a partir de sua porta, não sendo obviamente permitido entrar nela.  Aqui aconteceu uma coisa curiosa, o folheto distribuído indica que o quadro da morte de Estácio de Sá se situa nessa sala; provavelmente houve alguma troca recente e não atualizaram o texto - no seu lugar a guia nos indicou uma pintura sobre a abdicação de D. Pedro I.

Pátio interno do palácio

                 Descemos então ao andar térreo, onde vislumbramos a Sala Pé de Moleque. Durante a reforma do Palácio, ao se escavar o chão foi descoberto um piso de pé de moleque, calçamento usado nos tempos coloniais. Pelo piso, provavelmente aqui ficava o alojamento de escravos. Hoje a sala tem um chão de vidro através do qual se pode apreciar o pé de moleque original.


A sala Pé de Moleque, com o piso original alguns centímetros abaixo do vidro.

                Terminada a visita ao interior do palácio, fomos encaminhados aos jardins, onde tivemos uma surpresa. Nos aguardando estava uma orquestra do Programa de Ação Social pela Música, que atua em comunidades carentes. Jovens tocando instrumentos como violinos e violoncelos nos brindaram com um minirrecital  que incluiu em seu repertório a Asa Branca de Luiz Gonzaga e um tango de Astor Piazzolla. Bacana!


O condutor rege os jovens da orquestra no pátio do palácio

          Ao fim do lindo concerto, pudemos passear pelos amplos jardins da retaguarda do palácio, cercados pela mata da Serra da Carioca. Da época da Princesa Isabel restam palmeiras imperiais que formam uma fileira dupla, além de algumas mangueiras. O restante data da reforma do jardim efetuada no início do século XX pelo paisagista francês Paul Villon, que o projetou seguindo elementos geométricos, em voga naquele período. Uma certa similaridade com os jardins da Praia de Botafogo, a algumas centenas de metros de distância, não é coincidência - também foram desenhados pelo paisagista. 


Os jardins do Palácio Guanabara

             O elemento principal do parque é a Fonte de Netuno, acompanhada por estátuas de crianças montadas em golfinhos, animais que por sinal simbolizam a cidade e estão presentes na sua bandeira. Infelizmente o lago do chafariz estava seco, sem o jorro d'água. Em cada canto do gramado que circunda a fonte, quatro estátuas representam as estações do ano. Um belo conjunto formando o jardim, que inexplicavelmente não é aberto à população. 

A Fonte de Netuno

            Encerramos a visita de pouco menos de uma hora de duração com a pequena e singela capela do palácio, construída em 1946 a mando de Carmela Dutra, a esposa de Gaspar Dutra. Carmela viria a falecer um ano depois, motivando o abandono do palácio como residência pelo então presidente. Dedicada a Santa Teresinha, esta era a única parte do complexo que eu já conhecia, pois é aberta ao público para eventos religiosos e um amigo meu se casou ali há alguns anos.

           O jardim fronteiro do Palácio, onde se encontra a capela, era bem maior, mas a duplicação da Rua Pinheiro Machado devido à construção do Túnel Santa Bárbara no início da década de 60 acabou comendo uma boa parte dele. Como curiosidade, havia ainda uma rua que separava o palácio do Fluminense. A rua acabou desaparecendo com a construção da arquibancada do estádio há quase cem anos, e o clube desde então está colado ao palácio. 


Capela de Santa Teresinha

          A residência oficial do Governador também fica localizada no bairro de Laranjeiras, a alguns quarteirões de distância. O Palácio das Laranjeiras se ergue sobre uma pequena colina e foi construído na década de 20 como residência do milionário Eduardo Guinle. Este palácio está sob reformas, e segundo me falaram no tour guiado, deve ser aberto também para visitação no próximo ano. Parte dos seus antigos jardins hoje forma o Parque Guinle,  uma área pública no vale adjacente com vegetação abundante e lago frequentada pelos moradores das redondezas. Bem aprazível, o parque foi originalmente também projetado por um paisagista francês, sendo depois redesenhado por Burle Marx. 

O portão na entrada do Parque Guinle

            Ao seu redor encontram-se prédios projetados no final dos anos 40 pelo arquiteto Lúcio Costa.  Marcos do modernismo brasileiro, são conhecidos pela sua fachada sobre pilotis que coloca lado a lado cerâmica vazada e brises verticais de madeira. Originalmente seriam seis prédios envolvendo o parque, mas somente os três mais próximos ao portão de entrada acabaram sendo construídos. Os edifícios formam um conjunto muito harmonioso com o parque. Há quem considere este trabalho um embrião das superquadras de Brasília, concebidas anos mais tarde pelos mesmos arquiteto e paisagista.  

Um dos prédios projetados por Lúcio Costa

       No próximo post, voltamos à "programação normal" do blog, continuando a saga das exóticas Ilhas Faroé. 

⏬ Outros posts publicados no blog sobre o Rio de Janeiro:
 Postado por  Marcelo Schor  em 27.09.2016 


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