Uma das caminhadas mais legais que se pode fazer em Sydney é a que percorre o bairro onde a cidade se originou,
The Rocks, e o vizinho
Millers Point. De quebra, ainda tem a Harbour Bridge, uma das pontes mais bonitas do mundo, que corta o bairro ao meio rumo ao outro lado da baía. Este foi o meu primeiro passeio a pé por Sydney, ao longo da manhã do dia seguinte à minha chegada, após exaustivas 27 horas de voo desde o Rio. A temperatura amena e o céu claro tornaram o passeio ainda mais prazeroso. Ninguém diria que no meu último dia de estadia o termômetro alcançaria inacreditáveis 37°C no final do normalmente moderado mês de outubro.
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Roteiro por The Rocks e Harbour Bridge |
O roteiro começa no
Circular Quay, a estação das barcas que singram a Baía de Sydney, ao norte do centro, e segue pelo calçadão que margeia o cais e que leva ao Terminal Marítimo onde há quase sempre um transatlântico aportado. Em plena primavera o
First Fleet Park, a praça no início do calçadão, estava linda com os jacarandás floridos em roxo. A árvore está tão presente em Sydney que há quem pense que a espécie é australiana. Sua introdução no país se atribui a um botânico inglês que foi transferido em 1816 para Sydney logo após ter estado no Rio de Janeiro.
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Os jacarandás do First Fleet Park |
Junto ao calçadão está o prédio art-déco do
Museum of Contemporary Art. O MCA é dedicado a exposições de arte moderna da Austrália e do mundo. Como não era o meu foco na hora, acabei deixando para mais tarde a visita ao conceituado museu. Acabei não o visitando; uma pena, ainda mais com a entrada sendo franca.
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Início do percurso: o calçadão que sai do Circular Quay rumo à ponte, com o MCA à esquerda. |
A casa que logo aparece atrás de um gramado é a
Cadman's Cottage, a casa mais antiga de Sydney ainda de pé, construída em 1816. Não fosse pela importância histórica, ninguém daria muita bola para a casa despretensiosa. Na época com a água na sua porta, hoje semienterrada, o tal de Cadman foi um condenado (quem leu meus posts sobre a
Tasmânia vai pensar: para variar...) que acabou virando supervisor dos barcos do governo.
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Cadman's Cottage |
A Cadman's Cottage dá de fundos para a George Street, a mais antiga rua da cidade que corta todo o centro de Sydney. É o ponto de partida para se explorar
The Rocks, o hoje charmoso bairro que foi a origem não só de Sydney mas de toda a Austrália. Afinal foi lá que aportaram os navios da frota inglesa em 1788 (daí o nome do First Fleet Park), data de início da história moderna do país. The Rocks já foi um bairro insalubre - houve uma epidemia de peste bubônica no início do século XX - de gangues e prostitutas. Hoje é um emaranhado de vielas com casas baixas, algumas no típico colonial australiano com suas varandas características. Revitalizado há algumas décadas, o lugar atualmente conta com galerias de arte, butiques, restaurantes e pubs. As ruelas apresentam nomes curiosos como Nurses Walk e Suez Canal, esta um beco estreitíssimo que começa na George Street e onde a escória assaltava os transeuntes incautos. Uns afirmam que a denominação referencia a enxurrada em que se transformava o beco em dias de chuva, enquanto outros dizem que seria um trocadilho com a palavra sewers ("esgoto"). Com tudo tão limpo e bem cuidado, fica difícil imaginar como o bairro era no passado.
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George Street em The Rocks |
Nos fins de semana as ruas do bairro ganham novos ares com o
The Rocks Market, onde muitas barracas oferecem todo tipo de produto e suvenir. A feira funciona aos sábados e domingos de 10 às 5 da tarde. Nas manhãs de sexta até as 3 da tarde é a vez do Foodies Market, com comida variada. O lado chato é que nestes três dias o bairro fica muito mais cheio, ainda mais que sempre há um navio de cruzeiro ancorado no cais ao lado. Preferi percorrê-lo numa terça-feira, bem vazio como mostram as fotos, ideal para apreciar seu ambiente e arquitetura. Como The Rocks fica colado ao Circular Quay, junto ao centro, nada impede que se passeie por suas ruas nas duas ocasiões.
