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Um dia nos Lagos Plitvice


A plataforma de madeira que atravessa o lago Kaluderovac 

          Maior atração natural da Croácia, os Lagos Plitvice recebem mais de um milhão de turistas por ano e não podem ficar de fora do roteiro de quem visita o país. São um conjunto de dezesseis lagos  interligados por cascatas e diques naturais e famosos pela coloração da água, que varia do azul turquesa ao cinza, dependendo da distância e da iluminação do sol. Estão situados em meio a uma floresta na serra, com altitude variando de 500 a 636 metros, perto da fronteira com a Bósnia. Foram merecidamente a primeira atração croata a figurar na lista de Patrimônios da Humanidade da Unesco em 1979, junto com o Palácio de Diocleciano em Split e a cidade medieval de Dubrovnik.

Placa  junto à Entrada 1 apresentando um diagrama dos lagos

          Quando fiz o tour pela Croácia em 2013 saí bastante chateado por não ter podido conhecer os lagos, já que no dia da minha estadia em Zagreb não pude visitá-los devido ao mau tempo (e agora comprovei o acerto da decisão, perde-se muito indo a Plitvice em dia de chuva). Neste meu retorno ao país, fiz questão de começar o roteiro em Zagreb justamente para sanar esta falha enorme no meu currículo de turista, e para não facilitar, agendei uma excursão de bate-volta para Plitvice. A visita à encantadora Varaždin, assunto do próximo post, veio como consequência, já que decidi ficar por três noites em Zagreb antes de seguir para Pula, na Ístria.

Ingresso para o Parque dos Lagos Plitvice

             Por coincidência a sede da agência Wanderer Travel e ponto de partida do tour se situava a somente quatro quadras do meu hotel, então me dirigi para lá na hora marcada, 8h20min da manhã de um quente e ensolarado sábado de início de junho (segundo os próprios zagrebinos, muito mais quente do que o esperado para um final de primavera). Havia outros dois pontos de recolhimento de passageiros no centro da cidade, e o ônibus saiu praticamente lotado às nove, dirigindo-se direto aos lagos, com apenas um pit stop em um posto de gasolina dotado de lanchonete. No grupo com o guia falando inglês, de sul-americanos somente eu e dois casais de argentinos - um mais jovem e muito simpático, com quem conversei bastante ao final, e o outro, do qual não vou me esquecer tão cedo, conforme mencionarei mais adiante.

            A autoestrada da parte inicial do trajeto foi a mesma que meu ônibus para a Ístria tomaria no dia seguinte. Depois entramos numa estrada de pista única, subindo a serra até alcançarmos o parque, criado em 1949 e abrangendo uma área de 297 km² em torno dos Lagos Plitvice.

O pórtico da entrada 2 do parque ("jezera" significa lagos em croata)

             Por volta das onze e meia da manhã chegamos à entrada 1 do parque dos lagos. Aí descobri que, além das múltiplas nacionalidades dos turistas, o que estava incluído na excursão também variava. O ingresso de 150 kunas - a quantia muda conforme o mês, sendo mais elevado na altíssima temporada, julho e agosto, quando salta para 250 kunas - não estava incluso; o pagamento à parte estava bem destacado  no prospecto da excursão. Para alguns, o preço contratado contemplava o acompanhamento do guia parque adentro (meu caso), enquanto para a maioria não incluía. Sinceramente fiquei em dúvida se valia a pena acompanhar o guia, mas acabei o seguindo para ver no que ia dar.

Vista desde a alameda junto à Entrada 1, com a Cascata Grande à direita

           O parque possui duas entradas junto à estrada, separadas por 2,5 quilômetros. Ambas se situam num nível superior bem acima dos lagos, e portanto, quem quiser ver os lagos de perto terá que descer e depois subir pela trilha, nada muito exaustivo. Os lagos são divididos em dois grupos de acordo com a altitude, os lagos superiores e inferiores. A Entrada 1 fica junto aos lagos inferiores, enquanto a 2 fica na divisão entre os dois grupos.


