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Um dia pelas ruas de Melbourne

Rio Yarra, Southbank Promenade e a azulada Eureka Tower em Melbourne

            Segunda cidade em população da Austrália, Melbourne é uma metrópole peculiar, bem diferente de Sydney. Apresentando uma mistura entre o antigo e o novo e um ar mais sério e cultural  que a rival, Melbourne encanta o visitante por suas construções, galerias e parques. A capital do estado de Victoria e ex-capital da Austrália  é pródiga também em eventos esportivos, entre os quais se destaca a Melbourne Cup, provas de turfe com efeito na população de uma final de campeonato de futebol. Para se ter uma ideia, o dia da competição principal, a primeira terça de novembro, é feriado estadual. Se não for fã do esporte, evite a cidade nessa época, há muitos turistas e os preços de hospedagem disparam. Eu não sabia disso e por sorte visitei Melbourne somente uma semana antes.

           Falando na estadia, não faça o que fiz; dediquei somente três noites a Melbourne, sendo que cheguei no final de uma tarde e saí pela manhã. Com a excursão imperdível  à Great Ocean Road ocupando um dia inteiro, praticamente só me restou um dia para percorrer as atrações da cidade. Foi pouco. O ideal teria sido permanecer pelo menos mais uma noite. É verdade que já tinha visitado Melbourne na minha primeira ida à Austrália em 1998, mas foi como se não a tivesse conhecido - sofri uma torção de tornozelo bastante forte pouco antes de deixar a Nova Zelândia e não pude explorar a cidade a pé naquela ocasião.

Princes Bridge a a região da Federation Square


Como chegar a Melbourne a partir do aeroporto:

            Muito provavelmente você chegará a Melbourne pelo aeroporto de Tullamarine. Há um serviço de ônibus, o Skybus, que liga os vários terminais do aeroporto à estação ferroviária de Southern Cross, na borda do centro, que custou 18 dólares australianos na compra on-line (19 se adquirido na hora). Com trânsito livre a viagem dura em torno de trinta minutos. Durante o dia há ônibus de dez em dez minutos. O legal é que, caso você se hospede no centro, o traslado até o hotel é gratuito. Quando desembarcamos no pátio de ônibus da estação ferroviária, a gente se dirige a um guichê e fornece o nome do hotel; em poucos minutos informarão a  partida de um miniônibus com a respectiva lista de hotéis abrangidos. Bem prático. Ao deixar a cidade, verifique ainda se seu terminal de saída do voo é o mesmo pelo qual chegou, podem ser diferentes em função da companhia aérea ou se o voo é interno ou não.

Tram na Bourke Street

               Melbourne possui ainda outra facilidade que achei fantástica. Viagens de bonde  (trams) dentro do perímetro do centro são inteiramente gratuitas. Os bondes são bem modernos, no estilo do VLT carioca. Há muitas linhas que atravessam o centro, além da 35, a linha turística, que percorre exatamente as avenidas do perímetro, Flinders, Spring e La Trobe, em um bondinho em estilo retrô  que circula a cada doze minutos a partir das nove da manhã. Esta linha passa por diversos pontos turísticos como a Federation Square e o Parlamento Estadual, que já foi federal nos tempos de capital do país. Os muitos bondes colaboram para dar a Melbourne um ar diferenciado, corroborando  o apelido que ganhou há décadas, a "Europa da Austrália".



            A locomoção é facilitada pelo centro ser formado por ruas em formato xadrez. As ruas no sentido norte-sul são largas, enquanto no sentido leste-oeste se alternam ruas largas e estreitas. As estreitas recebem o nome da antecessora larga acrescido de "Little", assim temos a Bourke Street e a Little Bourke Street. Um ótimo programa é percorrê-las prestando atenção nos prédios ecléticos de cem anos atrás, entremeados com construções modernas.

Royal Arcade


            Melbourne é renomada por suas galerias de lojas que interligam as ruas, ricamente decoradas e que formam uma espécie de labirinto próprio. A mais famosa é a Royal Arcade, justamente a galeria mais antiga de toda a Austrália ainda em funcionamento. Inaugurada em 1870, sua entrada sul, pela Little Collins Street é a mais bonita, com estátuas de duas figuras míticas, Gog e Magog, flanqueando um relógio e cujos braços tocam os sinos postados ao seu lado na hora cheia. A Block Arcade, outra galeria situada praticamente em frente, possui o mesmo estilo luxuoso e também vale a pena ser visitada. Sem contar que a Block Arcade conta com a filial de uma das marcas mais famosas e saborosas de chocolate australiano, a Haigh's.

