Escolhi Pula como base da minha estadia na Ístria pelos preços mais em conta. Achei a cidade bem mais tranquila e aconchegante que
Rovinj ou Porec. Hospedei-me no
Hotel Amfiteatar. Como o nome sugere, o hotel fica praticamente colado à maior atração de Pula e bem perto do calçadão histórico. A maioria das acomodações de Pula fica na Península de Verudela, a quatro quilômetros de distância, onde se situam as praias e o aquário da cidade. Como sempre faço, optei ao invés por um hotel perto das atrações históricas que queria visitar. O quarto do hotel era bom, o café da manhã, razoável, e a localização, excepcional. Acabei não experimentando seu restaurante, considerado um dos melhores da cidade pelo guia de viagem que levei. De quebra, o Amfiteatar se situava a dez minutos de caminhada da estação rodoviária, que utilizei praticamente todos os dias, seja na chegada de
Zagreb (trajeto de 3h45min comprado on-line com antecedência) ou nos bate-voltas às demais cidades da Ístria. A estação rodoviária ainda é ponto terminal do shuttle para o aeroporto, situado a sete quilômetros de distância e o único da Ístria que a conecta a diversos destinos europeus.
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Hotel Amfiteatar com o anfiteatro ao fundo |
Não nego que fiquei completamente fascinado pelo
Anfiteatro, também chamado de Arena de Pula. É espantoso que exista uma construção fora da Itália naquele tamanho gigantesco (uma estrutura oval de 133 x 105 metros), semelhante ao Coliseu e com estrutura exterior bem conservada. Completado no final do século I sob o governo de Tito, poucas décadas após a chegada dos romanos à região, tinha capacidade para 20.000 espectadores, várias vezes a população de Pula à época, sendo hoje o sexto maior dentre os anfiteatros remanescentes. Os embates de gladiadores ocorreram até o século V, quando foram proibidos, e as lutas com feras duraram mais dois séculos. Sem uso, a arena entrou em decadência, sendo depenada ao longo dos séculos seguintes para a construção de outros monumentos na própria Pula.
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Outro ângulo do Anfiteatro de Pula |
Se a fachada em calcário local - magnífica sob o sol do final de tarde - está em geral muito bem conservada, o mesmo não acontece com o interior do anfiteatro. As arquibancadas no entanto foram restauradas e hoje abrigam durante o verão o público dos shows e concertos que acontecem no espaço com acústica ímpar. Nesta temporada de 2018 acontecem algumas apresentações, entre as quais a do cantor francês Charles Aznavour. O Festival de Filme de Pula também tem lugar no anfiteatro por uma semana a cada mês de julho.
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Interior do anfiteatro |
O subsolo, que há quase dois mil anos continha as celas dos cristãos e das feras que enfrentariam, hoje abriga uma exposição sobre a história do cultivo da produção de vinho e de azeite de oliva, dois dos maiores produtos agrícolas da Ístria, com utensílios da época. Ocasionalmente no anfiteatro há atores fantasiados de gladiadores, ansiosos para cobrar uns níqueis em troca de uma foto. O ingresso para o anfiteatro custou 50 kunas, e durante o verão a atração fica aberta das 8 às 21 horas.
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A Fortaleza no alto da colina |
Muitos turistas passam pouco tempo em Pula e limitam a visita somente ao Anfiteatro, o que é um erro. Existem várias outras atrações espalhadas pelo centro histórico, disposto em semicírculo ao redor da colina da fortaleza veneziana do século XVII, que tem formato de estrela de quatro pontas. A subida à
Fortaleza vale pela vista; há lá um museu histórico, mas não cheguei a visitá-lo, pois todas as resenhas que li diziam que seu acervo era fraco.
