A Opera House vista por entre as árvores dos Royal Botanic Gardens |
Depois de percorrer no dia anterior The Rocks e a Harbour Bridge tendo como ponto de partida o Circular Quay, era hora de voltar até a estação das barcas e rumar agora para leste, passando por duas das maiores atrações de Sydney, a Ópera e o Jardim Botânico, e seguindo então a orla até Woollomooloo, onde provaria uma das mais famosas tortas de carne da Austrália.
O calçadão que acompanha o cais entre o Circular Quay (que aliás se pronuncia exatamente como a palavra "key") e a Ópera está sempre cheio de gente. Seu piso contém 48 placas que homenageiam autores de várias épocas, com trechos extraídos de suas obras, e por isso o caminho é chamado de Writer's Walk. Como não sou versado em literatura australiana, reconheci pouquíssimos nomes, e mesmo assim os estrangeiros conectados de alguma forma a Sydney, como o inglês Charles Darwin, o americano Mark Twain e o escocês Conan Doyle. Para não dizer que foi vergonha total, conhecia um nome australiano: Morris West, um escritor com vários livros de sucesso de quem minha mãe era leitora habitual.
Ocupando uma posição privilegiada na Baía de Sydney, a Opera House é um símbolo nacional e certamente o ponto turístico mais conhecido da cidade. O projeto genial do teto branco que lembra velas de navio desarrumadas ao vento se provou bem trabalhoso de se implementar; demoraram para alcançar uma solução de engenharia satisfatória, que acabou optando por 2.190 seções de concreto pré-fabricadas, unidas por cabos de aço. A construção levou quinze anos e o custo, quinze vezes o valor previsto original, que não foi bancado pelo governo ou por instituições privadas, e sim pela renda da loteria que funcionou durante o período. Finalmente em 1973 o marco magnífico foi inaugurado pela Rainha Elizabeth II, que voltou várias vezes à casa de espetáculos. Uma curiosidade: seu arquiteto dinamarquês abandonou o projeto sete anos antes e não foi convidado nem mencionado na cerimônia de inauguração. Morreu aos 90 anos há dez anos sem jamais ter retornado à Austrália para apreciar sua obra-prima, que faz parte da lista de Patrimônios da Humanidade da Unesco.
Sob os mais de um milhão de azulejos de cerâmica que formam as dez velas do teto, a Ópera na realidade é um complexo de várias salas com apresentações artísticas das mais variadas, de balés a concertos, e claro, óperas. O Salão de Concertos, considerado a mais importante sala de apresentações da Austrália, tem acústica perfeita e capacidade para mais de 2.600 espectadores. Seu órgão é um capítulo a parte: é o maior órgão mecânico de tubos do mundo, com 10.244 tubos, e levou dez anos para ser terminado, sendo instalado seis anos após a inauguração da Ópera. O site oficial da Ópera afirma que só há uma pessoa com conhecimento para afiná-lo.
O tour pelo interior da Ópera é uma das atividades imperdíveis para o turista em Sydney. A cada ano 200.000 visitantes o realizam. Com duração de uma hora e oferecido em intervalos de quinze a trinta minutos das 9 às 5 da tarde, o tour guiado percorre os diversos salões de apresentação, com explicações e curiosidades, vencendo duzentos degraus ao longo do percurso. Para maiores informações sobre o tour, acesse este site.
Contíguos à Ópera, os Royal Botanic Gardens (Jardim Botânico) ocupam uma vasta área à margem da baía, cerca de 30 hectares. É um dos mais belos jardins botânicos que já visitei, não só pela diversidade do paisagismo como pela sua localização estupenda, entre a Ópera, a Baía de Sydney e os arranha-céus do centro. Este sem dúvida foi o meu local favorito nesta visita a Sydney; voltei depois algumas vezes para apreciar a paz e beleza do lugar, passeando por suas aleias ou simplesmente sentando num banco.
Os Royal Botanic Gardens são a mais antiga e uma das mais importantes instituições de ciências da Austrália. Foi inaugurado em 1816, após o Governador Macquarie decidir dotar a cidade de uma área verde digna, onde antes existia uma fazenda lavrada por condenados que chegaram na Primeira Frota em 1788. Nem é preciso dizer que este empreendimento pioneiro não deu muito certo, ao contrário do Jardim Botânico.
Com entrada gratuita, o Jardim Botânico pode ser acessado pela orla, pela praça em frente à Ópera ou por portões que o conectam ao centro da cidade. Gramados dividem espaço com as árvores, tornando o ambiente bem mais espaçoso. Com exemplares da flora da Austrália e do resto do mundo, incluindo plantas raras e um jardim de cactos, o parque conta ainda com uma antiga estufa de vidro hoje transformada em centro de artes, lago, patos, restaurante e um trenzinho que percorre sua extensão para aqueles que não desejam caminhar.