Hosier Lane - fonte: Creative commons Musikanimal CCBY SA 4.0 

                   A Federation Square pode ser considerada o ponto nevrálgico de Melbourne. Não chega a ser uma praça, mas sim um espaço público remodelado no início do milênio, sendo sede de vários eventos e cercado por restaurantes e áreas de entretenimento, além do escritório de turismo. Foi dali que saiu a excursão que tomei no dia seguinte para a Great Ocean Road. Em frente à Federation Square fica a Catedral de St. Paul, sede do arcebispado anglicano, construída em 1892. Praticamente ao lado da Catedral, a Hosiers Lane é um beco cujas laterais são cobertas por grafites e pinturas, sempre em mutação, uma atração característica de Melbourne presente em várias vielas do centro.

Flinders Station na Federation Square (foto tirada na visita a Melbourne em 1998)

              Atravessando a rua lateral da praça encontramos o prédio mais icônico da cidade, a Flinders Station. Dizem que a belíssima fachada foi inspirada na estação de Bombaim, mas infelizmente ela estava coberta devido a obras de restauração (curiosamente era a única construção de que me lembrava da visita anterior à cidade, assim minha referência foi para o brejo!). O prédio que abriga a estação ferroviária mais movimentada do país foi inaugurado há 107 anos é um marco de Melbourne, tanto que para marcarem encontro na sua porta principal, os melburnians simplesmente combinam estarem "under the clock", se referindo ao relógio no topo que indica o horário do próximo trem rumo aos subúrbios.

Andando pelo calçadão de Southbank Promenade

            Pelo que contei da minha visita anterior, nem é preciso dizer que estava ansioso por caminhar pelas suas calçadas. Com o pouco tempo que dispunha, agravado por uma chuva bem chata que caiu até o meio da manhã, tracei um roteiro a pé rumo ao Royal Botanic Gardens, num trajeto que acompanhou o rio Yarra e em seguida enveredou por alguns dos parques mais bonitos de Melbourne.

Escultura Ophelia e Evan Walker Bridge em Southbank Promenade  

            A caminhada começou pelo Southbank Promenade, o calçadão à beira do rio Yarra acessado a partir da Princes Bridge, junto à estação ferroviária. O passeio é muito agradável, ladeando os arranha-céus modernos da orla fluvial. Ao longo do calçadão há diversos restaurantes e quiosques, e o caminho é entremeado com obras de arte modernas, além das pontes em estilos arquitetônicos variados que vão se sucedendo. Para quem gosta de vistas aéreas, uma passada pelo observatório do 88º andar da Eureka Tower é imprescindível. O edifício mais alto de Melbourne tem uma corrida anual curiosa, quando os participantes sobem os 1642 degraus até o mirante. Haja fôlego! O evento que acontece todo mês de novembro tem a renda das inscrições revertida para instituições de caridade,

Relógio floral e estátua de Eduardo VII no Queen Victoria Gardens

               Ao sul da Federation Square se situa um dos maiores pulmões de Melbourne, o King Domains Gardens. Atravessando a Princes Bridge sobre o rio Yarra, e seguindo pela St. Kilda Road logo passamos pelo Arts Centre, um moderno centro de teatros e salas de concerto encimado por uma torre branca de aço com 162 metros de altura, iluminada à noite e que se tornou um dos marcos de Melbourne.

              O quarteirão seguinte já dá início aos jardins, cujo trecho inicial é conhecido como Queen Victoria Gardens, com as estátuas da Rainha Victoria e de seu filho Edward VII, que reinou durante os primeiros anos da independência do país (é sempre bom lembrar que sua bisneta Elizabeth II continua a ser rainha da Austrália). Aos pés da estátua de Edward VII está um belo relógio floral. É interessante notar o apreço dos australianos pela família real, que se mantém até hoje; uma pesquisa recente confirmou o grande apoio da população à manutenção da monarquia, incluindo a faixa etária mais jovem, normalmente refratária a este tipo de tradição.

