Bryggen, o centro turístico de Bergen |
Bergen, situada na costa sudoeste da Noruega, é aquela cidade em que você une o útil ao agradável. Por estar cercada de fiordes tanto ao sul quanto ao norte, é um ponto de partida ideal para se conhecê-los. Além disso, a cidade, cercada por sete morros, é uma das mais bonitas do país, além de ser a segunda em população, com 250.000 habitantes.
Eu tinha somente um dia para conhecer as atrações de Bergen, já que o segundo dia da minha estadia estava reservado para o passeio ao fiorde de Hardanger. A previsão para este primeiro dia era de muitas nuvens com possibilidade forte de chuva, cena habitual em Bergen, onde chove em três de cada quatro dias. Alguns dizem ser a cidade com mais dias chuvosos de toda a Europa, tanto que até algum tempo atrás havia máquinas automáticas de venda de guarda-chuvas nas ruas. Para compensar, é uma das cidades menos frias da Noruega.
Subindo a encosta no funicular Fløibanen |
Diante desse cenário, resolvi começar meu roteiro subindo ao mirante do Monte Fløyen, antes que a chuva desse as caras - só acabou chovendo no final da tarde. A maioria dos turistas acessa o mirante por um funicular, o Fløibanen, cuja estação fica a poucos passos do mercado de peixe no porto. Dei sorte, pois cheguei ao terminal junto com alguns ônibus de excursões, o que me fez apertar o passo. A fila diante de mim estava pequena, com poucas pessoas aguardando a chegada do vagão, já atrás se formou uma multidão com os turistas das excursões, que deve ter levado um bom tempo para subir ao mirante pelo funicular, que não é lá muito grande. A passagem inteira ida e volta custava 90 coroas, mas tive desconto devido ao Fjord Pass que ganhei por ter adquirido o passeio do Hardangerfjord in a Nutshell. O trajeto morro acima durou poucos minutos, e como o vagão tem janelas e teto panorâmicos, já se pode apreciar a vista à medida que o funicular galga os trilhos.
Vista de Bergen desde o Monte Fløyen |
Dos 320 metros de altura do Monte Fløyen se tem vistas fantásticas da cidade e de toda a área. Pode-se apreciar todo o centro histórico, que se espalhou ao redor da enseada que forma o porto antigo, batizada de Vågen. O mirante com plataformas em vários níveis conta com um café/restaurante e é ponto de partida de trilhas que enveredam pela floresta e que oferecem caminhadas bem agradáveis. Pode-se descer de volta à cidade pelo funicular ou por uma das trilhas.
Troll no mirante do Monte Fløyen |
Voltando ao nível do mar, era hora de percorrer Bryggen, a área junto ao porto velho onde se encontra o cartão postal mais famoso de Bergen, os prédios de madeira com telhado pontiagudo que formam uma fileira de cores vivas variadas junto à orla. Os prédios foram construídos no início do século XVIII, após um incêndio que devastou quase todo o setor. Devido a eles, Bryggen recebeu o título de Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1979, um dos primeiros a serem concedidos. Onde ficavam os escritórios e alojamentos dos mercadores da Liga Hanseática, hoje existem restaurantes e lojas de suvenires frequentados pelos turistas.
Casario típico de Bryggen |
Bergen foi fundada em 1070, logo após o término da era viking, permanecendo por alguns séculos como a capital e maior cidade do país. A Liga Hanseática, que existiu entre os séculos XIII e XVIII, era uma associação de mercadores que dominou o comércio marítimo europeu, baseada principalmente nas cidades alemãs de Lübeck e Hamburgo. No seu período áureo a Liga estabeleceu entrepostos em várias cidades do norte europeu, sendo Bergen um dos principais. Bryggen exportava os produtos de pesca noruegueses e importava cereais dos países bálticos.
Bryggen na noite de sábado (dia do passeio ao fiorde) de meados de junho, quando os dias são bem longos |
Galeria de lojas nos fundos dos casarões da orla de Bryggen |
Quem quer aprender mais sobre a importância da Liga para a Noruega não pode perder o Museu Hanseático, no início da rua que dá no terminal do funicular. Espalhado por dois dos casarões da orla de Bryggen construídos em 1704 e que serviam de residência a mercadores, o museu ainda conserva alguma mobília da época da Liga. Toda a história da própria Liga e de Bryggen está traçada em seus aposentos através de painéis com textos, pinturas e fotos ilustrativos. Lá aprendemos curiosidades, como o fato de os mercadores da Liga serem proibidos de interagir socialmente com os habitantes de Bergen (Bryggen era praticamente um enclave estrangeiro dentro da Noruega, onde a língua vigente era o alemão). Engana-se quem pensa que a vida desses mercadores era fácil; mais assombroso ainda é saber que, devido ao receio de um incêndio, era proibido acender fogo nos prédios de madeira em Bryggen, sendo sua população obrigada a dormir nas noites gélidas do inverno norueguês sem qualquer aquecimento ou iluminação disponível. O fogo era permitido somente numa única casa, que servia de refeitório e ponto de encontro comunal para os mercadores.