Num canto um pouco escondido do parque próximo à Ópera fica a Government House, uma mansão em estilo neogótico com aparência de castelo. Foi construída em 1843 para abrigar a residência do governador de New South Wales, o estado do qual Sydney é capital. Hoje é utilizada pelo governador para funções variadas. Com alguns aposentos abertos ao público desde 1996, a casa tem entrada franca, mas a visita só pode ser feita em tour guiado.
Adjacente aos Royal Botanic Gardens existe uma ampla área gramada, chamada de The Domain South, gerenciada pela mesma administração do Jardim Botânico, tendo surgido também naquela época. Típico exemplo de mil e uma utilidades, The Domain abriga também grandes eventos. De simples área de lazer durante a minha estadia antes da viagem à Tasmânia, após a volta de Melbourne na semana seguinte o local se transformou por completo, cheio de tendas abrigando a Oktoberfest de Sydney na tarde de um sábado. Ao contrário da original de Munique, a versão australiana acontece realmente em outubro. Impressionante a quantidade de jovens espalhados pelo centro que se dirigiam ao evento vestidos a caráter, com suspensórios e chapéu de tirolês ou vestidos alpinos típicos.
Voltando ao roteiro pela orla, segui margeando a baía, que nesta parte recebe o nome de Farm's Cove, em homenagem à fazenda original dos condenados. Nesta parte mais afastada do seu núcleo a vegetação do Jardim Botânico vai ficando mais densa até os limites do parque. A ponta rochosa da península recebe o nome de Mrs. Macquarie's Point em homenagem a Elizabeth, a esposa do governador. Aliás, ela deve ter tido muita influência no seu tempo, pois batizou duas ruas importantes nos centros de Sydney e de Hobart, a capital da Tasmânia. Elizabeth adorava passear pela região e parava para apreciar as embarcações passantes sentando num banco cavado em pedra, que passou à posteridade com o nome de Mrs. Macquarie's Chair. Hoje o panorama a partir do Mrs. Macquarie Point é ainda mais recompensador, abrangendo a Ópera e a Harbour Bridge.
A maioria dos turistas dá meia volta após alcançar Mrs. Macquarie's Point, mas como eu tinha um objetivo em mente, continuei pela trilha entre o parque e a baía, rumo a Woolloomooloo (haja "o"!), passando por uma piscina olímpica aberta ao público junto à orla. Woolloomooloo era um bairro da zona portuária que foi revitalizado nas últimas décadas e que abriga também bases navais.
O marco mais famoso em Wooloomooloo é o chamado Finger Wharf, um píer que avança reentrância da baía adentro, parecendo realmente um dedo esticado no mapa. Com seus 410 metros de extensão é o mais longo píer sobre estacas de madeira do mundo. O Finger Wharf escapou da demolição na década de 90 graças ao clamor popular. Hoje é totalmente ocupado por uma construção com cara de shopping e fachada moderna, com bares, restaurantes, um hotel e residências luxuosas. Seu morador mais conhecido é o astro neozelandês Russell Crowe, que no ano passado recusou uma oferta de 25 milhões pela sua cobertura.
No final do curto calçadão da orla de Woolloomooloo, após a entrada do Finger Wharf, fica o trailer do Harry's Café de Wheels, uma das instituições gastronômicas mais icônicas da cidade, especializada em tortas de carne, as meat pies. A torta australiana sempre contém carne moída e molho gravy, sendo considerada um dos pratos mais representativos do país. Já que estava ali, resolvi encarar o acepipe mais completo, a Tiger Pie (apelido do fundador Harry), que além dos ingredientes obrigatórios levava purês de batata e de ervilha em camadas superpostas com o gravy. Não achei lá grande coisa.
Após muito tempo de caminhada, tem-se a impressão de que Woolloomooloo fica bem distante do centro da cidade, mas na realidade é um equívoco, graças ao litoral extremamente recortado de Sydney, repleto de penínsulas e enseadas. Woolloomooloo está a apenas 1,5 quilômetro do centro. Por isso, decidi retornar também a pé, cortando caminho pelo interior do bairro, apreciando a tranquilidade e as construções peculiares do local. O que me chamou mesmo a atenção foram placas como a abaixo, informando um perímetro de lei seca, mas com prazo de validade. Seria um período de experiência?
No próximo post, atravessamos a baía rumo a Manly e ao zoológico de Sydney.
