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Cruzeiro no Caribe - parada: Saint Martin

Praia de Baie Orientale em Saint Martin
Praia de Baie d'Orient em Saint Martin

             A terceira e última parada do cruzeiro pelo Caribe no Oasis of the Seas era a mais aguardada. Tínhamos o dia para descobrir as muitas belezas de Saint Martin, uma das ilhas mais divulgadas do Caribe. Saint Martin tem uma peculiaridade que a distingue das demais ilhas: tendo apenas 87 km², é a menor ilha do mundo dividida entre dois países. A parte meridional, Sint Maarten, teve dominação holandesa e desde 2010 é autônoma, mas ainda vinculada ao reino dos Países Baixos. Já sua parte setentrional, Saint Martin, pertence à França até os dias de hoje.

         A parte holandesa é mais urbana e desenvolvida, há resorts grandes, prédios mais altos e vida noturna com cassinos, ou seja, tem um jeito mais americanizado. Enquanto isso é na parte francesa que estão as praias e baías mais belas com recantos bucólicos, onde o ritmo costuma ser mais tranquilo e relaxado, com a gastronomia sendo um dos grandes destaques. Como era de se esperar, o euro é a moeda vigente na parte francesa, mas em Sint Maarten o que vale é o florim das Antilhas; o dólar é bem aceito em toda a ilha.

               Aliás a divisão do território pelas duas então potências foi objeto de muita discussão e tem uma lenda bem curiosa. Dizem que os representantes francês e holandês partiram de determinado ponto do litoral, cada um em uma direção. O ponto onde se encontrassem serviria para demarcar a fronteira entre as duas colônias. Antes da partida, compatriotas ofereceram gim ao holandês e vinho ao francês. O francês se saiu melhor, com o holandês cochilando no percurso; hoje quem consulta um mapa vê que a área francesa é maior, ocupando 54 km².

Volta à ilha no tour em St. Martin. A linha preta demarca o limite entre Saint Martin e Sint Maarten.

          Nosso navio aportou em Philipsburg, capital de Sint Maarten. Como as atrações da ilha estão bem espalhadas e dispunha apenas de poucas horas para conhecê-las, achei que desta vez o melhor seria pegar uma excursão. Reservamos on-line com antecedência junto à Bernard's Tours, bem mais barata que o tour semelhante oferecido pela Royal Caribbean. Tivemos alguma dificuldade para achar a tenda da Bernard Tours na saída do navio, próxima ao estacionamento -  a van saiu com um ligeiro atraso conosco e mais dois casais também do navio, o que não foi surpresa já que o horário de saída coincidia com o do atracamento no porto. Nas  cinco horas seguintes demos um giro pela ilha de Saint Martin no sentido anti-horário. O tour prometia parar nas duas praias mais famosas da ilha, uma em cada país, além da capital do lado francês, Marigot.

Vista de Oyster Pond em Saint Martin - Álbum de Viagens
Oyster Pond - o lado inferior da foto é francês, o superior, holandês.

               A van enveredou pelas estradas conservadas da ilha (e em mão tradicional de direção, o que facilita quem deseja alugar um carro). Rumamos logo de cara para a parte francesa. Se não fosse o aviso do motorista-guia, nem notaríamos que tínhamos passado pela fronteira, pois não há qualquer posto ou guarita. O lado leste da ilha é banhado pelo Oceano Atlântico, portanto tem mais vento e águas mais agitadas. Antes de chegarmos à praia onde nos banharíamos, fizemos duas paradas em mirantes. Primeiro paramos por alguns instantes para tirar fotos do panorama de Oyster Pond. Não se trata de uma praia, mas sim de uma marina e porto pitoresco de onde em alguns dias da semana saem ferries rumo à badaladíssima ilha de Saint Barth, também francesa, em viagem de 45 minutos. Oyster Pond é a prova viva da ausência de fronteiras - cada lado da baía pertence a um país, com a vila dividida entre Saint Martin e Sint Maarten.