O Museu Hanseático, criado há 144 anos, possui um anexo, o Schøtstuene, instalado a alguns quarteirões de distância justamente nessa casa comunal, com diversos aposentos preservados, especialmente o refeitório. O ingresso ao Museu Hanseático dá direito à visita aos dois prédios.
O refeitório do Schøtstuene, com o artigo proibido nas demais construções de Bryggen na época, a lareira. |
Verdade seja dita, apesar de lindo, o casario que compõe a orla de Bryggen tem uma aparência certinha demais, bem turística. A coisa muda de figura quando se ultrapassa os limites de Bryggen, chegando à parte mais antiga de Bergen, a chamada Bergenhus, antiga fortaleza real. O largo central da fortaleza, com piso de paralelepípedo, é onde encontramos uma construção do século XIII, o Håkon's Hall, o maior salão medieval ainda existente na Noruega. Parte principal do castelo real, nesse salão se decidia o destino do reino da Noruega naquela época, quando Bergen era sua capital. Seu nome é uma homenagem ao rei Håkon Håkonsson, que o construiu, e hoje eventualmente sedia banquetes oferecidos pela família real norueguesa. A fortaleza foi praticamente destruída junto com 130 casas por uma explosão de um navio holandês a serviço nazista, que estava carregado de dinamite em 1944, e foi restaurada após o final da guerra. Achei curioso me deparar novamente com este tipo incomum de catástrofe após ter sabido no ano passado sobre a explosão terrível que devastou Halifax, ao visitar o Maritime Museum da cidade canadense.
Falando em século XIII, outro local que existe desde essa época é o Mercado de Peixes, junto ao porto e ao escritório de turismo. Nas inúmeras barracas se vendem peixes como salmão e frutos do mar como lagostas em aquários, prontas para serem escolhidas e cozinhadas na frente do freguês; dito isso, não possui nada de diferente em relação a outros mercados similares existentes pelo mundo afora.
Após o almoço, nada como esticar as pernas numa boa caminhada. Escolhi a região de Strandsiden, do outro lado da enseada de Vågen, onde se pode andar por ruas bem mais desertas entre casas antigas de madeira. Um bom ponto de partida é a Igreja de Nykirken, construída em 1622, outro dos patrimônios da cidade danificado pela explosão do navio. Subindo-se a ladeira pequena à sua frente se chega à Ytre Markeveien, uma das ruelas mais representativas do estilo da região. Ao passar por essa rua, notei um grupo de turistas parado numa esquina. Como a casa era bem bonita, resolvi tirar uma foto com ela em primeiro plano. Um senhor do grupo, bastante emocionado, ao ver meu interesse se aproximou e contou que naquela casa seu pai havia morado quando criança antes de sua família emigrar para os Estados Unidos - devido ao desemprego houve uma grande emigração para a América do Norte no final do século XIX e nas primeiras décadas do século passado.
No caminho de volta de Strandsiden para o centro comercial, vale observar as ladeiras pitorescas que descem em direção ao porto. O trajeto passa ainda por algumas joias arquitetônicas como o Teatro Nacional, a principal casa de espetáculos de Bergen e que foi dirigido por Henrik Ibsen durante cinco anos. Há uma estátua do dramaturgo norueguês junto ao prédio.
A tarde já avançava e como os museus fecham cedo, normalmente às cinco, só tive tempo de conhecer mais um museu. Escolhi o Museu de Arte de Bergen, localizado junto ao parque da cidade, que é praticamente tomado por um lago artificial em forma de octógono. Espalhado por quatro prédios (conhecidos por KODE1 a 4 e dispostos lado a lado), o museu é focado em pinturas e outras formas de arte, e conta com obras de artistas noruegueses, com destaque para Edvard Munch, além de Picasso, Miró, Klee e outros expoentes europeus. O ingresso de 100 coroas valeu a pena. A única coisa chata foi o prédio KODE1, dedicado a mostras de arte decorativa, estar fechado para reformas.
Falando no parque, me hospedei no Hotel Scandic Byparken, bem pertinho dele, numa localização que achei muito adequada - as atrações podiam ser alcançadas a pé e o hotel ficava a alguns quarteirões do ponto do ônibus vindo do aeroporto e das estações rodoviária e ferroviária, que utilizei no passeio ao fiorde e na saída para Stavanger. O café da manhã era muito bom e o staff atencioso, mas o quarto era pequeno e o barulho do tráfego incomodava à noite, já que o hotel fica numa esquina movimentada por onde passam ônibus.