O calçadão que acompanha o cais entre o Circular Quay (que aliás se pronuncia exatamente como a palavra "key") e a Ópera está sempre cheio de gente. Seu piso contém 48 placas que homenageiam autores de várias épocas, com trechos extraídos de suas obras, e por isso o caminho é chamado de Writer's Walk. Como não sou versado em literatura australiana, reconheci pouquíssimos nomes, e mesmo assim os estrangeiros conectados de alguma forma a Sydney, como o inglês Charles Darwin, o americano Mark Twain e o escocês Conan Doyle. Para não dizer que foi vergonha total, conhecia um nome australiano: Morris West, um escritor com vários livros de sucesso de quem minha mãe era leitora habitual.
Writer's Walk e Circular Quay em foto tirada do pátio da Ópera. Atrás do navio, o prédio do Museum of Contemporary Art. |
Ocupando uma posição privilegiada na Baía de Sydney, a Opera House é um símbolo nacional e certamente o ponto turístico mais conhecido da cidade. O projeto genial do teto branco que lembra velas de navio desarrumadas ao vento se provou bem trabalhoso de se implementar; demoraram para alcançar uma solução de engenharia satisfatória, que acabou optando por 2.190 seções de concreto pré-fabricadas, unidas por cabos de aço. A construção levou quinze anos e o custo, quinze vezes o valor previsto original, que não foi bancado pelo governo ou por instituições privadas, e sim pela renda da loteria que funcionou durante o período. Finalmente em 1973 o marco magnífico foi inaugurado pela Rainha Elizabeth II, que voltou várias vezes à casa de espetáculos. Uma curiosidade: seu arquiteto dinamarquês abandonou o projeto sete anos antes e não foi convidado nem mencionado na cerimônia de inauguração. Morreu aos 90 anos há dez anos sem jamais ter retornado à Austrália para apreciar sua obra-prima, que faz parte da lista de Patrimônios da Humanidade da Unesco.
Opera House |
Sob os mais de um milhão de azulejos de cerâmica que formam as dez velas do teto, a Ópera na realidade é um complexo de várias salas com apresentações artísticas das mais variadas, de balés a concertos, e claro, óperas. O Salão de Concertos, considerado a mais importante sala de apresentações da Austrália, tem acústica perfeita e capacidade para mais de 2.600 espectadores. Seu órgão é um capítulo a parte: é o maior órgão mecânico de tubos do mundo, com 10.244 tubos, e levou dez anos para ser terminado, sendo instalado seis anos após a inauguração da Ópera. O site oficial da Ópera afirma que só há uma pessoa com conhecimento para afiná-lo.
Escadaria de acesso à Opera House |
O tour pelo interior da Ópera é uma das atividades imperdíveis para o turista em Sydney. A cada ano 200.000 visitantes o realizam. Com duração de uma hora e oferecido em intervalos de quinze a trinta minutos das 9 às 5 da tarde, o tour guiado percorre os diversos salões de apresentação, com explicações e curiosidades, vencendo duzentos degraus ao longo do percurso. Para maiores informações sobre o tour, acesse este site.
Royal Botanic Gardens |
Contíguos à Ópera, os Royal Botanic Gardens (Jardim Botânico) ocupam uma vasta área à margem da baía, cerca de 30 hectares. É um dos mais belos jardins botânicos que já visitei, não só pela diversidade do paisagismo como pela sua localização estupenda, entre a Ópera, a Baía de Sydney e os arranha-céus do centro. Este sem dúvida foi o meu local favorito nesta visita a Sydney; voltei depois algumas vezes para apreciar a paz e beleza do lugar, passeando por suas aleias ou simplesmente sentando num banco.
Royal Botanic Gardens |
Os Royal Botanic Gardens são a mais antiga e uma das mais importantes instituições de ciências da Austrália. Foi inaugurado em 1816, após o Governador Macquarie decidir dotar a cidade de uma área verde digna, onde antes existia uma fazenda lavrada por condenados que chegaram na Primeira Frota em 1788. Nem é preciso dizer que este empreendimento pioneiro não deu muito certo, ao contrário do Jardim Botânico.
Aspectos do Royal Botanic Gardens |
Com entrada gratuita, o Jardim Botânico pode ser acessado pela orla, pela praça em frente à Ópera ou por portões que o conectam ao centro da cidade. Gramados dividem espaço com as árvores, tornando o ambiente bem mais espaçoso. Com exemplares da flora da Austrália e do resto do mundo, incluindo plantas raras e um jardim de cactos, o parque conta ainda com uma antiga estufa de vidro hoje transformada em centro de artes, lago, patos, restaurante e um trenzinho que percorre sua extensão para aqueles que não desejam caminhar.
O trenzinho do Jardim Botânico |
Num canto um pouco escondido do parque próximo à Ópera fica a Government House, uma mansão em estilo neogótico com aparência de castelo. Foi construída em 1843 para abrigar a residência do governador de New South Wales, o estado do qual Sydney é capital. Hoje é utilizada pelo governador para funções variadas. Com alguns aposentos abertos ao público desde 1996, a casa tem entrada franca, mas a visita só pode ser feita em tour guiado.
