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Saint Andrews, a terra escocesa do golfe


Saint Andrews, Escócia - AdV
Vista de Saint Andrews, com as ruínas da Catedral ao fundo

         Saint Andrews é uma simpática e bonita cidade com 17.000 habitantes situada na costa escocesa, a 83 quilômetros a nordeste da capital Edimburgo. Conhecida por seus campos de golfe e suas ruínas, Saint Andrews nos últimos anos aumentou sua notoriedade mundo afora por sediar a universidade onde estudou o Príncipe William.

            Visitei Saint Andrews numa excursão de bate-volta desde Edimburgo pela Rabbie's Tours, um tour que considerei bastante satisfatório. A excursão faz um percurso um pouco mais longo até Saint Andrews e vai parando em algumas vilas pitorescas do litoral do condado de Fife, uma daquelas regiões onde o tempo parece passar mais devagar, com paisagens bucólicas de pintura.

Mapa das localidades onde paramos

               O ponto de encontro para o início da excursão ficava situado perto do hotel, na Waterloo Place junto a um café da própria operadora. Logo deixamos Edimburgo numa van e cruzamos o estreito de Firth of Forth na localidade de Queensferry, onde tanto a ponte rodoviária quanto a ferroviária atraem imediatamente o olhar. A impressionante ponte ferroviária, a Forth Bridge, foi inaugurada em 1890 e se tornou um símbolo da Escócia, sendo nomeada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2015. É a segunda maior ponte ferroviária do mundo no estilo cantilever, onde as estruturas horizontais  só se apoiam nas vigas por um dos lados.

Forth Bridge, perto de Edimburgo - AdV
A Forth Bridge atravessando o estreito Firth of Forth

               Após atravessar a ponte rodoviária, adentramos o condado de Fife, na região conhecida como East Neuk ("Canto Leste") devido à sua posição geográfica, onde a pesca foi a atividade predominante por séculos. Duas características chamaram a atenção: a presença das casas típicas escocesas, de pedra com chaminés terminando em filtros múltiplos, e a maré extremamente baixa naquele dia, fazendo aparecer extensas faixas de areia na costa, com os barcos nelas encalhados.

Elie, uma das paradas em East Neuk

           Fizemos uma parada  um pouco mais longa em Anthruster, a maior das vilas do caminho, com um calçadão simpático à beira-mar, onde várias pessoas estavam sentadas nos bancos colocando a conversa em dia e comendo fish and chips no meio da manhã, numa cena tradicional britânica. Anthruster sedia o Scottish Fisheries Museum (Museu Escocês da Pesca), que conta toda a história da indústria pesqueira no país. Com o pouco tempo da parada, nem deu para conhecê-lo. Fica a dica para quem passar de carro pela vila.

Anthruster

            Alcançamos então Saint Andrews e a van fez um giro rápido pela centro. Nossa chegada coincidiu com a saída dos estudantes dos colégios, todos colorindo as ruas com o uniforme habitual britânico, onde a gravata é usada tanto por meninos quanto pelas meninas.

          O guia nos deixou numa das extremidades do centro, justamente no local pelo qual Saint Andrews é mais conhecida: o campo de golfe. O campo está plantado perto do mar, com trilhas o atravessando. Foi curioso ver pessoas caminhando despreocupadas pelas trilhas, totalmente alheias aos avisos nas laterais informando do perigo de serem atingidas por bolas em pleno voo rumo a algum buraco. Aliás, a famosa cena de abertura do filme ganhador do Oscar "Carruagens de Fogo" foi filmada na praia junto ao campo, West Sands. Ao som do tema inesquecível do filme, a longa cena termina justamente com os corredores atravessando o gramado do campo de golfe rumo à cidade.

