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Rio: a bucólica ilha de Paquetá

A idílica Paquetá

          Paquetá é uma ilha no nordeste da Baía de Guanabara que, apesar de distar apenas alguns quilômetros por barco do centro do Rio de Janeiro, parece estar a anos-luz do burburinho da metrópole. Com 1,2 km² de superfície, 4.500 habitantes  e o formato aproximado de uma ampulheta, Paquetá é um recanto com jeito de cidade do interior, sem tráfego de veículos (exceto os de serviço). Com atividades como passeios de bicicleta ou caminhadas pelas suas ruas de saibro arborizadas, faz-nos retroceder algumas décadas no tempo. Prova viva disso foi ter presenciado a caminhonete de venda de botijões passando pela Praia José Bonifácio munida de um alto-falante que com intervalo de alguns segundos anunciava "Olha o gás!!!". Uma cena de décadas atrás sumida dos bairros do Rio - para quem não sabe, Paquetá oficialmente é um bairro carioca.


Praia José Bonifácio

          Paquetá é ligada por via aquática à Praça XV no centro do Rio. Durante os dias úteis a ilha é servida por catamarãs fechados e climatizados que levam 50 minutos no trajeto. Nos fins de semana, quando o número de turistas aumenta, os catamarãs são substituídos por barcas mais antigas, que atravessam a baía em 70 minutos. As barcas possuem janelas abertas e varandas por onde se pode fotografar os pontos turísticos do caminho, como a Ilha Fiscal  e a passagem sob a Ponte Rio-Niterói. Já os vidros do catamarã em que viajei não estavam limpos, atrapalhando eventuais fotos. Para consultar horários e preços acesse o site das Barcas; cariocas que possuam o cartão Bilhete Único pagam tarifa mais barata.

Pedra dos Namorados - reza o dito que se alguém ficar de costas para ela na areia e jogar três pedrinhas, caso pelo menos uma caia sobre a Pedra o amor desejado será correspondido, e melhor, eterno!

        Tendo nascido e crescido no Rio, frequentei Paquetá na minha infância e adolescência. A ilha na década de 70 tinha se tornado um destino popular de fim de semana entre os cariocas, graças à telenovela A Moreninha, baseada no romance do século XIX de Joaquim Manuel de Macedo. Estrelada por Nívea Maria, a novela gravada em Paquetá narrava a história da jovem Carolina, que lá morava e se apaixonava por um estudante de Medicina morador do Rio. Anos atrás nosso programa após a chegada pela barca era vestir roupas de banho nas cabines do Hotel Lido e cair na água da Praia José Bonifácio, reservando a tarde para longos passeios de bicicleta. Apesar da poluição atual da Baía de Guanabara, nos dias de hoje as estatísticas oficiais apontam que as praias do lado oeste são próprias para o banho, mas confesso que não teria coragem para cair n'água. Quanto às bicicletas, permanecem uma das atividades favoritas dos turistas, oferecidas (um tanto rodadas) para aluguel nas lojas perto da estação das barcas. E a constatação desta minha volta foi que felizmente a paisagem bucólica nas ruas mudou muito pouco em todas estas décadas que se passaram, possível fruto do isolamento da ilha.

Mapa da Ilha de Paquetá

             Para quem não quer se exercitar caminhando ou pedalando, há as "charretes elétricas", carrinhos elétricos conduzindo até cinco passageiros além do motorista, que substituíram há pouco tempo as charretes tradicionais a cavalo. Os condutores fazem o circuito pela ilha, parando nos principais pontos turísticos e contando curiosidades sobre eles. Além do mais, a introdução dos carrinhos trouxe a vantagem adicional de deixar as ruas mais limpas, diminuindo a necessidade de se olhar o chão para evitar que pisássemos em algum dejeto deixado pelos cavalos... Quando estive em Paquetá em junho de 2017, a hora da bicicleta estava em R$7,00, enquanto que a hora do passeio de carrinho saía por R$80,00 dividido entre os passageiros.

Charrete elétrica 

               Paquetá possui diversos pontos de interesse. A sinalização turística é eficiente, com diversas placas apontando a direção e as atrações propriamente ditas. Várias construções foram restauradas, enquanto outras estão em mau estado de conservação, como o Solar del Rei, antes uma das chácaras mais suntuosas de Paquetá que hospedou D. João VI em algumas ocasiões, e que sediava a biblioteca regional antes de sua interdição.