 foto cedida por Vinicius Buccazio

            O guia reuniu toda a trupe para informar que teríamos quatro horas e meia para explorar o parque  (parecia suficiente mas não foi) e explicou os roteiros possíveis para quem fosse se aventurar por conta própria. Após cada um pagar o ingresso, adentramos o parque. Acompanhando o guia permaneceu um grupo bem reduzido, ainda bem. Prosseguimos pela alameda de entrada até divisarmos os lagos abaixo, com a visão incrível das cascatas e daquele tom inacreditável de azul das águas. Foi aí que notei algo que me deixou gelado - uma fila enorme de gente lá embaixo, aguardando a vez de apreciar a Cascata Grande, uma das maiores atrações dos Lagos Plitvice.


O congestionamento de turistas para chegar à Cascata Grande acompanhava a margem do lago.

           Descemos a trilha rumo à cascata e passamos pela plataforma de madeira que atravessa o lago. O guia ficou nos esperando enquanto nos dirigíamos à Cascata Grande, e para minha surpresa, a fila congestionada andou bem rápido. A Cascata Grande (Veliki Slap) é uma queda de 98 metros do rio Plitvice, a mais alta cascata do parque. A trilha chega praticamente aos pés da cascata, proporcionando fotos bem interessantes. 
     
Cascata Grande

             Fomos então passando pelos lagos inferiores em sequência, pela trilha ora em terra ora nas plataformas de madeira. Pude então apreciar os tufos calcários que separam os lagos, uma espécie de planta petrificada porosa, depositados pela ação de musgos, algas e bactérias, e que crescem um centímetro por ano.



                Entre os lagos Milovac e Gavanovac estão as quedas d'água Milka. Se você pensa que é uma coincidência a queda ter o mesmo nome daquele chocolate suíço, saiba que não é. Ao avistarmos a separação dos dois lagos, o guia parou diante de uma placa com a efígie de uma senhora. Ele explicou que se tratava de Milka Trnina, uma famosa soprano croata do início do século passado que era grande apreciadora dos lagos, tendo doado quantia significativa para sua preservação. Segundo a versão, o dono da fábrica de chocolates suíça, Carl Suchard, era fã tão ardoroso da cantora que decidiu batizar um dos seus produtos com o nome dela. A bem da verdade, existe outra versão bem menos romântica que afirma que o nome do chocolate se trata simplesmente da junção das primeiras sílabas das palavras alemãs Milch e Kakao ("leite" e "cacau").



         Chegamos ao Lago Kozjak, o maior de todos os lagos inferiores. Há um barco, um dos transportes incluídos no valor do ingresso, que atravessa o lago de ponta a ponta, facilitando o acesso à Entrada 2 e aos lagos superiores. Ao chegarmos perto do cais, uma fila imensa nos aguardava para o embarque. Pela extensão da fila, o guia então alertou que levaríamos mais de uma hora de espera até nossa vez de entrar no barco. Havia uma alternativa, contornar o lago a pé pela margem sul, por uma trilha plana e sombreada pela floresta. Diante da possibilidade de passar uma hora parado sob o sol inclemente, resolvi acompanhar o guia em terra. Pessoas mais idosas preferiram o barco. Uma moça que os acompanhou confessou mais tarde ter se arrependido. O guia informou que a trilha estaria bem vazia, mas neste ponto ele falhou: a trilha estava movimentada e algumas vezes tivemos que parar para ceder passagem a algum andarilho na direção contrária. De qualquer modo, foi um caminhada agradável com um visual maravilhoso, apesar do ritmo de passo um pouco mais acelerado, e chegamos bem antes do pessoal que optou pela navegação. 

Um dos barcos atravessa o Lago Kozjak

            Com a tarde já avançando, alcançamos a extremidade do lago, onde se situa a área da Entrada 2, um lugar aprazível com restaurante e muitas mesas à sombra de árvores, ideais para piquenique. O local conta também com barcos a remo para alugar. O Vinicius, coautor do blog, alugou um quando esteve em Plitvice e adorou a experiência de remar naquele cenário paradisíaco. Ali se situava também o cais dos barcos de passageiros que chegavam, conhecido como P1.

