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Cruzeiro pelos fiordes noruegueses - Hardangerfjord in a Nutshell

O fiorde de Hardanger
       
          Muita gente já deve ter ouvido falar no Norway in a Nutshell, um dos passeios mais famosos da Noruega que oferece um cruzeiro pelos fiordes. O que seria então o Hardangerfjord in a Nutshell? Trata-se de um tour no mesmo princípio, pois na realidade existem três passeios que carregam a denominação que se tornou uma marca reconhecida no turismo europeu. Em comum, todos se propõem a levar os turistas hospedados em Bergen a conhecer um dos imperdíveis fiordes nas suas proximidades. O trajeto bate-volta faz uso de ônibus e trens para se chegar ao barco, e normalmente inclui alguma outra atração em terra antes de se retornar. Não há guia, você faz tudo por conta própria, mas apesar dos horários rigidamente encadeados com conexões bem apertadas que podem assustar alguns viajantes, tudo corre com precisão britânica, é só seguir as indicações no seu voucher. Alternativamente ao bate-volta, pode-se comprar o passeio para o percurso entre Bergen e Oslo ou vice-versa ou então quebrá-lo em vários dias.

            Junto com a compra do pacote vem o Fjord Pass, que dá desconto em várias atrações na Noruega. Tive a oportunidade de o usar por exemplo no funicular de acesso ao Fløyen em Bergen (desconto de 15%) e no Museu do Petróleo em Stavanger (25%). Basta imprimir o folheto nominal que chega em anexo por e-mail e apresentá-lo ao comprar o ingresso; convém verificar antes a lista das atrações contempladas, pois o símbolo do passe muitas vezes não aparece afixado na bilheteria.

O roteiro do cruzeiro pelo Hardangerfjord em pontilhado branco entre Norheimsund e Eidfjord - fonte: hardangerfjord.com

          Optei pelo Hardangerfjord (passeio disponível somente entre maio e setembro) por já ter conhecido o Sognefjord, o maior dos fiordes noruegueses, numa viagem que fiz na década de 90. Não me arrependi pela escolha, o passeio é lindíssimo. Ele contempla o cruzeiro pelo fiorde de Hardanger e ainda inclui uma visita à catarata e cânion de Vøringsfossen . Quando fiz a compra pelo site, me foram oferecidas duas versões do passeio; a que aparecia primeiro começava às 8:43 da manhã com o trem, enquanto a segunda madrugava um pouco mais, iniciando por ônibus e fazendo o percurso inverso. Os dois grupos se unem  na parada do barco em Ulvik, fazendo juntos a excursão à cachoeira. Pelo horário de partida do circuito, desconfiei que a segunda opção teria menos gente e a escolhi. Acertei em cheio, o barco estava bem vazio, permitindo tirar fotos à vontade no deque  superior sem disputar lugar na amurada, mas lotou em Ulvik com a entrada do segundo grupo na parte final do cruzeiro.

O barco deixa o porto de embarque, Norheimsund

            Este foi o roteiro impresso no meu voucher:
            07:25 Saída por ônibus de Bergen.
            09:00 Saída do cruzeiro em Norheimsund.
            11:45 Chegada do cruzeiro em Eidfjord e excursão até Vøringsfossen.
            14:40 Saída de Eidfjord no cruzeiro de regresso.
            15:15 Desembarque em Ulvik e retorno por ônibus e trem para Bergen.
            17:59 Chegada do trem em Bergen.

         Tanta conexão parece cansativa, e é um pouco, mas valeu cada níquel das 1.380 coroas norueguesas (cerca de 160 dólares) que desembolsei. Quem não gosta deste esquema rígido de pacote pode comprar cada trecho por conta própria, inclusive a excursão até a cachoeira, oferecida no barco - a atendente que também tomava conta do bar dentro do barco foi de assento em assento perguntando quem queria adquirir a excursão, mas informando que ainda sobravam poucas vagas.

Parada na vila de Utne

            Como comprei o pacote pela internet ainda no Brasil (me arrisquei, poderia ter chovido no dia, o que certamente estragaria o passeio), no dia anterior compareci à estação ferroviária de Bergen para pegar o voucher. No horário marcado e meio sonolento, embarquei em um ônibus intermunicipal na estação rodoviária, bem perto do meu hotel, rumo ao fiorde. O tempo estava ainda bem nublado e fazia frio, mas felizmente ao chegar a Norheimsund as nuvens já estavam se dissipando. Embarquei então no barco, como de hábito neste tipo de cruzeiro possuindo dois níveis, um inferior coberto em grande parte e com muitos assentos, e o superior, descoberto e ideal para se tirar fotos da paisagem maravilhosa.

