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Rovinj, a Croácia à italiana

Rovinj, a Croácia à italiana - Álbum de Viagens
Rovinj

           Rovinj (lê-se rovinh) é inegavelmente uma das cidades mais bonitas da costa croata. Principal atração turística da Ístria, se pode tranquilamente confundir uma de suas fotos com a de alguma localidade italiana. E afinal das contas, Rovinj também atende pelo nome italiano Rovigno.

Mapa da Ístria, com as cidades que já visitei. Ao norte, a Eslovênia (cidade de Koper) e a oeste, a Itália (Trieste e Veneza)

           Mas afinal onde fica a Ístria? Trata-se de uma península no Mar Adriático em formato de triângulo apontado para baixo, fincada no extremo oeste da Croácia. A Ístria atrai turistas de toda a Europa pelos resorts, cidades históricas e, no campo culinário, por suas inigualáveis trufas. Para se ter uma ideia da proximidade com a Itália, uma das cidades que visitei, Porec, se situa a somente 70 quilômetros rodoviários de Trieste (que aliás tem o nome croata difícil de pronunciar, Trst). A Ístria é de acesso fácil a partir de Veneza, Liubliana ou Zagreb, como foi o meu caso. É tão badalada como destino turístico que quatro das cinco cidades mais visitadas da Croácia estão na Ístria, com a campeã Rovinj ganhando da superbadalada Dubrovnik. Um espanto.

Marina de Rovinj - blog Álbum de Viagens
Marina de Rovinj com o belo casario 
Costa norte da península, onde ao estilo italiano as casas estão debruçadas  n'água

        Estando a meio caminho entre ocidente e oriente na Europa, a Ístria esteve sob diversos domínios ao longo do tempo. Foi romana por muitos séculos, com número impressionante de vestígios nos dias de hoje, especialmente em Pula, sua maior cidade. Passou então ao domínio veneziano, e depois, austríaco. Entre as duas guerras mundiais, foi ocupada pela Itália, só se tornando iugoslava com o fim da Segunda Guerra Mundial, quando houve um êxodo da população de origem italiana. Com tanto vai-e-vem, a Ístria é oficialmente bilíngue, com as placas de direção nas estradas ostentando tanto o croata quanto o italiano. A influência italiana é sentida principalmente nas cidades costeiras.

Vista aérea da cidade medieval de  Rovinj - fonte: creative commons; Jeroen Komen from Utrecht CC BY-SA 2.0

        Na realidade foi Rovinj que me fez incluir a Ístria em meu roteiro. Quando subi no campanário de Split em 2013, um casal brasileiro que estava lá havia acabado de chegar de Rovinj e teceu comentários maravilhosos sobre a cidade, da qual eu tinha ouvido falar pouco. Desde então eu alimentava a vontade de conhecê-la.

O número de chaminés, característica de Rovinj, rivaliza com o de antenas parabólicas

       Visitei Rovinj a partir de Pula (assunto do próximo post), que não é tão turística e consequentemente é mais barata. As duas cidades distam 35 quilômetros entre si, e há vários horários de ônibus as interligando ao longo do dia. Paguei 37 kunas pelo trajeto de 50 minutos, que pode variar bastante dependendo dos desvios que o ônibus faça pelas vilas do caminho. A volta por exemplo foi mais longa, pois o veículo entrou na vila de Bale - não que eu tenha achado ruim, Bale é outra atração turística da Ístria, com suas casas de pedra e ruas medievais. A rodoviária de Rovinj tem localização muito boa,  colada ao centro histórico.

            Numa segunda-feira extremamente ensolarada de junho encontrei uma Rovinj lotada de turistas que enchiam suas vielas estreitas. Um fator que saltou aos olhos foi a diferença de preços da comida entre Rovinj e Pula, bem mais cara na primeira. É o efeito turista-saindo-pelo-ladrão...

A pitoresca Praça da Ponte

                 O que atrai tanta gente a Rovinj é sua incrível cidade histórica, situada numa península oval. Na realidade, a cidade fundada no século III ocupava originalmente uma ilha; com a expansão das casas, o canal que separava a ilha do continente foi aterrado no século XVIII, época do apogeu como centro marítimo. Por sinal, um dos largos de arquitetura mais curiosa da cidade, a Praça da Ponte (Trg na Mostu), apesar do nome é todo cercado de prédios - ali ficava a ponte sobre o canal, que ligava o continente à ilha. E a preservação das construções seculares faz com que na foto da vista aérea mais  acima se perceba claramente onde se situava o canal, na borda inferior da foto.

