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A mágica Floresta Negra - Triberg e seus cucos

Cucos a perder de vista em Triberg

         Triberg im Schwarzwald é uma cidade de 5.000 habitantes encravada na Floresta Negra, servida também pela ferrovia que corta a floresta. Fui conhecê-la já na volta para Baden-Baden, minha cidade favorita na Alemanha, após ter me encantado durante a manhã com Villingen (post anterior). Triberg é afamada pelo seus relógios de cuco e por uma queda d'água divulgada como "a cascata mais alta do país". Será mesmo? Quando o assunto muda para culinária, é em Triberg que encontramos a deliciosa torta Floresta Negra feita de acordo com a receita original. De vez em quando a cidade ocupa as páginas de jornal com alguma novidade excêntrica, como o estabelecimento de vagas de automóvel exclusivas para motoristas homens há cinco anos.

A estação de Triberg e o trem em que cheguei

           Quando desembarquei na estação ferroviária de Triberg, uma surpresa: onde estava a cidade? A estação fica literalmente no meio da floresta, a 1,3 quilômetro do centro. Na saída da estação jaz uma locomotiva antiga, para relembrar os velhos tempos quando a  maria-fumaça era o meio de transporte habitual na ferrovia. Para matar a saudade, todos os domingos de julho e agosto é oferecido um passeio guiado de locomotiva a vapor pelos túneis ferroviários, com quatro horas de duração e saindo da estação às 13h15min.

A maria-fumaça na saída da estação

           Há diversos meios de transporte para se chegar à Triberg propriamente dita a partir da estação. O primeiro é o ônibus - como eu estava utilizando o Baden-Württemberg Ticket, a passagem seria gratuita, mas não vi qualquer sinal dele nem na ida nem na volta. Achei estranho, nestes casos de a estação estar distante costuma haver sincronia nos horários entre trens e ônibus. O segundo é um simpático trenzinho, o Wasserfall Express, que vai até o lago do outro lado da cidade por €3,50,  mas só estava estacionado na estação quando retornei para sair de Triberg. O terceiro é o próprio pé, que por falta de opção foi o meu escolhido. O caminho é uma subida (a diferença de nível é de 70 metros) não muito íngreme, mas constante. Basta seguir pela rua da estação até alcançar um viaduto, descendo a escada lateral e prosseguindo pela estrada sob o viaduto, ladeira acima. Aproveite a jornada para apreciar o ar puríssimo da serra tomada por coníferas.

Subindo a rua de entrada de Triberg rumo à Marktplatz. Ao fundo, a Floresta Negra.

          Subindo a rua, a Hauptstraße, alcancei a Marktplatz, a praça principal. Na realidade é um largo comprido, onde se localiza a Prefeitura. A maior atração do seu prédio é a bonita Sala do Conselho, com as paredes todas trabalhadas em madeira, apresentando cenas da natureza e do cotidiano dos habitantes da Floresta Negra do início do século passado, já que a sala é de 1926. Não é cobrado ingresso para conhecê-la, mas ela está aberta somente em dias úteis, exceto quando estiver sediando algum casamento ou recepção. Lamentei não ter podido visitá-la por ser domingo.

Marktplatz e a Prefeitura

         A área da Marktplatz abriga várias confeitarias onde podemos saborear as sobremesas que fizeram a fama da região, em especial a torta Floresta Negra. O Café Schäffer (Hauptstraße 33) oferece a torta da receita original. Seu dono  herdou o livro com a receita criada em 1915, pois seu pai era auxiliar do criador da torta. A iguaria contém camadas de chocolate e chantilly, com a adição do licor de cereja negra, o kirsch, e finalmente mais porções de creme com cerejas espalhadas no topo. Curiosamente a torta foi inventada bem longe dali, em Bonn, tendo recebido este nome devido ao licor,  feito com as abundantes cerejas existentes na Floresta. 

Sala do Conselho na Prefeitura - fonte: triberg.de

          Após passarmos pela Prefeitura, começa o setor da rua onde aparecem as lojas de cuco pelas quais a cidade é conhecida em todo o mundo. Os relógios são fabricados aproveitando a madeira da floresta desde a primeira metade do século XVIII. Há relógios cuco de tudo que é tipo, desde os minicucos até os enormes, dos tradicionais aos modernos automáticos a quartzo, dos mais em conta até os que custam mais de 2.000 euros. Dois cucos gigantes distintos com mais de dez metros de altura nas cercanias de Triberg disputam o título discutível de maior cuco do mundo. Já a loja mais famosa que os vende tem o nome apropriado de "House of 1.000 clocks". Os cucos das fachadas sobre as lojas são uma atração à parte, e entrar nelas para apreciar a variedade e inventividade dos relógios é programa obrigatório.