Singrando o Hardangerfjord

             Os fiordes são braços estreitos de mar que avançam terra adentro, normalmente cercados por montanhas altas, e que foram formados pelo movimento de gelo na direção do mar, escavando as montanhas. A Noruega é provavelmente o país que contém o maior número destes acidentes geográficos, e a própria palavra "fiorde" tem origem norueguesa. O Hardangenfjord é o segundo fiorde em extensão no país e tem uma extensão de 180 quilômetros. À medida que vai avançando se divide em fiordes menores, cada um com nome próprio.

Parada em Lofthus

           No trecho em que o cruzeiro começou, o Hardangerfjord é relativamente largo com montanhas verdejantes ao seu redor. À medida que o barco ia se embrenhando no fiorde ao longo das duas horas e quarenta e cinco minutos seguintes, o fiorde ficava mais estreito e as montanhas se tornavam mais elevadas, com algumas apresentando picos salpicados de neve, aumentando ainda mais a beleza do passeio.

          Segundo os guias de viagem, se eu tivesse chegado à Noruega uma semana antes, teria pego ainda os pomares frutificados nas margens do fiorde. Entre maio e a segunda semana de junho macieiras e cerejeiras são uma atração à parte, especialmente ao redor da vila de Lofthus.

Passando pela Hardanger Bridge

          Ao longo do trajeto, o barco entra e sai pelos fiordes menores, parando nas vilas pequenas dispostas nas duas margens do fiorde: Herand, Utne, Lofthus, Kinsarvik e Ulvik, cada uma mais pitoresca que a outra. Antes de alcançar Ulvik, o barco passa sob a Hardanger Bridge, uma imponente ponte pênsil inaugurada em 2013 com 1.400 metros de comprimento, que possui um dos maiores vãos livres do mundo, e cujas torres alcançam 200 metros de altura.  Lotado após deixar Ulvik, o barco alcançou seu porto terminal em Eidfjord, onde descemos para tomar os ônibus que nos aguardavam para subir à cachoeira, a atração principal da região.

Ulvik, última parada do barco antes do desembarque em Eidfjord

           Eidfjord é um centro tradicional de atividades náuticas e de caminhada na região de Hardanger, e tem uma peculiaridade geográfica - a vila está situada junto à foz de um rio que une um lago ao fiorde. A estrada que sai da vila acompanha o rio e o lago, e nem é preciso falar que a paisagem é de encher os olhos. Fiquei com muita pena de não ter esticado minha estadia na vila e de não ter conhecido a região a pé ou por bicicleta. O turismo é uma atividade que vem sendo impulsionada em Eidfjord, e uma esperança para diminuir o decréscimo da sua população, que ocorre desde os anos 50.

Eidfjord, ponto terminal do cruzeiro

                Iniciamos então a segunda etapa, a excursão à cachoeira. Já era hora do almoço e antes de o ônibus subir a serra, paramos por uma hora e dez minutos no Hardangervidda Natursenter, um centro que exibe em seus três andares aspectos da vida animal do Parque Nacional de Hardanger. Lá fomos encaminhados a uma sala com cinco telas contínuas que formam uma curva de 220 graus, onde foi apresentado um filme com tomadas aéreas dos fiordes e montanhas noruegueses feitas de um helicóptero, daquelas que ao final você sai até anestesiado diante do esplendor do cenário apresentado.

             Ao término da sessão de mais de vinte minutos, tivemos pouco tempo livre para nos dividirmos entre a exposição e almoço/lanche no restaurante em frente. A entrada para o filme e a exposição estava incluída no pacote, mas a refeição não. A fome estava apertada pois tinha tomado o café da manhã muito cedo para pegar o tour e então "voei" para o restaurante. Sobrou pouco tempo para aproveitar a exposição, focada na natureza preservada da área, que é o maior parque nacional da Noruega, com mais de 3.400 km² de superfície. O parque é habitat de muitas espécies nativas, incluindo dez mil renas, e foi palco de um acontecimento triste em agosto passado, que repercutiu em todo o mundo: 323 renas, que estavam agrupadas sob uma tempestade forte, foram trucidadas por um raio, numa tragédia natural jamais vista.

Exposição no Hardangervidda Natursenter

               Rumamos então para a cachoeira de Vøringsfossen, subindo a serra numa estrada recheada de túneis e curvas. Chegamos finalmente ao Fossli Hotel, no alto do morro Mabobjorg, de onde se descortina uma vista sensacional da cascata e do desfiladeiro pelo qual o rio Bjoreia prossegue seu curso. Vøringsfossen tem queda de 163 metros. Além do cenário privilegiado, o hotel em estilo art nouveau (leia mais sobre esse estilo aqui) ficou famoso também por conta do compositor norueguês Edvard Grieg ter criado uma de suas obras primas fantásticas, Opus 66, no piano do hotel em 1896 quando lá residiu; o piano continua lá.