O aviso curioso junto a uma alameda que cruza o campo de golfe

                São um total de sete campos, mas o mais icônico é mesmo o Old Course, o campo de golfe mais antigo de todo o mundo. Pois é, a versão moderna deste esporte reintroduzido no ano passado nos Jogos Olímpicos do Rio apareceu em Saint Andrews no século XV. No entanto, o golfe foi logo proibido pelo rei James II, por desviar os interesses dos súditos escoceses de outro esporte, o arco e flecha. Hoje o Royal and Ancient Golf Club, situado junto ao campo, é considerado a instituição líder do esporte, e até poucos anos atrás era responsável pelas orientações e regras seguidas por todos os países praticantes do golfe, com exceção dos Estados Unidos e do México. Hipertradicional, o Royal Club passou a permitir a admissão de membros do sexo feminino há somente dois anos. Ao lado da sua sede não podia faltar o British Golf Museum, para os aficionados e interessados em aprender a história do esporte.

Royal and Ancient Golf Cluf, sede de clube adjacente ao Old Course: cenário de "Carruagens de Fogo"

           O Old Course já recebeu por 29 vezes as  partidas do British Open, um dos quatro torneios-chave no mundo; nas últimas décadas tem sido sede do evento de cinco em cinco anos, tendo a última competição ocorrido em 2015. As edições de 2000 e 2005 foram vencidas pelo campeão americano Tiger Woods.

Casas no estilo tradicional escocês ao longo da Market Street

               O centro da cidade é bem compacto, constituído basicamente de três ruas paralelas, a North, a South e a Market, esta a rua mais comercial. Com algumas horas disponíveis antes da partida da van para bater pé por conta própria, pude caminhar bastante pelas suas ruas tranquilas e conhecer suas várias atrações ao longo do percurso.

Capela de São Salvador na Universidade de Saint Andrews

             Engana-se quem pensa que a fama de Saint Andrews se resume aos gramados de golfe.   Ao longo da North Street fica a sede de outra das instituições mais veneradas do país, a Universidade de Saint Andrews. Atualmente com 7.800 estudantes (a cidade possui 17.000 habitantes), foi fundada em 1410, sendo a terceira a surgir na Grã-Bretanha após Oxford e Cambridge. É também considerada  por muitos a terceira universidade mais prestigiada do Reino Unido. Recentemente voltou a ocupar o foco das atenções ao ser escolhida pelo Príncipe William para realizar seus estudos, onde se graduou como Mestre das Artes em 2005. Foi ali que ele conheceu sua esposa, Kate Middleton, alimentando as manchetes dos tabloides europeus.

Lower College Hall da Universidade de Saint Andrews, usado em cerimônias

            Se atualmente Saint Andrews é um reconhecido centro educacional e esportivo, no passado foi também o maior centro eclesiástico da Escócia. A Catedral é a maior prova desta história. Tendo sido a maior igreja escocesa já construída, o templo católico levou 150 anos para ser erguido e supostamente continha os restos de Santo André, padroeiro da Escócia (a cruz branca que atravessa a bandeira do país leva o nome do apóstolo). Completado em 1318, foi nesse templo por mais de dois séculos que os poderosos bispos e arcebispos comandavam os rumos do catolicismo escocês. Abandonada após a Reforma Protestante, grande parte da catedral acabou ruindo.

O complexo de ruínas da Catedral

             Quando nos aproximamos do que resta da Catedral, é impossível não nos assombrarmos com o seu esqueleto. Sobrou pouco, principalmente parte de sua fachada com 30 metros de altura e uma torre lateral. Quem for fã de golfe vai encontrar túmulos de campeões do esporte no cemitério adjacente.

             A entrada no complexo é gratuita, mas se paga para subir os 156 degraus da torre do século XII, pertencente ainda à igreja anterior, de Saint Regulus, o monge que teria trazido os ossos de Santo André para a Escócia. O esforço vale a pena, pois a vista lá do alto é inesquecível. O ingresso dá direito ainda a visitar o museu, onde relíquias e estátuas medievais dividem espaço com um sarcófago do século VIII, também encontrado no terreno.

Outro ângulo das ruínas da Catedral, com a torre de onde se tem a vista da cidade

          As ruínas da Catedral sem dúvida foram a atração que fez a diferença na visita a Saint Andrews. O visual das ruínas à beira-mar é bem impactante, e a decadência da construção, da glória à completa devastação, impressiona qualquer visitante e contribui para dar um charme único à cidade costeira.

