Pages

Chiemsee e o Palácio do Rei Ludwig II

Os jardins do Palácio Herrenchiemsee


         Chiemsee (lê-se kímze) é o maior lago da Baviera com 80 km² de superfície, e pela sua extensão é também conhecido como "Mar Bávaro". Situado perto da fronteira com a Áustria, durante o verão o lago é propício para a prática de esportes náuticos, em especial a vela. No entanto, a maioria dos turistas vai mesmo até lá para se extasiar com o luxo do terceiro palácio do rei Ludwig II, conhecido como  Schloss Herrenchiemsee. 

Mapa de Chiemsee exposto no atracadouro. Priem está localizada na margem ocidental do lago. 

            Usando transporte público, o meio mais fácil de se chegar a Chiemsee a partir de Munique é por trem. A estação de Priem fica localizada na linha ferroviária para Salzburgo, com parada pelos trens regionais. A viagem dura uma hora e a forma mais econômica é adquirir um passe regional Bayern Ticket, especialmente se mais de uma pessoa estiver viajando. A estação de Priem fica situada a dois quilômetros do porto (chamado Priem Stock). Para chegar até lá se pode pegar um ônibus ou então entre meados de maio e setembro a maria-fumaça Chiemsee-Bahn, que funciona desde 1887 e é o trem a vapor com menor bitola em uso no mundo.

Os barcos no porto de Priem Stock, com a efígie de Ludwig II em primeiro plano

               Chiemsee possui duas ilhas habitadas, Herreninsel e Fraueninsel (respectivamente "Ilha dos Homens" e "Ilha das Mulheres"). Os nomes remontam à presença de um mosteiro de padres na ilha maior e de um convento de freiras na menor. As duas ilhas valem a pena ser visitadas, e uma linha de barcos faz o percurso regular entre Priem Stock e a vila de Gstaad com parada em cada ilha. O site da transportadora disponibiliza horários e preços dos barcos e também da maria-fumaça.

O caminho para o Palácio de Herrenchiemsee

             O trajeto pelo lago é bem bonito e podemos apreciar a majestade dos picos nevados dos Alpes como pano de fundo. Herreninsel está a meros quinze minutos de barco a partir de Priem Stock. Sua maior atração é o Palácio de Herrenchiemsee. A entrada para o palácio deve ser comprada ao desembarcar, numa cabine em frente ao píer. O palácio, cujo prédio e jardins ocupam parte significativa da ilha, está situado a vinte minutos de caminhada agradável por um bosque. Para aqueles que não desejam andar, há charretes disponíveis que fazem o percurso. É curioso notar que é praticamente impossível vislumbrar palácio ou jardins a partir do lago ou da trilha, pois estão cercados quase completamente por árvores. E por esta razão se fica boquiaberto quando o fim do caminho revela o conjunto do palácio e suas fontes ornamentadas. Muitas pessoas vão achar tudo parecido com um certo palácio real francês, e isso não é mera coincidência.

O Palácio de Herrenchiemsee

             Ludwig II foi soberano da Baviera entre 1864 e 1886 e ficou conhecido como o "Rei Louco" pelas suas extravagâncias e excentricidades. A construção do Palácio de Herrenchiemsee começou em 1878, quando os mais famosos Neuschwanstein e Linderhof já estavam concluídos. Ludwig II havia visitado Versalhes, construído por seu ídolo Luís XIV, e resolveu erigir uma cópia do palácio real francês, para isso adquirindo a ilha. Esta sua terceira construção custou mais que a soma dos gastos efetuados nos outros dois palácios da Baviera. Só que ocorreu um pequeno problema - seu dinheiro acabou; o rei foi então interditado e deposto, e morreu quatro dias depois misteriosamente afogado em um lago, aos quarenta anos de idade. Dos setenta aposentos planejados, somente vinte estavam prontos e a obra foi interrompida para sempre. Apesar de toda a fortuna gasta, Ludwig II acabou pernoitando no palácio somente por nove dias em 1885. Bastante antissocial e com medo de escuro, lia à noite e dormia durante o dia. Talvez por permanecer inacabado, Herrenchiemsee nunca alcançou a notoriedade dos outros castelos, seus irmãos mais velhos.

Os jardins do palácio, com a charrete trazendo os turistas estacionada à sua frente.