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Casa colonial na Kendall Lane em The Rocks, com a Harbour Bridge ao fundo |
Emoldurando o bairro está a Harbour Bridge, a ponte que une as duas partes de Sydney divididas pela ampla baía. É impressionante como a ponte que corta o bairro ao meio o embeleza, ao contrário dos viadutos que costumam ser construídos no Brasil. Resisti à tentação de subir e percorrer a Harbour Bridge, deixando esta parte, a cereja do bolo, para o final do percurso por The Rocks, e prossegui circundando a península.
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Os arranha-céus de Sydney vistos do Dawes Point Park |
Logo cheguei ao
Dawes Point Park, no extremo de The Rocks, onde por cima a ponte inicia sua parte suspensa sobre a baía. Além da bela vista de North Sydney obtida do gramado e da visão da ponte por ângulos inusitados, o parque ainda abriga canhões sob os vergalhões, alguns vindos nos navios da First Fleet. Os canhões fazem parte do que restou da fortificação que ocupava a área antes da construção da ponte. Aliás, o nome do parque homenageia um astrônomo que também veio com a frota inaugural. Para completar, a vista para os arranha-céus de Sydney é de se tirar o chapéu.
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Do outro lado da baía, North Sydney vista do Dawes Point Park |
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Um dos canhões junto ao pilar da Harbour Bridge |
Aproveitei a beleza do Dawes Point Park para parar e descansar por vários minutos. Foi quando apareceram dois homens carregando um objeto branco parecendo ser algum aparelho, o colocaram em pé no gramado e iniciaram uma série de fotografias apontando para o dito cujo (o momento aparece em primeiro plano da foto que abre o post). Depois pegaram o objeto de volta e retornaram pelo caminho por onde vieram. Fiquei curioso para saber o que era, mas a dúvida jamais será sanada. Seriam fotos para propaganda de produto com o cenário de cartão postal ao fundo?
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O Hero of Waterloo, um dos hotéis mais antigos de Sydney |
Era hora de retornar pelo outro lado da península, descendo a Lower Fort Street ao longo do bairro de Millers Point, também recheado de construções históricas em estilo georgiano. Aqui ainda sobrevivem pubs tradicionais como o
Hero of Waterloo, um hotel inaugurado em 1843 cujo nome homenageia o Duque de Wellington, que derrotou Napoleão numa das mais famosas batalhas da História. Reza a lenda que em tempos passados homens entravam no bar, bebiam animadamente no balcão em conversa com o companheiro ao lado, desmaiavam com tanto álcool e quando acordavam, tinham se tornado marujos forçados numa embarcação qualquer singrando o Pacífico. Havia ainda um túnel ligando o porão do estabelecimento ao cais, por onde os pobres coitados eram levados junto com rum contrabandeado. O porão devidamente paramentado com algemas em suas paredes e a porta de entrada do túnel ainda existentes indicam que pelo menos parte da história é verdadeira. Sinistro...
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Lower Fort Street com a Garrison Church à direita vista de Observatory Hill |
Meu objetivo principal em Millers Point era conhecer a
Observatory Hill, uma colina onde se situava o observatório da cidade, inaugurado em 1848 com o domo semicircular característico. Hoje sedia um museu de astronomia, que tem em exibição diversos telescópios. Há desde uma relíquia de 1874 instalada para observar a trajetória de Vênus até um moderno telescópio solar de hidrogênio, e todos podem ser utilizados pelos visitantes. Uma bola enorme amarela desponta sobre um mastro na torre do observatório, instalada na sua inauguração. Ela ainda despenca pontualmente à uma da tarde, cumprindo uma tradição de décadas na sinalização da hora correta, em sincronia com o disparo do canhão em uma fortaleza no meio da baía. Certamente um programa interessante para famílias com crianças. Mais informações
neste link.