Vista dos King Domains desde a escadaria do Shrine  of Remembrance. A torre branca pontiaguda pertence ao Arts Centre.

           Mas a joia da coroa do Kings Domains é mesmo o Shrine of Remembrance, um memorial no final de uma alameda nos jardins que forma uma linha reta por quilômetros com um trecho da Saint Kilds Road e com a Swanston Street, a rua reservada a pedestres e bondes no centro. Do alto da sua escadaria, a oportunidade para uma foto do parque e dos arranha-céus mais ao longe é irresistível.

Shrine of Remembrance

            O Shrine of Remembrance é um memorial de guerra que homenageia os soldados mortos na Primeira Guerra Mundial. Assim como aconteceu com os memoriais das outras capitais australianas , com o passar do tempo a homenagem foi estendida aos caídos em guerras posteriores onde australianos também lutaram. Este é o monumento com exterior mais impressionante dos três memoriais que visitei nesta viagem (os outros foram em Hobart e Sydney). E não é sem razão, o memorial foi inaugurado em 1934 no formato de um templo clássico, com projeto baseado no Mausoléu de Halicarnasso, uma das sete  maravilhas do mundo antigo cujas ruínas hoje se localizam na Turquia.

Chama Eterna e Cenotáfio junto ao Shrine Memorial

           . No seu interior austero está a Pedra da Lembrança, no lugar exato onde pousa um raio de luz vindo de uma abertura no teto às 11 da manhã do dia 11 de novembro.  Esta data é o feriado de Remembrance Day, lembrando a assinatura do armistício que encerrou a Primeira Guerra em 1918.  Os guardas do templo usam uniforme idêntico aos dos soldados australianos que lutaram na guerra. Não deixe de apreciar os quatro conjuntos de estátuas com motivos gregos e assírios que parecem sair das laterais do memorial,  representando patriotismo, sacrifício, justiça e paz.

As estátuas em volta do Shrine of Remembrance

          Bem perto do Shrine Memorial fica o portão principal de entrada do Royal Botanic Gardens. Ocupando uma área bem extensa, o Jardim Botânico alcança a margem do rio Yarra, sendo a caminhada por suas aleias um ótimo caminho de retorno ao centro, se bem que um pouco mais longo. Neste trecho do rio na margem oposta está situado o Parque Olímpico, com o estádio que sediou as competições de 1956 - até o ano retrasado a Austrália era o único país do Hemisfério Sul a ter sediado os Jogos Olímpicos, e ainda por cima por duas vezes. Hoje o estádio abriga competições de críquete, outro esporte adorado pelos habitantes de Melbourne.

        O Jardim Botânico é muito bonito, cortado por um lago com bancos à sua margem, ideais para uma parada estratégica para contemplação ou descanso. Curioso é os jardins botânicos das capitais da Austrália sempre ostentarem o adjetivo "royal" em seus nomes, uma tradição que remonta à Grã-Bretanha,  mas se formos retroagir no tempo, não custa recordar que até o Jardim Botânico do Rio de Janeiro se chamava Real Jardim Botânico, tendo sido fundado por D. João VI em 1808, 38 anos antes da criação do seu congênere australiano. Para tornar o passeio ainda mais atrativo, tanto o Shrine Memorial quanto o Botanic Garden têm entrada gratuita. 

Royal Botanic Gardens

         Finalmente, um local diferente para se conhecer é o Queen Victoria Market, ou Queen Vic para os mais chegados. O mais antigo mercado a céu aberto em funcionamento no hemisfério existe há quase 150 anos e ocupa espaço de vários quarteirões. Ainda por cima era praticamente vizinho ao hotel onde me hospedei. Com barracas de comida a artesanato, o mercado ganha um colorido especial aos domingos, com performances ao ar livre. Porém o horário de abertura é um tanto ingrato, das 6 da manhã até meados da tarde, dependendo do dia (no domingo, o encerramento ocorre mais tarde, às 17). Às segundas e quartas o mercado não abre, mas para compensar nas noites de quarta no verão, de meados de novembro ao início de abril, acontece o Night Market, com comida típica de outros países e noites temáticas.


 Postado por  Marcelo Schor  em  28.02.2018 

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