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Maquete de Pula de antigamente |
A praça ao final da rua do hotel marca o início da rua de pedestres que é o eixo do centro antigo, e onde estão situadas a maioria das construções de destaque. Vale a pena dar uma parada nessa praça para apreciar a maquete que mostra a Pula de antigamente, com destaque para o anfiteatro e a fortaleza. É curioso registrar que esta foi a terceira maquete de metal deste tipo que encontrei na Croácia - as demais foram em
Split e
Varaždin. Acho fantásticos estes modelos, uma forma interessante de se avaliar a evolução da cidade até os dias de hoje e o grau de conservação de suas construções históricas.
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Rua Kandlerova, rua do centro histórico que abriga alguns restaurantes |
Ao longo da rua de pedestres que tem o nome de
Kandlerova e depois
Via Sergia, se sucedem as construções:
- a Catedral de Santa Maria, cujas fundações datam do século IV e que desde então vem sendo ampliada. O piso inclusive contém fragmentos de mosaicos dessa época. A Torre em frente é bem mais recente, erigida no século XVIII com as pedras oriundas do Anfiteatro, quando a igreja também adquiriu sua fachada atual.
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A Catedral de Pula |
- o Forum, a praça onde se localizava o Fórum romano. Desse período, hoje sobrevive o Templo de Augusto, inaugurado no ano 14 para o culto ao imperador. O destaque vai para as seis colunas coríntias da sua frente. Seu interior apresenta uma exibição de alguns artefatos romanos achados em Pula. Ao seu lado, o prédio gótico da Prefeitura é obviamente mais recente, do final do século XIII, ocupando o lugar de um templo dedicado à deusa Diana.
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O Templo de Augusto |
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A Praça do Forum, com a Prefeitura à esquerda |
- O Arco de Sérgio, marcando o final da rua, também chamado de Portão Dourado, foi construído no ano 30 em homenagem a três membros da família Sergius (que devia ser bem proeminente, já que batizou também a rua principal). Originalmente por ali passava a muralha da cidade.
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O Arco de Sérgio |
Curioso foi me deparar bem perto do Arco com uma estátua em tamanho real do escritor irlandês
James Joyce, meio escondida na varanda coberta de um bar, sugestivamente chamado Uliks. Depois vim a saber que o celebrado autor da obra-prima
Ulisses passou uma temporada em Pula na sua juventude
junto com sua futura esposa, onde trabalhou por algum tempo. O bar fica justamente no edifício onde se situava a escola onde Joyce lecionava.
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A estátua de James Joyce na varanda do bar |
Com tudo isso que apresentei e levando em conta meu gosto por atrações históricas, Pula foi de longe minha cidade favorita na Ístria. Desbancou a muito mais badalada Rovinj de forma surpreendente.
P.S: Recentemente descobri uma conexão de Pula com o filme
A Noviça Rebelde. Era ali que a família Von Trapp morava inicialmente. O patriarca, sendo capitão da Marinha austro-húngara, servia em Pula, importante porto do Império. Devastado com a morte de sua esposa, ele se mudou com os filhos para Salzburg no início da década de 20 do século passado, onde conheceu a noviça Maria e com ela se casou.
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Postado por Marcelo Schor em 30.08.2018
Oi, Marcelo. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
Oi, Natalie.
ExcluirQue legal, depois do post sobre os Lagos Plitvice termos outro relato sobre a viagem à Croácia selecionado pelo VnV. Obrigado.
Olá Marcelo. Muito bons seus comentários sobre a Croacia. Gostaria de montar uma base para conhecer a Istria vindo de Zagreb. Estamos em dúvida se ficamos em Pula, Rovinj ou Porec. Você tem alguma sugestão? Obrigado
ResponderExcluirBom dia, Marco. Há alguns fatores a considerar, como quais outras cidades da Istria você quer conhecer e se usará carro alugado ou ônibus para os deslocamentos. Rovinj está melhor posicionada para bate-voltas, entre as outras duas. É uma cidade mais turística, mais cheia e mais cara. Preferi me hospedar no centro de Pula,uma cidade mais tranquila e mais barata. Na minha opinião Porec fica atrás de Rovinj e Pula em termos de atrações.
ResponderExcluirAbcs.