Praia Grossa

                       A história oficial da ilha começa com a expedição do francês Nicolas de Villegaignon (vide o post sobre a ilha de Malta onde falo desta figura dúbia da História) em 1555, que a descobriu habitada pelos índios tamoios. Já então passou a ser chamada pela sua denominação indígena, que significa "muitas pacas". Dez anos depois Estácio de Sá a conquistou  ao derrotar os franceses e com o tempo Paquetá passou a abastecer a Corte com produtos agrícolas e de pesca, além de cal extraída de um de seus morros. Acabou se tornando local de descanso para nobres, com saraus sendo realizados em suas chácaras grandes, com presenças ilustres como o compositor Carlos Gomes. Outra figura histórica ligada a Paquetá é o patriarca da Independência, José Bonifácio, que lá viveu dois anos a partir de 1829, exilado antes de assumir o cargo de tutor de D. Pedro II. A Casa de José Bonifácio ainda existe, e pode ser observada na praia que leva seu nome. Se não fosse a placa, jamais poderíamos supor sua importância histórica.

Caramanchão na Praia dos Tamoios

                Esta rica história está dispersa pela ilha, mas nenhum local é mais famoso que a Pedra da Moreninha, uma rocha à beira da baía onde a protagonista do romance se sentava à espera do amado.  Hoje um mirante, possui uma boa vista para a praia homônima e para a Ilha de Brocoió, propriedade do governo do Estado do Rio, que lá possui um palácio, residência de veraneio do Governador.

Praia da Moreninha a partir da Pedra da Moreninha

Ilha de Brocoió

                  Perto da Pedra da Moreninha está a Praça de São Roque. É ali que ficava a sede da fazenda colonial que abastecia a Corte com seus produtos em séculos passados. A capela da fazenda foi erguida em 1693 e hoje é a bela Capela de São Roque, ao lado do poço de mesmo nome cujas águas dizem ter feito sarar a perna de Dom João VI. O rei português deve mesmo ter sido frequentador assíduo da ilha, pela quantidade de referências existentes - aliás, parece que o apelido de Paquetá, a "Ilha dos Amores", foi cunhado por ele. Para completar o grupo, há ainda um canhão na Praia dos Tamoios que era disparado a cada visita do monarca. A Praça de São Roque sedia também  num casarão restaurado do século XVIII a Casa das Artes, que patrocina eventos culturais. O outro lado da praça é ocupado por um grande prédio em estilo neoclássico, que foi a sede propriamente dita e hoje é uma escola municipal.

Capela de São Roque
                 
        Além da Capela de São Roque, Paquetá conta ainda com outra igreja, a Matriz de Bom Jesus do Monte, bem perto da estação das barcas. A construção num destoante mas bonito estilo gótico foi erigida em 1900 em substituição à antiga igreja fundada em 1763.

Matriz de Bom Jesus do Monte

        Como passei boa parte do dia na ilha, almocei no restaurante Zeca's, localizado na esquina da Praia dos Tamoios com a Praça Bom Jesus. Com uma varanda relaxante e de frente para a baía, oferece comida trivial gostosa. Ótimo para recuperar as forças depois de tanta caminhada.

Praça Bom Jesus, com a torre da Igreja Matriz ao fundo

            Não podia encerrar este post sem mencionar uma característica que diferencia Paquetá: suas árvores. Bem frondosas, e muitas vezes posicionadas no meio da rua, parecem ser até mais antigas que a urbanização da ilha. O exemplar mais chamativo é um baobá na Praia dos Tamoios. A espécie africana, também mencionada no livro O Pequeno Príncipe, é reconhecida pela grande circunferência do seu tronco - no caso  três metros, que originou o seu nome curioso, Maria Gorda.

Pedalinhos na Praia José Bonifácio, outra opção de lazer para a família. Ao fundo, o parque Darke de Mattos.

Nota: Visitei Paquetá numa segunda-feira. Nos finais de semana provavelmente a ilha estará menos tranquila devido ao afluxo de turistas. Mas atenção: fui passear no parque ao sul da ilha, o Darke de Mattos, do qual tinha ótimas lembranças, e dei de cara com seu portão fechado; pois é, o parque abre somente de terça a domingo, tal qual um museu. A entrada de bicicletas não é permitida em suas dependências.



 Postado por Marcelo Schor em 17.06.2017 
                   

2 comentários:

  1. Oi, Marcelo. Tudo bem? :)

    Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Bóia – Natalie

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