Government House |
Adjacente aos Royal Botanic Gardens existe uma ampla área gramada, chamada de The Domain South, gerenciada pela mesma administração do Jardim Botânico, tendo surgido também naquela época. Típico exemplo de mil e uma utilidades, The Domain abriga também grandes eventos. De simples área de lazer durante a minha estadia antes da viagem à Tasmânia, após a volta de Melbourne na semana seguinte o local se transformou por completo, cheio de tendas abrigando a Oktoberfest de Sydney na tarde de um sábado. Ao contrário da original de Munique, a versão australiana acontece realmente em outubro. Impressionante a quantidade de jovens espalhados pelo centro que se dirigiam ao evento vestidos a caráter, com suspensórios e chapéu de tirolês ou vestidos alpinos típicos.
Animada partida de futebol nos gramados de The Domains |
Voltando ao roteiro pela orla, segui margeando a baía, que nesta parte recebe o nome de Farm's Cove, em homenagem à fazenda original dos condenados. Nesta parte mais afastada do seu núcleo a vegetação do Jardim Botânico vai ficando mais densa até os limites do parque. A ponta rochosa da península recebe o nome de Mrs. Macquarie's Point em homenagem a Elizabeth, a esposa do governador. Aliás, ela deve ter tido muita influência no seu tempo, pois batizou duas ruas importantes nos centros de Sydney e de Hobart, a capital da Tasmânia. Elizabeth adorava passear pela região e parava para apreciar as embarcações passantes sentando num banco cavado em pedra, que passou à posteridade com o nome de Mrs. Macquarie's Chair. Hoje o panorama a partir do Mrs. Macquarie Point é ainda mais recompensador, abrangendo a Ópera e a Harbour Bridge.
Centro visto do caminho para Mrs. Macquarie's Point, com o Jardim Botânico à frente. Bem à direita, a Government House. |
Mrs. Macquarie's Point |
A maioria dos turistas dá meia volta após alcançar Mrs. Macquarie's Point, mas como eu tinha um objetivo em mente, continuei pela trilha entre o parque e a baía, rumo a Woolloomooloo (haja "o"!), passando por uma piscina olímpica aberta ao público junto à orla. Woolloomooloo era um bairro da zona portuária que foi revitalizado nas últimas décadas e que abriga também bases navais.
Jardim Botânico, The Domain, Baía de Wooloomooloo e Finger Wharf em foto tirada no mirante da Sydney Tower |
O marco mais famoso em Wooloomooloo é o chamado Finger Wharf, um píer que avança reentrância da baía adentro, parecendo realmente um dedo esticado no mapa. Com seus 410 metros de extensão é o mais longo píer sobre estacas de madeira do mundo. O Finger Wharf escapou da demolição na década de 90 graças ao clamor popular. Hoje é totalmente ocupado por uma construção com cara de shopping e fachada moderna, com bares, restaurantes, um hotel e residências luxuosas. Seu morador mais conhecido é o astro neozelandês Russell Crowe, que no ano passado recusou uma oferta de 25 milhões pela sua cobertura.
Harry's Tiger Pie |
No final do curto calçadão da orla de Woolloomooloo, após a entrada do Finger Wharf, fica o trailer do Harry's Café de Wheels, uma das instituições gastronômicas mais icônicas da cidade, especializada em tortas de carne, as meat pies. A torta australiana sempre contém carne moída e molho gravy, sendo considerada um dos pratos mais representativos do país. Já que estava ali, resolvi encarar o acepipe mais completo, a Tiger Pie (apelido do fundador Harry), que além dos ingredientes obrigatórios levava purês de batata e de ervilha em camadas superpostas com o gravy. Não achei lá grande coisa.
Rua do interior de Woolloomooloo |
Após muito tempo de caminhada, tem-se a impressão de que Woolloomooloo fica bem distante do centro da cidade, mas na realidade é um equívoco, graças ao litoral extremamente recortado de Sydney, repleto de penínsulas e enseadas. Woolloomooloo está a apenas 1,5 quilômetro do centro. Por isso, decidi retornar também a pé, cortando caminho pelo interior do bairro, apreciando a tranquilidade e as construções peculiares do local. O que me chamou mesmo a atenção foram placas como a abaixo, informando um perímetro de lei seca, mas com prazo de validade. Seria um período de experiência?
No próximo post, atravessamos a baía rumo a Manly e ao zoológico de Sydney.
⏩➧ Este é o segundo post da série sobre Sydney.
Postado por Marcelo Schor em 26.04.2018
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