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O Castelo de Edimburgo |
Principal atração da cidade, o
Castelo de Edimburgo na realidade é um conjunto de várias edificações que se ergue majestoso no topo da colina no final da Royal Mile, a rua que atravessa toda a Cidade Velha de leste a oeste. Emoldurando Edimburgo desde o século XII, o Castelo foi a sede do poder real durante o auge da monarquia escocesa. De quebra, além de conhecermos suas instalações e exposições históricas, ainda podemos apreciar a vista soberba oferecida por seus pátios.
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Jardins e Castelo de Edimburgo num final de tarde |
A entrada para o castelo custou £16,50. Cheguei um pouco após a abertura (horário de 9h30min às 18 horas de abril a outubro, nos demais meses fecha uma hora antes). Era uma quarta-feira de início de junho e perdi somente alguns minutos na fila da bilheteria; quando saí na hora do almoço a fila estava bem grande. Os ingressos também podem ser comprados on-line pelo site
www.edinburghcastle.gov.uk para uma data determinada, sem custo extra. Há visitas guiadas e gratuitas a cada meia hora, bem informativas, mas não as utilizei, percorrendo o castelo por conta própria.
Para mim um dos grandes atrativos de qualquer castelo europeu são seus portões e fachadas imponentes. Neste aspecto, o Castelo de Edimburgo se destaca, pois não tem apenas um portão, mas sim dois, em sequência. O portão mais externo, junto à bilheteria é conhecido como
Gatehouse, e é recente, construído em 1888, ou seja, já nasceu sem qualquer função defensiva. As estátuas que o adornam são de dois heróis escoceses da Idade Média, William Wallace e Robert the Bruce (intrigante é saber que este último destruiu todo o castelo com exceção da capela quando o invadiu em 1314 durante a guerra contra os ingleses).
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Portão externo do Castelo, o Gatehouse |
Após alguns metros de caminhada chega-se ao segundo portão. Erguido em 1574, foi por vários séculos a porta real de entrada do castelo, sendo chamado de
Portcullis Gate - "portcullis" é a palavra na língua inglesa que designa os portões de ferro pesados que caem do alto como grades em fortificações e que populam qualquer filme ou seriado televisivo com lutas medievais. Repare que ambos os portões são encimados pelo mesmo brasão de um leão vermelho feroz que é o símbolo da Casa Real da Escócia.
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Portcullis Gate |
Após o Portcullis Gate, chegamos numa área ampla, o pátio inferior, chamado de
Argyle Battery, de onde se tem as melhores vistas dos jardins e da cidade de Edimburgo. Em dias claros, o cenário alcança até o estreito de Firth of Forth. No pátio repousam alguns dos canhões que defendiam o castelo contra as hordas inimigas.
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Argyle Battery |
Dentre os muitos artefatos expostos, dois canhões concentram as atenções dos visitantes. O primeiro é o
One o´clock Gun, que a cada dia exceto aos domingos é disparado com pontualidade britânica (óbvio...) à uma da tarde. Originalmente esta atividade tinha como intuito orientar as embarcações ancoradas no estreito a acertar seus cronômetros. O canhão atual é de 1953, cujo modelo de 25 libras era o maior usado pelas tropas do Reino Unido na Segunda Guerra Mundial.
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O magro One o'clock Gun... |
Enquanto o One o'clock Gun impressiona pela sua espessura fina e elegância, acontece o oposto com o
Mons Meg, que pesa seis toneladas. Construído no século XV, podia atirar balas de 150 quilos a uma distância de três quilômetros e meio, exatamente a distância ao porto. Uma potência para a época! Serviu à Escócia por cerca de cem anos até sua aposentadoria, sendo então disparado em ocasiões festivas como o casamento da célebre Rainha Mary da Escócia em 1558.
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... e o gordo Mons Meg |
Quando vi o Mons Meg fiquei um pouco confuso, porque o guia que tinha em mãos e o folheto distribuído na bilheteria indicavam sua localização no pátio superior junto à capela de Santa Margarida. Depois descobri que o canhão deixou o castelo em 2015 para uma restauração completa, retornando quatro meses antes da minha visita em uma nova posição. Eu já tinha perdido a oportunidade de ver a ovelha Dolly, já pensou não poder visualizar também o outro grande ícone de Edimburgo?
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Vista de Edimburgo desde o Argyle Battery |
Prosseguindo ainda pela parte inferior do complexo, encontramos construções que abrigam algumas exposições. Uma das mais interessantes são as Prisões de Guerra, que mostra como viviam os homens aprisionados no calabouço na segunda metade do século XVIII, especialmente franceses e também americanos no período da Guerra de Independência dos Estados Unidos. Achei curioso muitos prisioneiros dormirem em redes no interior das celas. Outra curiosidade foi saber que os americanos eram considerados rebeldes e recebiam uma ração diária bem inferior aos detentos locais. Além de grafites desenhados, podem ser conferidos objetos feitos por eles, já que alguns eram verdadeiros artesãos trabalhando com ossos extraídos das rações e com palhas de camas. Os prisioneiros do calabouço se dedicavam ainda a outras formas de "arte" bem menos admiráveis, como a falsificação de notas de libra esterlina, utilizando tinta extraída também dos ossos. Como se pode ver, tais ossos tinham múltiplas utilidades...
