As casas coloridas do Vágsbotn, junto à marina de Tórshavn |
Tórshavn (soa como tóuch-raun) é a capital das Ilhas Faroé. A cidade é uma das menores capitais europeias. Bastante antiga, foi fundada pelos vikings no século IX. Este fato se reflete na sua denominação, que significa "Porto de Thor" em faroês, uma homenagem ao deus nórdico do trovão - o pessoal da Marvel ainda não deve ter ouvido falar disso, senão já teria usado a cidade em alguma trama dos Vingadores...
Em termos de atrações, Tórshavn funciona como uma antítese do restante do país. Todos visitam Faroé para conhecer sua natureza ímpar, mas a capital tem como ponto forte atrações arquitetônicas, históricas e museus, além de ser uma base excelente para a estadia no país, com acesso fácil às vilas do interior por estrada ou barco.
Em termos de atrações, Tórshavn funciona como uma antítese do restante do país. Todos visitam Faroé para conhecer sua natureza ímpar, mas a capital tem como ponto forte atrações arquitetônicas, históricas e museus, além de ser uma base excelente para a estadia no país, com acesso fácil às vilas do interior por estrada ou barco.
A viagem do aeroporto situado na ilha vizinha de Vágar até Tórshavn demora 40 minutos por automóvel. No site da Atlantic Airways há um aviso informando que a cada voo que chega em Faroé (são poucos por dia), disponibilizam um ônibus da linha 300 na saída do aeroporto, ao custo de 90 coroas. Seguro morreu de velho, então fui checar no site da empresa de ônibus e, surpresa! a saída mais próxima era mais de duas horas depois. Enviei um e-mail para lá e confirmaram que não haveria ônibus para recepcionar os viajantes vindos de Edimburgo (não entendi o motivo da discriminação contra os turistas vindos da Escócia, mas azar o meu). Como não tinha certeza se encontraria táxi disponível no aeroporto, reservei um shuttle pela internet por 200 coroas, o que não é tão caro se compararmos ao preço do ônibus. O táxi do shuttle transporta até quatro passageiros para os hotéis de Tórshavn em esquema de transporte compartilhado, que funcionou perfeitamente.
Falando em hotéis, me hospedei no Hotel Tórshavn. Pelo que cobraram, achei a hospedagem cara, mas os preços em Faroé são altos mesmo. A localização não podia ser melhor, ao lado da rua de pedestres e da praça principal da cidade. Inicialmente tinha pensado em visitar o país na primeira semana de junho, mas levei um baita susto ao consultar os sites de reserva de hotéis, pois não havia mais vagas, isso com seis meses de antecedência, e por isso transferi a viagem para a semana seguinte - sorte que não havia comprado ainda as passagens. Depois descobri que a cidade estava cheia no fim de semana original devido à maratona de Tórshavn, que aconteceu em 5 de junho. Em qualquer época a oferta de hospedagem também não é alta, há somente três hotéis no centro propriamente dito, com um outro um pouco afastado, situado à beira-mar. Já o melhor hotel, o Føroyar, fica longe, três quilômetros morro acima, uma estadia inviável sob o meu ponto de vista para quem não dispõe de condução própria. O Hotel Tórshavn possui um restaurante muito bom, o Hvonn, que recomendo. Curiosamente o Hvonn possui uma filial no estilo fast food a preços mais módicos no único e pequeno shopping da cidade, o SMS, situado perto do parque.
Mesmo sendo a maior cidade do país (aliás, um dos poucos lugares que dá para chamar de cidade e não de vila), Tórshavn é bem pequena, com 13.000 habitantes - os 19.000 propalados moradores correspondem a todo o município, espalhado por quatro das dezoito ilhas do arquipélago. Tórshavn não tem a menor cara de capital, não tendo perdido o jeito de vila do interior. O centro é compacto e todas as atrações podem ser conhecidas a pé, com a exceção importante do imperdível Museu Nacional. E uma caminhada pelas suas ruas tranquilas revela quintais de casas com galinhas, patos e, claro, ovelhas, a poucos quarteirões do hotel.