Um iguana à beira da estrada 

            A segunda parada, logo a seguir e um pouco mais longa, foi em Coralita, uma praia sem banhistas mas com uma vista muito bonita da baía de Lucas e de St. Barth. Ao longo da estrada é comum encontramos também muitos iguanas. O réptil é muito comum em ilhas desta porção do Caribe e já tínhamos topado com alguns exemplares deles em Saint Thomas. Seu temperamento dócil faz muito sucesso com os turistas que visitam Saint Martin, tanto que dois destes animais ilustram o logotipo desenhado da Bernard's Tours no seu site.

Praia de Coralita em Saint Martin - Álbum de Viagens

Coralita e a Baía de Lucas

          Finalmente chegamos a Baie Orientale, uma das praias mais conhecidas e belas em Saint Martin. Com 1h40min de tempo disponível, deu para cair no mar e passear pela praia de três quilômetros de extensão. Também chamada pelo nome em inglês, Orient Beach, a praia não podia ser mais contrastante com a Emerald Beach de Saint Thomas. Águas agitadas, muitos banhistas na areia e na água, praticando também esportes náuticos variados. Pelo menos naquele dia as ondas avançavam areia adentro e em vários pontos o trecho entre as cadeiras e o mar era bastante exíguo.

Orient Bay em Saint Marten - Álbum de Viagens
Passeando pela orla de Baie Orientale

          A paisagem era de uma praia típica caribenha, com muitos coqueiros num sol radiante que finalmente tinha despontado. A ponta sul da praia, mais distante de onde ficamos, é conhecida por ser um point nudista, abrigando um resort para os praticantes. O topless também é uma prática comum nas praias do lado francês. Não é à toa que Baie Orientale já foi chamada de "a Saint Tropez caribenha".

            Do ponto onde estávamos dava para divisar a Ilha Pinel. A ilha de nome curioso para os brasileiros (na realidade Pinel era o sobrenome de um médico francês que denominou o hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro) é acessada por um barco que sai da praia de Cul-de-Sac, a próxima após Baie Orientale, ao preço de 7 dólares ida e volta. A ilha sem moradores é ideal para quem quer um pouco mais de tranquilidade, com praias calmas e paisagens bonitas, contando com um bar. Trilhas levam ao outro lado da ilha, com praias mais selvagens.

Orient Bay e Ilha Pinel em St.Martin - Álbum de Viagens
Outro panorama da praia de Baie Orientale. À direita a Ilha Pinel.

              Passamos então para o lado ocidental, o do Mar do Caribe, logo chegando à capital Marigot. Logo na entrada da cidade, a sucata de um navio no mar de um verde inacreditável suscita a imaginação. O que teria acontecido? Seria efeito do terrível furacão Luís, que devastou Saint Martin em setembro de 1995?

Destroços de navio em Marigot, St. Martin - Álbum de Viagens
O navio abandonado na chegada a Marigot

           Marigot, uma cidade de 6.000 habitantes me pareceu extremamente pacata naquela manhã de quinta-feira, com poucas pessoas e turistas passeando pela orla da marina, repleta de barcos. A van parou no estacionamento em frente ao mercado e tivemos parcos 40 minutos para perambular pela cidade. O mercado abre todos os dias, mas a maioria dos vendedores só comparece às quartas e sábados. Nestes dias dizem que o mercado se assemelha às feiras da Provença pela quantidade de especiarias apresentadas.

Marigot, capital de Saint Martin - Álbum de Viagens
Marigot e o Forte Louis no topo da colina

                Marigot é dominada pelo Forte  Louis, construído no alto do morro em 1789 no reinado de Luís XVI, que também foi quem nomeou Marigot capital de Saint Martin. O forte foi construído para defender os armazéns do porto que guardavam cana, rum e sal, e serviu à cidade até o século XIX, quando ingleses em guerra com os franceses invadiram a cidade a partir da ilha vizinha de Anguilla. Hoje resta pouco do forte, mas a vista lá de cima é soberba, alcançando Anguilla ao norte. Para minha tristeza, acabei não subindo até lá por ficar com receio de não ter tempo suficiente e atrasar a saída da van. Sem forte e sem mercado, a visita a Marigot ficou esvaziada, nos restando andar pelo calçadão da orla apreciando o mar e as construções típicas caribenhas.