As lojas de cuco na Hauptstraße
 
         O cuco foi escolhido como o pássaro que sai para fora do relógio graças ao seu canto engraçado emulado pelos foles e apito do instrumento, mas não deixa de ser uma opção curiosa pelos seus hábitos heterodoxos na reprodução. Várias de suas espécies são aves parasitas de ninhada, que usam o  ninho de outros tipos de ave para abrigar seus ovos. Quando os donos do ninho estão distraídos, a mamãe-cuco troca um ovo original pelo seu. Para completar o esquema, quando os cucos filhotes nascem, expulsam  do ninho os passarinhos legítimos, tomando-lhes o lugar. Sinistro, não? Daí vem a expressão em inglês cuckoo in the nest, equivalente ao português estranho no ninho, e que batizou a obra-prima protagonizada por Jack Nicholson.

Estátua de esquilo em madeira na entrada do parque da Cascata

       Logo depois das lojas de cuco, cheguei à maior atração natural da cidade - as Cascatas de Triberg. Apresentadas como a cascata mais alta da Alemanha, com 163 metros , na realidade são sete quedas em sequência. E mesmo se consideradas em conjunto, perdem de lavada para a Cascata de Röthbach, localizada perto de Berchtesgaden, na Baviera, com quase o triplo da altura.

A trilha no parque rumo às cascatas, ao fundo

         Mesmo com esta aparente propaganda enganosa, o lugar me encantou pela beleza e impressiona o fato de estar colado à cidade. As águas do rio Gutach (o mesmo que acompanha boa parte da ferrovia) correm em meio à floresta. Uma trilha acompanha o curso das quedas e corredeiras, permitindo apreciá-las de perto. Não cheguei a visitar as sete cascatas. Lá pela quarta considerei que já tinha subido o suficiente e me dei por satisfeito ao passar por uma ponte com uma visão fabulosa das quedas abaixo e das águas rumando para Triberg. A subida cansa um pouco, mas não se pode dizer que foi por falta de aviso. No meio da trilha há uma bifurcação, com a indicação em alemão de qual caminho é menos extenuante, mas os desenhos não deixam margem para dúvida. Escolhi o mais rápido - e mais cansativo. Se prosseguisse na caminhada quedas acima, chegaria a uma antiga hidroelétrica, usada já em 1884 para alimentar os primeiros lampiões elétricos de rua da Alemanha.

Chegando às quedas de Triberg

           O único senão é que cobram ingresso para entrar no parque das quedas. Paguei €4,50 na entrada principal junto à Hauptstraße. Pacotinhos de comida são oferecidos por €1 adicionais junto com o tíquete, para serem ofertados aos inúmeros esquilos marrons que habitam o parque e tornam o passeio ainda mais pitoresco. Uma trilha alternativa sai das cascatas por dentro da floresta rumo ao lago Bergsee, onde há uma segunda entrada. O lago é um local bonito, ideal para piqueniques.

Uma das cataratas de Triberg
Segundo nível das cataratas

            Triberg também possui um museu, o Schwarzwaldmuseum ("Museu da Floresta Negra"), que apresenta os costumes e folclore locais, assim como instrumentos típicos e, claro, cucos e carrilhões. Porém para apreciá-lo melhor é necessário dominar o idioma alemão, pois o inglês só aparece num folheto explicativo.

Foto tirada para baixo, mostrando a trilha de acesso às cataratas

           Na primeira vez que percorri a Floresta Negra, cortei Triberg da relação de cidades a visitar devido à  impressão de ser um lugar excessivamente turístico, ainda mais com todos esses exageros de divulgação, que tendem a estragar a imagem local. Dou a mão à palmatória, Triberg é uma cidade cativante, congregando os atrativos que o turista normalmente espera da região.

               No próximo post, damos um pulo à Turíngia, na antiga Alemanha Oriental.

⏩➧ Este é o oitavo post da série sobre a viagem pelo sul e centro da Alemanha. Para visualizar os demais, acesse  Novo Tour pela Alemanha.

Outros posts sobre a Floresta Negra:

 Postado por  Marcelo Schor  em 22.09.2017 

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