Tórshavn não foge àquele padrão low profile comum aos países nórdicos, onde os prédios públicos não aparentam a importância das suas funções. Um dos exemplos maiores desta "humildade" arquitetônica é a Catedral, localizada praticamente em frente ao hotel, numa das ruelas de acesso à cidade velha. A construção bonita e simples de madeira branca data de 1788 e só assumiu o status de catedral há 26 anos. Vale a pena permanecer em Tórshavn nos ingratos horários de visitação (terça a sexta à tarde) para apreciar o interior agradável da igreja, onde não podia faltar o barco habitual pendendo do teto. Outra alternativa é comparecer a concertos que eventualmente acontecem à tardinha; foi o que fiz, assistindo a uma belíssima apresentação gratuita de clarinete dos alunos da escola de música local, tocando peças de música clássica e tradicional acompanhados por uma pianista. A única parte entediante foram os discursos do professor entre as apresentações, obviamente no idioma faroês, do qual eu não compreendia nada.
O largo do Hotel Tórshavn fica junto ao cais da marina, o Vágsbotn, a parte mais fotogênica da capital. O cais guarda uma semelhança espantosa com o famoso Nyhavn de Copenhagen, pelos seus antigos armazéns de colorido variado à beira da água. Assim como a atração dinamarquesa, aqui também se encontram alguns (poucos) bares e restaurantes onde se pode bebericar de frente para os barcos. Este é também o ponto onde os pescadores vendem sua mercadoria em mesas armadas, em horário aleatório. Não dei a sorte de presenciá-los em ação.
Se há um lugar que todos devem conhecer na capital, este é a cidade velha, que ocupa a Península de Tinganes, espremida entre duas baías onde ficam a marina e o porto. As vielas estreitas e tortas do início da península contêm aquelas casinhas pretas pitorescas com janelas coloridas e teto de grama características do país. A cor negra corresponde ao piche que reveste a madeira, com o mesmo objetivo do teto vegetal, utilizado há séculos como protetor e isolante contra o frio e chuva que abundam em toda a região. É realmente extraordinário encontrar um cenário tão bucólico e silencioso a poucos metros da rua principal da capital. Aliás, esses tetos de turfa levantam uma questão interessante - como a grama é cortada. Será que passam aparadores sobre o teto?
Continuando a andar pelas ruelas rumo à ponta da península, de repente o preto das casas cede lugar à cor castanho-avermelhada que em inglês recebe o nome de maroon e que dá o aspecto característico à península. Estas construções de madeira em base de pedra com argamassa em sua maioria datam do final do século XVII em diante, devido a um incêndio devastador que arrasou a península em 1673. Hoje sediam os escritórios governamentais de Faroé. Uma construção específica data da época medieval, tendo escapado do incêndio, a antiga casa coletora de aluguéis. Dá para perceber a diferença das demais edificações de Tinganes, pois esta é uma casa de somente um andar.
Tinganes, cujo nome significa "lugar do parlamento", foi a localização do parlamento faroês por séculos a fio, desde a fundação pelos vikings no ano de 825, até o fechamento do parlamento pelos dinamarqueses em 1816 (voltaria em novo endereço quarenta anos depois). É um dos mais antigos parlamentos no mundo, junto com o Alþingi da Islândia. Assim como seu equivalente islandês, no início os membros do parlamento daqui também só se encontravam uma vez por ano ao ar livre para decidir todas as questões relevantes da região.
Caminhar por esta parte da cidade era sempre interessante e a cada final de tour eu voltava para apreciar a paz e beleza do local, normalmente deserto. Cada prédio em Tinganes tem uma placa identificadora afixada na parede de madeira, com nomes que enrolam a língua, como Bakkapakkhúsið e Vektárbuðin. No passado abrigaram os centros de monopólio comercial da coroa dinamarquesa. A maior das construções, a Skansapakkhúsið, é um antigo armazém erguido em 1749. Fica situado na ponta de Tinganes e atualmente abriga o escritório do primeiro-ministro, um faroês oriundo de Klaksvík erigido ao cargo no ano passado aos 42 anos. A posição de primeiro-ministro é conhecida como løgmaður, traduzido ao pé da letra como "homem da lei". Notável era a total ausência de guardas ou seguranças na área, não deixando pista alguma da importância do lugar.