          O guia nos avisou ainda que, devido ao adiantado da hora, muito provavelmente não daria tempo para conhecermos os lagos superiores e desaconselhou a empreitada. Moral da história: as quatro horas e meia no parque são claramente insuficientes para um dia de fim de semana que tenha afluxo grande de turistas, com barco lotado e plataformas cheias.


           
           Morto de fome, almocei um cheeseburger com fritas no restaurante do local, enquanto o guia ia aguardar o restante do grupo que deveria desembarcar. Para complicar um pouco a tarefa dele, as embarcações se alternavam entre dois cais diferentes. Para voltar após a reunificação do grupo, subimos a encosta e tomamos o shuttle, um trenzinho que conecta as entradas e também um outro ponto nos lagos superiores. Na realidade, o ponto terminal do shuttle fica um  pouco distante da Entrada 1. Seguimos então por um caminho de onde pudemos apreciar do alto os lagos e quedas d'água pelos quais tínhamos passado, até a alameda por onde entramos no final da manhã.

         Às quatro, era hora de encontrar aqueles que tinham resolvido encarar o parque por conta própria e retornar a Zagreb. Só que não... Aquele casal de argentinos simplesmente não apareceu. Depois de muitos minutos de espera e a crescente inquietação de todos os excursionistas, acabaram localizados num ponto distante do parque. O guia decidiu enviar um veículo para pegá-los na Entrada 2 e acabamos só deixando Plitvice às cinco. Tempo que poderia ter sido aproveitado na incursão aos lagos superiores. O mais desconcertante é que o casal não esboçou pedido de desculpas nem ao guia nem aos colegas do tour, agindo como se fosse perfeitamente normal tamanho atraso. Muita desconsideração. Até o guia, que já deve ter vivido situações semelhantes, ficou muito irritado, lembrando as complicações que ocorreriam se alguém tivesse um compromisso inadiável àquela noite.

As quedas Kozjak separam o lago de mesmo nome (acima) do Lago Gradinsko

Algumas considerações:
  • O parque é muito bem sinalizado e a presença do guia realmente é dispensável para quem gosta de ter mais liberdade. 
  • Ao final do roteiro percorrido, o guia nos informou que tínhamos andado uns sete quilômetros. Mesmo se utilizando o barco, é muito chão. Adicionando-se os desníveis, a caminhada completa não é aconselhável para quem possui deficiência física. 
  • Só há restaurantes nas entradas e nos cais, por isso é bom levar lanche e líquido para a caminhada.
  • A tentação é grande, mas é proibido se banhar nas águas do parque.  
  • É pouco provável você se deparar com um urso (estampado no logotipo do parque) ou cervos, raposas, linces e outros mamíferos que vivem na área. Já as aves são mais fáceis de avistar. 
  • Uma constatação triste é saber que Plitvice foi um dos lugares com grande número de minas terrestres colocadas durante a guerra contra os sérvios na década de 90. Oficialmente todas já foram desativadas e retiradas, mas não custa tomar cuidado e se ater às trilhas demarcadas.
  • Para quem deseja passar mais de um dia passeando pelos lagos, há hotéis no parque. Surpreendentemente o guia confidenciou que, devido à poluição causada por estes alojamentos, a Unesco já enviou advertências à administração, e caso nada seja feito há risco de ser retirado o título de Patrimônio da Humanidade. Seria uma pena, um golpe e tanto no turismo croata. 
Vista aérea das Quedas Milka, entre os Lagos Milovac (acima) e Gavanovac


Como chegar a Plitvice por transporte público:

Plitvice está situada numa estrada que une Zagreb a Zadar, portanto ônibus oriundos das duas cidades param em ambas as entradas. No entanto, convém verificar os horários, porque somente alguns ônibus passam por esta estrada, outros seguem pela autoestrada. As duas entradas contam com guarda-volumes para quem quiser passar o dia no parque no caminho entre Zagreb e Zadar.


⇨ Para visualizar os demais posts sobre a Croácia publicados no blog, acesse aqui.

   
 Postado por  Marcelo Schor  em 26.07.2018 

2 comentários:

  1. Oi, Marcelo. Tudo bem? :)

    Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Bóia – Natalie

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