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Os tambores automáticos no teto do coreto da Observatory Hill |
A subida para a pequena colina se situa no final da Lower Fort Street junto à
Garrison Church, a primeira igreja militar construída na Austrália colonial em 1840, onde os soldados estacionados no forte de Dawes Point assistiam à missa dominical. Só que uma belíssima surpresa me aguardava em Observatory Hill. O coreto lá existente, chamado de Rotunda, estava apresentando uma atração fantástica, que constava de 38 tambores de tamanhos variados dependurados em seu teto. Controlados por um sistema, os instrumentos tocavam uma variação do Concerto para Clarinete em A maior de Mozart, com o tempo da música inspirado em movimentos de ondas e de ventos. Um espetáculo maravilhoso, que me entreteve por muitos minutos, enquanto apreciava a vista da Baía de Sydney e que ficará marcado na memória. Tive sorte, pois a apresentação fazia parte de uma mostra temporária, estando em exibição somente por mais alguns dias até o início de novembro.
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O Pilar Sul da Harbour Bridge junto ao Dawes Point Park |
A Garrison Church está situada na Argyle Street, uma rua que une Millers Point a The Rocks, através de um corte sob as pistas de acesso à Harbour Bridge. Prossegui por esta rua para alcançar a escadaria de subida à faixa de pedestres na lateral da ponte, pelo lado de The Rocks, que tem as melhores vistas. Maior marco de Sydney junto com a Ópera, a
Harbour Bridge é um colosso inaugurado em 1932 para atravessar a baía unindo as duas partes da cidade. Uma das pontes mais impactantes que já conheci, é a mais alta ponte de aço em arco do mundo, com 134 m de altura e tem uma extensão de 1,15 quilômetro. Tem pistas para transporte rodoviário e trilhos para o ferroviário, fora os caminhos para pedestres e ciclistas. Além dos arcos, sua beleza se deve aos pilares vazados em suas extremidades, mas nos surpreendemos ao saber que seu efeito é puramente estético, pois a ponte é sustentada somente pelos arcos. A Harbour Bridge com os fogos de artifício que partem dos arcos formando uma semielipse iluminada é uma imagem que varre o mundo a cada réveillon.
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A Ópera de Sydney vista da Harbour Bridge |
Em poucos minutos alcancei o Pilar Sul, de onde se pode tirar fotos da Ópera e do centro de Sydney num recuado junto à pista de pedestres. O Pilar, com entrada pelo lado de The Rocks, abriga o
Pylon Lookout, um mirante a 87 metros de altura que se alcança após galgar 200 degraus de escadaria, mas a subida não é tão cansativa, pois há níveis intermediários que contam com uma exposição sobre a construção da ponte. A admissão custava 15 dólares australianos para adultos.
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The Rocks e o centro de Sydney vistos da Harbour Bridge |
Bem mais radical, a subida ao topo da ponte pelos arcos também está disponível para os corajosos. O passeio mais curto, até a metade dos arcos, dura hora e meia, e o completo, três horas e meia. Não fiz a escalada, mas imagino que a visão lá de cima deve ser arrebatadora. De qualquer forma, seja subindo ao seu topo ou simplesmente caminhando por sua pista, passear pela Harbour Bridge é uma atividade imprescindível para quem visita Sydney.
No próximo
post, outro roteiro por duas atrações de primeira linha: a Ópera e o Jardim Botânico.
⏩➧ Este é o primeiro post da série sobre Sydney.
Postado por Marcelo Schor em 13.04.2018
Que saudades da Austrália, gosto muito desses lugares! Obrigada por compartilhar essa informação com a gente Marcelo! Beijos!
ResponderExcluirJuliana, Sydney é uma daquelas cidades que fazem com que a gente queirá voltar correndo para lá. Pena que fique tão longe!
ExcluirOi, Marcelo. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
Tudo certo,Natalie? Obrigado!
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