É sempre bom lembrar que as Ilhas Faroé são um território autogovernado dentro do Reino da Dinamarca, e conta com parlamento e primeiro-ministro próprios. Faroé nomeia dois deputados para o parlamento dinamarquês, mas Copenhagen não possui nenhum representante no parlamento faroês. Não custa admirarmos (e invejarmos) a quantidade enxuta de ministérios - são apenas sete, outra característica marcante do estilo de governo nórdico. Outro dado interessante: todos os impostos arrecadados no arquipélago são aplicados nas próprias ilhas, que recebem também um subsídio considerável vindo do governo dinamarquês.
Entre a Skansapakkhúsið e o mar existe um promontório de pedras muito menor do que eu imaginava pelas fotografias, com uma bandeira faroesa solitária tremulando num mastro fincado entre as pedras (é a bandeira da foto no post introdutório desta série). Uma pedra em especial, a meio caminho entre o mastro e o edifício, difere das demais. Ela contém uma gravação que uns dizem se tratar de um relógio solar viking relacionado à adoração do deus Thor, enquanto outros afirmam ser uma rosa dos ventos feita há apenas 450 anos. De qualquer forma, o entalhe é chamado de Relógio do Sol pelos habitantes. E é curioso observar que da sua janela o primeiro-ministro tem uma visão de uma figura evocativa dos antepassados dos faroeses.
Como o texto já está se alongando demais, paramos por aqui e focamos no lado mais moderno e cultural da capital no próximo post.
A Catedral de Tórshavn |
Tórshavn não foge àquele padrão low profile comum aos países nórdicos, onde os prédios públicos não aparentam a importância das suas funções. Um dos exemplos maiores desta "humildade" arquitetônica é a Catedral, localizada praticamente em frente ao hotel, numa das ruelas de acesso à cidade velha. A construção bonita e simples de madeira branca data de 1788 e só assumiu o status de catedral há 26 anos. Vale a pena permanecer em Tórshavn nos ingratos horários de visitação (terça a sexta à tarde) para apreciar o interior agradável da igreja, onde não podia faltar o barco habitual pendendo do teto. Outra alternativa é comparecer a concertos que eventualmente acontecem à tardinha; foi o que fiz, assistindo a uma belíssima apresentação gratuita de clarinete dos alunos da escola de música local, tocando peças de música clássica e tradicional acompanhados por uma pianista. A única parte entediante foram os discursos do professor entre as apresentações, obviamente no idioma faroês, do qual eu não compreendia nada.
O interior da Catedral |
O largo do Hotel Tórshavn fica junto ao cais da marina, o Vágsbotn, a parte mais fotogênica da capital. O cais guarda uma semelhança espantosa com o famoso Nyhavn de Copenhagen, pelos seus antigos armazéns de colorido variado à beira da água. Assim como a atração dinamarquesa, aqui também se encontram alguns (poucos) bares e restaurantes onde se pode bebericar de frente para os barcos. Este é também o ponto onde os pescadores vendem sua mercadoria em mesas armadas, em horário aleatório. Não dei a sorte de presenciá-los em ação.
Se há um lugar que todos devem conhecer na capital, este é a cidade velha, que ocupa a Península de Tinganes, espremida entre duas baías onde ficam a marina e o porto. As vielas estreitas e tortas do início da península contêm aquelas casinhas pretas pitorescas com janelas coloridas e teto de grama características do país. A cor negra corresponde ao piche que reveste a madeira, com o mesmo objetivo do teto vegetal, utilizado há séculos como protetor e isolante contra o frio e chuva que abundam em toda a região. É realmente extraordinário encontrar um cenário tão bucólico e silencioso a poucos metros da rua principal da capital. Aliás, esses tetos de turfa levantam uma questão interessante - como a grama é cortada. Será que passam aparadores sobre o teto?