Conhecida como a capital cultural da Noruega, Bergen conta com inúmeros outros museus que não tive a possibilidade de visitar, como por exemplo a casa onde nasceu e morou o mais famoso compositor norueguês, Edvard Grieg, no bairro de Troldhaugen. Um dos mais soturnos é o Museu da Lepra, instalado num leprosário desativado onde trabalhou o Dr. Gerhard Hansen, nativo de Bergen; foi em sua homenagem que a doença ganhou a denominação atual, hanseníase.
⏬Quer saber mais sobre a Liga Hanseática e outras cidades que a formavam? Acesse os posts abaixo:
Rua Ytre Markeveien |
Após o almoço, nada como esticar as pernas numa boa caminhada. Escolhi a região de Strandsiden, do outro lado da enseada de Vågen, onde se pode andar por ruas bem mais desertas entre casas antigas de madeira. Um bom ponto de partida é a Igreja de Nykirken, construída em 1622, outro dos patrimônios da cidade danificado pela explosão do navio. Subindo-se a ladeira pequena à sua frente se chega à Ytre Markeveien, uma das ruelas mais representativas do estilo da região. Ao passar por essa rua, notei um grupo de turistas parado numa esquina. Como a casa era bem bonita, resolvi tirar uma foto com ela em primeiro plano. Um senhor do grupo, bastante emocionado, ao ver meu interesse se aproximou e contou que naquela casa seu pai havia morado quando criança antes de sua família emigrar para os Estados Unidos - devido ao desemprego houve uma grande emigração para a América do Norte no final do século XIX e nas primeiras décadas do século passado.
Ladeira típica descendo de Strandsiden |
No caminho de volta de Strandsiden para o centro comercial, vale observar as ladeiras pitorescas que descem em direção ao porto. O trajeto passa ainda por algumas joias arquitetônicas como o Teatro Nacional, a principal casa de espetáculos de Bergen e que foi dirigido por Henrik Ibsen durante cinco anos. Há uma estátua do dramaturgo norueguês junto ao prédio.
A tarde já avançava e como os museus fecham cedo, normalmente às cinco, só tive tempo de conhecer mais um museu. Escolhi o Museu de Arte de Bergen, localizado junto ao parque da cidade, que é praticamente tomado por um lago artificial em forma de octógono. Espalhado por quatro prédios (conhecidos por KODE1 a 4 e dispostos lado a lado), o museu é focado em pinturas e outras formas de arte, e conta com obras de artistas noruegueses, com destaque para Edvard Munch, além de Picasso, Miró, Klee e outros expoentes europeus. O ingresso de 100 coroas valeu a pena. A única coisa chata foi o prédio KODE1, dedicado a mostras de arte decorativa, estar fechado para reformas.
Lago Smalungeren, em foto tirada na frente do Museu de Arte |
Falando no parque, me hospedei no Hotel Scandic Byparken, bem pertinho dele, numa localização que achei muito adequada - as atrações podiam ser alcançadas a pé e o hotel ficava a alguns quarteirões do ponto do ônibus vindo do aeroporto e das estações rodoviária e ferroviária, que utilizei no passeio ao fiorde e na saída para Stavanger. O café da manhã era muito bom e o staff atencioso, mas o quarto era pequeno e o barulho do tráfego incomodava à noite, já que o hotel fica numa esquina movimentada por onde passam ônibus.
Conhecida como a capital cultural da Noruega, Bergen conta com inúmeros outros museus que não tive a possibilidade de visitar, como por exemplo a casa onde nasceu e morou o mais famoso compositor norueguês, Edvard Grieg, no bairro de Troldhaugen. Um dos mais soturnos é o Museu da Lepra, instalado num leprosário desativado onde trabalhou o Dr. Gerhard Hansen, nativo de Bergen; foi em sua homenagem que a doença ganhou a denominação atual, hanseníase.
Monumento aos Marinheiros Mortos no calçadão principal de Bergen |
⏬Quer saber mais sobre a Liga Hanseática e outras cidades que a formavam? Acesse os posts abaixo:
- Lübeck e sua herança hanseática
- A eclética Hamburgo: do hambúrguer aos Beatles
- Hanôver, uma cidade com passado nobre
- As muitas faces de Riga
- A cidade medieval de Tallinn
- Um réveillon sob a aurora boreal
- Cruzeiro pelos fiordes noruegueses - Hardangerfjord in a Nutshell
- Stavanger, a pitoresca capital norueguesa do petróleo
- Trondheim, a antiga capital da Noruega
Postado por Marcelo Schor em 03.01.2017
delicia recordar......estive ha 1 ano..maio 2016 por 1 dia de navio....mas pegamos muita chuva
ResponderExcluirLegal, você visitou Bergen algumas poucas semanas antes de mim. Conforme eu mencionei, Bergen é mesmo uma das cidades mais chuvosas na Europa.
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