Portão da Cruz Sagrada, um dos três portões ainda existentes remanescentes da muralha medieval 

                     É impossível não se encantar com a arquitetura veneziana de casas multicoloridas sobre a encosta debruçada sobre o Mar Adriático por três lados. Da muralha que cercava a cidade medieval sobrou muito pouco - três portões dos sete originais.

Igreja de Santa Eufêmia em Rovinj - blog Álbum de Viagens
A subida leva à Igreja de Santa Eufêmia
Igreja de Santa Eufêmia em Rovinj - blog Álbum de Viagens
A Torre de Santa Eufêmia

            Como toda cidade deste tipo, o ideal é se perder pelas ruas apreciando a atmosfera. No caso de Rovinj, todas as ruelas que sobem a colina da península parecem levar à construção mais icônica da cidade - a  barroca Igreja de Santa Eufêmia.  Erguida no topo do morro no mesmo século XVIII, a igreja abriga o sarcófago em mármore da santa padroeira, jogada às feras em Constantinopla no século IV, a mando de Diocleciano. O sarcófago estava guardado em Constantinopla até o ano 800, quando foi removido do lugar devido à chegada ao poder de iconoclastas, reaparecendo jogado pelo mar durante uma tempestade na costa de Rovinj no mesmo ano. Como chegou lá é um mistério.

              A igreja ainda apresenta a estátua em cobre de Santa Eufêmia instalada num lugar inusitado - sobre a torre de 60 metros de altura. Além de se destacar no horizonte da cidade, a estátua serve de catavento aos habitantes, girando ao sabor do vento. É vinte anos mais nova que a torre, substituindo uma estátua de madeira destruída por um raio. Dá para reparar ainda na semelhança da torre com a veneziana Igreja de São Marco; dizem que foi mesmo inspirada nela.

Vista obtida do pátio da Igreja de Santa Eufêmia

         Considerada a rua principal da cidade medieval, a Grisia é uma das ruas de calçamento de pedra que sobem a península e está recheada de lojinhas e galerias de arte. Bem no estilo das cidadezinhas medievais da Provença, nas últimas décadas muitos artistas fizeram de Rovinj sua moradia e fonte de inspiração.

Grisia, rua principal da cidade antiga em Rovinj - Álbum de Viagens
Rua Grisia

                Existem dois museus  em Rovinj que podem ser de interesse. O primeiro é a Casa Batana, situado na rua da orla. O museu em multimídia, que já obteve diversos prêmios, é dedicado a uma das atividades mais importantes da cidade até os dias atuais, a pesca, mais especificamente aos barquinhos de madeira com fundo chato utilizados pelos pescadores, que são as tais batanas. Já o segundo, o Museu da Cidade, no largo principal, a Praça Marechal Tito, tem um acervo mais eclético, uma mistura de artefatos antigos e de arte  renascentista e contemporânea. Mesmo que você não entre, vale a pena apreciar a fachada em vermelho do palácio barroco de quatro andares onde está instalado.

Praça Marechal Tito em Rovinj - blog Álbum de Viagens
Torre do Relógio

              Falando na praça principal (que tem o nome do controverso presidente iugoslavo que governou o país por 35 anos após a Segunda Guerra Mundial), o destaque por ali é a Torre do Relógio, com o mesmo tom impactante de vermelho, erguida no século XIX. Uma bela fonte na praça homenageia mais uma vez a atividade da pesca.

Fonte do Menino Segurando Peixe na Praça Marechal Tito

           As praias de Rovinj ficam ao sul do centro histórico, a mais próxima a cerca de dois quilômetros, ou na ilha em frente. São no estilo croata, de pedrinhas ao invés de areia. Não cheguei a visitá-las.

        No próximo post apresentamos Pula, uma cidade com ruínas romanas que incluem um anfiteatro bem semelhante ao Coliseu romano. Tão próxima e tão diferente de Rovinj...

⇨ Para visualizar os demais posts sobre a Croácia publicados no blog, acesse aqui.


 Postado por  Marcelo Schor  em 18.08.2018  


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