As casas com teto de turfa em Tinganes |
Continuando a andar pelas ruelas rumo à ponta da península, de repente o preto das casas cede lugar à cor castanho-avermelhada que em inglês recebe o nome de maroon e que dá o aspecto característico à península. Estas construções de madeira em base de pedra com argamassa em sua maioria datam do final do século XVII em diante, devido a um incêndio devastador que arrasou a península em 1673. Hoje sediam os escritórios governamentais de Faroé. Uma construção específica data da época medieval, tendo escapado do incêndio, a antiga casa coletora de aluguéis. Dá para perceber a diferença das demais edificações de Tinganes, pois esta é uma casa de somente um andar.
Os prédios do governo em Tinganes |
A construção oriunda da época medieval, Leigubuðin |
Tinganes, cujo nome significa "lugar do parlamento", foi a localização do parlamento faroês por séculos a fio, desde a fundação pelos vikings no ano de 825, até o fechamento do parlamento pelos dinamarqueses em 1816 (voltaria em novo endereço quarenta anos depois). É um dos mais antigos parlamentos no mundo, junto com o Alþingi da Islândia. Assim como seu equivalente islandês, no início os membros do parlamento daqui também só se encontravam uma vez por ano ao ar livre para decidir todas as questões relevantes da região.
As casas de madeira castanho-avermelhada em Tinganes |
Caminhar por esta parte da cidade era sempre interessante e a cada final de tour eu voltava para apreciar a paz e beleza do local, normalmente deserto. Cada prédio em Tinganes tem uma placa identificadora afixada na parede de madeira, com nomes que enrolam a língua, como Bakkapakkhúsið e Vektárbuðin. No passado abrigaram os centros de monopólio comercial da coroa dinamarquesa. A maior das construções, a Skansapakkhúsið, é um antigo armazém erguido em 1749. Fica situado na ponta de Tinganes e atualmente abriga o escritório do primeiro-ministro, um faroês oriundo de Klaksvík erigido ao cargo no ano passado aos 42 anos. A posição de primeiro-ministro é conhecida como løgmaður, traduzido ao pé da letra como "homem da lei". Notável era a total ausência de guardas ou seguranças na área, não deixando pista alguma da importância do lugar.
O prédio do escritório do Primeiro-Ministro |
É sempre bom lembrar que as Ilhas Faroé são um território autogovernado dentro do Reino da Dinamarca, e conta com parlamento e primeiro-ministro próprios. Faroé nomeia dois deputados para o parlamento dinamarquês, mas Copenhagen não possui nenhum representante no parlamento faroês. Não custa admirarmos (e invejarmos) a quantidade enxuta de ministérios - são apenas sete, outra característica marcante do estilo de governo nórdico. Outro dado interessante: todos os impostos arrecadados no arquipélago são aplicados nas próprias ilhas, que recebem também um subsídio considerável vindo do governo dinamarquês.
O entalhe na pedra na ponta de Tinganes |
Entre a Skansapakkhúsið e o mar existe um promontório de pedras muito menor do que eu imaginava pelas fotografias, com uma bandeira faroesa solitária tremulando num mastro fincado entre as pedras (é a bandeira da foto no post introdutório desta série). Uma pedra em especial, a meio caminho entre o mastro e o edifício, difere das demais. Ela contém uma gravação que uns dizem se tratar de um relógio solar viking relacionado à adoração do deus Thor, enquanto outros afirmam ser uma rosa dos ventos feita há apenas 450 anos. De qualquer forma, o entalhe é chamado de Relógio do Sol pelos habitantes. E é curioso observar que da sua janela o primeiro-ministro tem uma visão de uma figura evocativa dos antepassados dos faroeses.
Como o texto já está se alongando demais, paramos por aqui e focamos no lado mais moderno e cultural da capital no próximo post.
⏩➧ Este é o quinto post da série sobre Faroé. Para visualizar os demais, acesse Ilhas Faroé, um paraíso nórdico inexplorado.
Postado por Marcelo Schor em 08.10.2016
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