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Prisões de Guerra |
Outra exposição é a do
Museu do Regimento Escocês (Royal Scots & Royal Regiment Museum), que retrata os quase quatrocentos anos de história deste famoso regimento europeu, o mais antigo da Escócia. Após a extinção da monarquia escocesa, o Castelo foi usado como instalação militar, o que explica a presença do museu. Os dioramas apresentados ao longo da mostra são particularmente interessantes, focando em cenas vívidas de batalhas, com expressões nas estátuas do calor da luta bem convincentes. Foi ótimo me inteirar em maiores detalhes da história desta divisão militar, exato um ano após assistir à reconstituição encenada na Fortaleza de Halifax, no leste canadense, também utilizada por regimentos escoceses no século XIX (
clique aqui para ler o post e comparar os uniformes e seus kilts).
Aliás, falando em Halifax, um fato inusitado: uma parte pequena do Castelo de Edimburgo pertence à província da Nova Escócia, cuja capital é justamente Halifax. Essa esquisitice remonta a uma tradição em que todo dono de terras devia jurar obediência ao rei escocês sobre sua porção de solo. Como a Nova Escócia - no século XVII colônia da Escócia - ficava bem longe de Edimburgo, a solução engenhosa foi declarar um pedaço do castelo como pertencente à Nova Escócia, para que o juramento fosse feito sem a necessidade da travessia do oceano. Aparentemente esta cessão jamais foi revogada e há até uma placa alusiva na muralha do castelo.
Atenção, por ser uma instituição particular distinta, embora com entrada gratuita, o horário de fechamento do museu antecede os dos portões do Castelo, sendo às 17h nos dias úteis e 17h30min nos fins de semana, durante os meses de verão.
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Estátua em cera na entrada do Museu do Regimento Escocês, com seu traje típico e gaita de foles |
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A expressão de fúria estampada na figura do soldado no Museu do Regimento Escocês |
Hora de subir à parte superior do complexo, a parte principal do Castelo, retrocedendo alguns séculos nas construções. Logo na entrada fica a
Capela de Santa Margarida, a construção mais antiga de Edimburgo, remontando ao século XII. Toda em pedra, passou séculos como depósito de munição até voltar a ser um templo religioso em 1845, e se destaca pelas cinco janelas estreitas contendo vitrais, quatro dedicados a outros santos e o último ao onipresente William Wallace. Santa Margarida da Escócia foi uma rainha escocesa que morreu no Castelo em 1093 e foi canonizada 160 anos mais tarde.
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Palácio Real |
Chegamos então à parte principal do Castelo, uma área quadrada com quatro construções dispostas ao seu redor. A primeira, a Casa do Governador, está fechada ao público. Ao seu lado, o
Grande Hall impressiona pelo seu teto imponente de madeira em barrotes, o mais antigo do tipo ainda existente no país, erguido há mais de 500 anos. Com seus 29 metros de comprimento, era o principal ponto de encontro e tomada de decisão do castelo na sua época áurea (há relatos de sessões do Parlamento no local), mas o salão também se tornou parte do quartel militar, tendo as tropas saído somente em 1886. Espalhados junto às paredes, encontramos armamentos e armaduras da época medieval.
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Grande Hall |
Prosseguindo no contorno da praça, chegamos ao
Palácio Real, que foi a sede do poder do trono escocês, com a mais famosa exposição de Edimburgo, a da
Sala das Joias da Coroa. O recinto no segundo andar onde as joias estão expostas é bem pequeno e é inevitável a formação de filas na escada estreita que leva até lá. Mesmo no tumulto e com a parca iluminação, dá para apreciar o cetro real e a coroa magnífica de ouro feita em 1540 com pedras preciosas e dezenas de pérolas. Há vinte anos a afamada
Pedra do Destino foi incorporada ao acervo do palácio. Símbolo da monarquia escocesa, é considerada por alguns como a pedra sobre a qual o patriarca bíblico Jacó repousou quando sonhou com a escada rumo aos céus. A rocha em arenito foi utilizada em coroações escocesas até ser carregada em 1296 pelos ingleses para o trono da Abadia de Westminster em Londres, onde também foi usada em cada coroação real, só retornando a Edimburgo exatamente 700 anos depois. No entanto, mantendo a tradição inglesa, deve retornar mais uma vez a Westminster na coroação do sucessor da Rainha Elizabeth II.
Fechando o círculo da praça, o
Memorial Nacional Escocês da Guerra é um panteão que homenageia os soldados dos regimentos escoceses mortos nos conflitos do século XX. Este prédio é bem mais recente que os demais da parte alta do Castelo, datando do século XVIII. É o único aberto a visitação onde, em sinal de respeito, não se pode tirar fotos em seu interior. Um final contemplativo para uma visita recheada de atrações ecléticas.
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Casa do Governador à esquerda e Memorial Nacional de Guerra à direita |
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Postado por Marcelo Schor em 15.03.2017
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