            Vøringsfossen consta no pacote do Hardangerfjord in a Nutshell como um reles complemento, mas achei o visual tão encantador que merecia dividir os holofotes com o personagem principal, o fiorde. Ressalte-se que o mirante e o caminho para se chegar até ele desde o hotel se encontravam em obras para aumentar a segurança dos turistas, já que nos últimos anos houve casos de quedas no local.

O desfiladeiro do rio Bjoreia

Cascata de Voringsfossen

                Retornamos no ônibus a Eidfjord para reembarcar na lancha. O folheto informava que eu disporia de vinte minutos para passear por Eidfjord mas não foi isso que aconteceu. O ônibus em que eu me encontrava chegou a poucos minutos da partida, e me deparei com uma aglomeração de pessoas na porta do barco, com uma certa confusão. Fomos informados que o barco estaria com superlotação (venderam tíquetes demais??)  e estavam decidindo o que fazer, antes de autorizar a entrada dos viajantes. Pensam que este tipo de coisa não acontece nos países nórdicos? Pois ocorre... Como eu pertencia ao grupo que desembarcaria logo na parada seguinte do barco, minha entrada foi autorizada logo em seguida, escapando do calor da discussão. Em alguns minutos, as pessoas restantes acabaram embarcando e o barco saiu no horário, aparentemente sem deixar ninguém para trás.

Caiaques no fiorde em Eidfjord

               O barco no regresso refez o trajeto de 35 minutos até Ulvik, por sinal uma das partes mais bonitas do cruzeiro. Neste ponto considero o roteiro proposto pelo pacote bem esperto - ter repetido todo o percurso da ida teria sido tedioso; dessa forma se volta por um caminho alternativo e mais rápido. Desembarquei em Ulvik e um minuto depois o ônibus apareceu na porta do terminal para o retorno a Bergen, enquanto o segundo grupo mais numeroso que tinha optado pelo início via trem prosseguiu no barco fazendo o cruzeiro até Norheimsund. Aconteceu então uma coisa curiosa, o ônibus percorreu a estrada que acompanhava o fiorde em velocidade parecida com o barco, emparelhando com ele por alguns quilômetros.

O ônibus acompanha por alguns quilômetros o barco onde eu estava anteriormente


               O ônibus nos deixou numa parada no meio do nada em Granvin e o motorista nos informou que deveríamos embarcar em outro ônibus que chegaria em alguns minutos. Esta conexão não estava discriminada no voucher e suscitou algumas reclamações do pessoal que estava com malas, oriundo do trajeto entre Oslo e Bergen ou que tinha escolhido quebrar o passeio em dois dias com pernoite na região do fiorde.

         O trajeto rodoviário ainda reservaria uma surpresa interessante. A Noruega é internacionalmente reconhecida pela engenhosidade dos seus túneis, que varam o país totalmente montanhoso. Entramos num túnel com 7,5 km de extensão que simplesmente se encontrava com outro túnel no meio do caminho, formando uma rotatória no cruzamento, que em cor azul mais parecia um disco voador. Totalmente singular! Depois descobri que este outro ramo do túnel desemboca justamente na  Hardanger Bridge, por baixo da qual tínhamos passado no cruzeiro pela manhã.

A rotatória no túnel Vallavik - fonte:zenisk.no

           Para alcançar Bergen, ainda fiz uma última conexão em Voss, pegando o trem que finalmente chegaria às seis da tarde. Aproveitei as horas restantes de sol para voltar a passear pela bela cidade (objeto do próximo post), que já tinha percorrido no dia anterior, só que com tempo bem nublado.


 Postado por  Marcelo Schor  em 21.12.2016           

4 comentários:

  1. Oi, Marcelo. Tudo bem? :)

    Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Bóia – Natalie

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    1. Obrigado, Natalie. Um feliz 2017 para você e toda a equipe do VnV.

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  2. oi Marcelo
    gostaria de sua opinião . estou indo pela primeira vez para a Noruega e gostaria de visitar algum fiorde. Li que vc já fez vários deles
    qual vc recomendaria ? o Norway at Nutchel ou este ultimo que vc fez ?
    obrigada
    Beatriz

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    1. Boa tarde, Beatriz.
      Na realidade, no caso do Norway in a Nutshell fiz apenas o cruzeiro de barco a partir de Gudvangen, não fazendo a viagem do trem. Por isso só posso opinar sobre esta parte. O cenário é mais dramático do que Hardanger, com escarpas mais altas. Nesse dia o céu estava muito carregado com muito vento, tirando muito do encanto do passeio. Por esta razão acabei gostando mais do cruzeiro pelo fiorde de Hardanger, onde o sol deu as caras e a paisagem estava mais variada. Os guias de viagem normalmente indicam o Norway in a Nutshell para quem ainda não conhece os fiordes, mas aí entra o gosto de cada viajante. Normalmente o cruzeiro por Hardanger é mais tranquilo, sendo menos cheio.

      abç.

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