As ruínas do Castelo de St. Andrews

            Por incrível que pareça, estas não são as únicas ruínas existentes em Saint Andrews. Da catedral uma curta caminhada pela rua que margeia a praia me levou ao Castelo de Saint Andrews. Também reduzido a ruínas, o castelo era a opulenta residência dos bispos de Saint Andrews. Construído no século XIII, o castelo foi destruído e reerguido algumas vezes, tendo servido também como prisão. Sem uso após a Reforma Protestante, acabou tendo no século XVII  o mesmo fim indigno da Catedral, aos poucos caindo aos pedaços.

             A entrada para o Castelo custou £5,50 e dava direito ainda a visitar uma mina escavada no solo rochoso por atacantes que queriam invadi-lo em 1546, além de uma exposição sobre a história da edificação. O tíquete combinado com a torre da Catedral saía por £8. 

A fachada parcialmente preservada do Castelo

          Já perto do horário marcado para a saída da van, retornei ao campo de golfe pela rua da costa, apreciando do alto a praia de areia deserta (faziam 14 °C) cortada pelas rochas.

         No trajeto de volta a Edimburgo, desta vez pelo interior de Fife, foi feita uma parada na vila de Falkland. Para quem acha o nome familiar, esta é a denominação que os ingleses dão às famigeradas Ilhas Malvinas, objeto de uma das guerras mais insólitas e inacreditáveis do século passado, ocorrida na década de 80 entre Reino Unido e Argentina, e vencida pelo primeiro. Pois é, as ilhas remotas no sul do Oceano Atlântico receberam este nome em homenagem a um dos Viscondes de Falkland.

           Aliás, o palácio da vila foi objeto de uma discussão inusitada no início do dia. O guia começou o trajeto em Edimburgo nos informando que até o ano passado a excursão incluía uma visita ao Palácio de Falkland. Como a principal reclamação dos viajantes era o pouco tempo passado em Saint Andrews, os organizadores decidiram retirar a visita ao palácio e estender a permanência em Saint Andrews. Decisão acertadíssima no meu ponto de vista. Não é que o guia propôs uma votação para reinserir a visita ao palácio naquele tour específico? Entre mais tempo em Saint Andrews e visitar um palácio desconhecido (pelo menos para mim, pois o guia não se deu ao trabalho de descrevê-lo), adivinhem o resultado? Por unanimidade, o palácio continuou descartado.
 
Rua principal de Falkland com as torres do Palácio à esquerda e a da Prefeitura, com o relógio

        Verdade seja dita, depois verifiquei que o Palácio de Falkland é um dos mais representativos da Escócia, tendo sido residência no século XVI da família real escocesa, os Stuart, que lá se dedicavam a caçadas nas florestas vizinhas. E se o primeiro campo de golfe a surgir fica em St. Andrews, Falkland não está atrás nesse quesito: no palácio se encontra a mais antiga quadra de tênis do planeta ainda em funcionamento, inaugurada em 1539! Além do mais, a pequena vila de pouco mais de mil habitantes é muito graciosa, e foi delicioso passear por meia hora pelas suas ruelas quase desertas. Um ótimo final para o meu último dia na Escócia antes de partir para as Ilhas Faroé.

Como chegar a Saint Andrews por transporte público:

            Não há estação ferroviária em Saint Andrews. Uma linha de ônibus liga a rodoviária de Edimburgo à cidade em trajeto de duas horas.


No próximo post, Edimburgo.


 Postado por  Marcelo Schor  em 15.02.2017 

4 comentários:

  1. Oi, Marcelo. Tudo bem? :)

    Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Bóia – Natalie

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  2. Deambulando constatamos por que Edimburgo é um dos Patrimônios da Humanidade :monumentos,igrejas,castelos ,casas com arquitetura sui generis.Seu relato me transportou no tempo .Parabéns.

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