          A ala que ficou pronta pode ser conhecida em visita guiada de trinta minutos em  alemão ou inglês. Infelizmente não era permitido tirar fotos durante o tour - ainda faz sentido essa exigência hoje quando fotografias de interior podem ser tiradas sem o uso de flash?? Se existe uma palavra que resuma o que encontramos no palácio neobarroco, esta palavra é ostentação. Os arquitetos se basearam totalmente em Versalhes para conceber o palácio. O tour começa pelo salão da escadaria de acesso ao andar superior, rodeado de estátuas incrustadas na parede. As homenagens ao rei-sol Luís XIV aparecem em cada sala. Os aposentos se sucedem com muita decoração folheada a ouro, em especial o Quarto de Dormir Real, o primeiro a ficar pronto, mas que jamais foi usado pelo soberano.

As estátuas do jardim de Herrenchiemsee

            O ponto culminante da visita é o Salão dos Espelhos, cópia do original de Versalhes, só que dez metros mais longo, totalizando 98 metros que ocupam praticamente toda a frente do palácio. O salão é realmente deslumbrante, com 52 candelabros e o teto todo pintado. Segundo a guia, devido à diferença de comprimento, as figuras pintadas foram ligeiramente espichadas para não deixar nenhum espaço vazio ao longo do teto curvo. Durante o mês de julho o salão sedia concertos de música clássica; dá água na boca de nos imaginarmos assistindo a uma apresentação sentados num cenário daqueles. Depois de tanta riqueza, a descida de volta ao térreo e à saída do palácio é feita por uma escada nua, rodeada de tijolos, já pertencente à ala inacabada. Bem-vindos de volta à realidade...

Tíquete de entrada e folheto explicativo em alemão, com o Salão de Espelhos na capa
   
             O ingresso de €8 ainda dava direito a visitar o Museu Ludwig II, ocupando parte do térreo. Com uma estátua do monarca na entrada, o museu é dedicado a mostrar aspectos da sua vida e seus projetos, alguns megalomaníacos. Também coberto pelo tíquete, o Monastério Augustino, que não visitei, é o mosteiro dos padres que deu origem ao nome da ilha, situado numa elevação junto ao píer de atracação do barco. A construção atual em estilo barroco é do século XVII.

Fraueninsel

          Conhecido o Palácio, era hora de rumar à ilha seguinte, Fraueninsel, numa viagem curta de barco de dez minutos. Muitos turistas ignoram solenemente esta segunda ilha, voltando à terra firme depois de se maravilhar com o palácio. Não cometa este pecado. Fraueninsel é bem pitoresca, com tráfego de veículos proibido e com apenas 250 habitantes dispersos em casas separadas por amplos gramados.

A bela torre da Igreja da Abadia de Frauenwörth

            Uma construção domina um terço da ilha, a Abadia de Frauenwörth. O convento beneditino foi fundado no século VIII, um dos mais antigos na Alemanha. Sua igreja com o domo em forma de cebola data do século X. A abadia abriga freiras em clausura que fabricam marzipã e um licor famoso em toda a Baviera. À frente do convento está a construção mais antiga da ilha, o Torhale, erguido no século IX e que hoje sedia exposições de objetos medievais e pinturas mais recentes, dos últimos trezentos anos.

Cemitério adjacente ao convento e Torhale ao fundo

           O que me encantou em Fraueninsel foi a sua tranquilidade. Um ótimo programa é a caminhada pelas ruelas da vila, particularmente o circuito em volta da ilha pela trilha que margeia a orla, apreciando a vista do lago, dos barcos que o singram e dos Alpes ao longe. Como Fraueninsel é bem pequena, a circunferência pode ser percorrida em menos de meia hora.

A vila em Fraueninsel

           Várias das casas abrigam restaurantes, muitos especializados em comida típica alemã. Almocei no Inselbräu, situado numa casa ampla no centro da vila, de frente para o gramado da foto acima. O restaurante oferecia a preços razoáveis desde as sempre presentes linguiças e schnitzels até pratos mais exóticos como bochecha de boi. Peixe também é um prato frequente em Fraueninsel, já que a pesca é uma das atividades principais da vila, junto ao turismo.

Orla de Fraueninsel

              Como deu para perceber pelas fotos, o tempo variou bastante ao longo do dia, com o sol aparecendo eventualmente em meio ao frio. À medida que a tarde avançava, as nuvens aumentaram de volume e à noite um verdadeiro temporal desabou. Ainda bem que a esta altura eu já estava de volta a Munique, devidamente abrigado no hotel.

Região do ancoradouro em Fraueninsel

                No próximo post, damos um pulo a Regensburg, situada no norte da Baviera e banhada pelo Rio Danúbio, que de azul não tem absolutamente nada.

⏩➧ Este é o segundo post da série sobre a viagem pelo sul e centro da Alemanha. Para visualizar os demais, acesse  Novo Tour pela Alemanha.

 Postado por  Marcelo Schor  em 15.07.2017      

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O comentário será publicado após aprovação