Estátua homenageando a vendedora do mercado, situada à sua frente na orla de Marigot

               Reentramos o lado holandês passando pela maior laguna do Caribe oriental até alcançarmos Maho Beach. Esta praia é um dos cartões postais mais divulgados de Sint Maarten por um motivo inusitado. Maho está colada ao Aeroporto Princess Juliana (que foi rainha da Holanda de 1948 a 1980), o principal da  ilha, e na decolagem e aterrissagem os aviões passam rasantes sobre a cabeça dos banhistas. A praia em si é pequena e estava lotada àquela hora do início da tarde. Junto à praia, um bar enorme estava também com gente saindo pelo ladrão e música nas alturas. Certamente não era o meu tipo favorito de lugar. Nossa parada foi de 35 minutos e meus sobrinhos não perderam tempo e foram direto cair n'água, enquanto eu preferi me aboletar na varanda do bar aguardando uma aterrissagem digna de foto.

A placa assustadora junto à grade - depois não digam que não foram avisados!

              Na grade que separa o aeroporto da praia há até uma placa expondo o perigo que correm os banhistas. Só que a probabilidade de ser arremessado de encontro às pedras da praia é bem maior nas decolagens, e de qualquer forma o último acidente grave deste tipo aconteceu há 45 anos. Uma tabela em formato de prancha de surfe está afixada no bar com os horários de chegada, e registrar o avião sobre os banhistas é obrigação para os turistas-fotógrafos de plantão, tanto que o horário do nosso retorno à van foi marcado pelo guia de forma diferente: assim que o avião da Delta passasse (era o maior avião a chegar naquela faixa da tarde). A emoção era bem maior quando os grandes Boeings 747 da KLM serviam Saint Martin, mas eles deixaram de ser utilizados nesse voo três meses antes da nossa visita.😞

Atualização: Tragicamente, pouco mais de um mês após a publicação deste post, uma turista neozelandesa de meia-idade morreu ao ser atirada da grade pelo vento causado pela decolagem de um Boeing 737.

A chegada do avião sobre os banhistas em Maho Beach

              Após pegarmos um trânsito um pouco mais congestionado na área mais desenvolvida da ilha, típico do horário, completamos o círculo viário e voltamos a Philipsburg. O guia até perguntou se alguém gostaria de ficar na cidade, retornando ao navio a pé numa caminhada de uns quinze minutos. Ninguém quis, pois todos provavelmente estavam famintos como eu e loucos para aproveitar o bufê gratuito do navio. Depois, ao ver fotos da capital de Sint Maarten me bateu um arrependimento; Philipsburg, situada num istmo entre uma laguna e a baía, parece ser bem bonita, contando com prédios pitorescos e um calçadão em sua orla. Assim como as capitais anteriores, Nassau e Charlotte Amalie, também é ótima para compra de produtos.

Vista de Philipsburg

             O saldo final da excursão foi razoável. Achei que o guia deu poucas informações relevantes (não que ele falasse pouco, ao contrário). Registre-se que sendo nós uma família com crianças, considerei esquisito ele não nos avisar para evitar andanças pelo lado sul da Orient Beach. A lamentar ainda o pouco tempo disponível em Marigot, que me impediu de subir ao forte.

            Saint Martin me pareceu o tipo de lugar que se deve visitar com calma ao longo de alguns dias, para saborear cada diferença entre seus dois países. Numa escala de cruzeiro de poucas horas, obviamente isto foi impossível. Ficou a impressão de ter visto somente o trailer de um filme, sem poder assistir à fita.

⏩➧ Este é o quarto e último post da série sobre o cruzeiro ao leste do Caribe. Para visualizar os demais , acesse  Como é viajar pelo Caribe no Oasis of the Seas.
             

 Postado por  Marcelo Schor  em 07.06.2017 

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