Rua Bakaceva, junto à Galeria de Arte |
Você já ouviu falar de Varaždin? Pois é, esta cidade croata para lá de interessante é pouco conhecida pelos turistas brasileiros e fica a apenas 80 quilômetros ao norte de Zagreb, perto da fronteira com a Eslovênia e a Hungria. Varaždin (o ž tem som de "j") é um dos maiores exemplos de arquitetura barroca preservada da Europa Central. De quebra ainda possui um castelo, além de um museu fora do comum dentro dos limites do centro da cidade. Até o cemitério é uma de suas maiores atrações turísticas, e com razão.
Os bueiros também são bonitos e originais, apresentando o brasão de armas |
Mas porque a cidade possui toda esta riqueza arquitetônica? Varaždin já existia no início do século XIII, quando foi promovida a vila real. Devido à sua posição estratégica, foi um posto militar importante na defesa do império dos Habsburgo contra os invasores otomanos ao longo dos anos. Várias famílias nobres se estabeleceram na cidade, até que em 1756 foi escolhida como capital da Croácia, e, claro, floresceu. Vinte anos mais tarde, um incêndio que durou três dias destruiu grande parte do casario e a capital foi definitivamente transferida para Zagreb. Os belos palácios dos nobres foram aos poucos reconstruídos, mas a cidade nunca mais readquiriu a importância anterior. Hoje com 48.000 habitantes, é uma cidade universitária, com indústrias ligadas às áreas têxtil e da Tecnologia de Informação. Alguns dos palácios opulentos foram transformados em museus.
Se Varaždin é uma espécie de mini-Viena pela quantidade de palácios barrocos em tons pastel, pelas muitas bicicletas se aproxima mais de alguma localidade holandesa. Legal foi notar vários idosos pedalando pelas suas ruas. As bicicletas contribuem para dar um ar ainda mais encantador ao centro, que de tão limpo e conservado parece até cenário de filme de época.
O monumento mais importante da cidade é seu Castelo, caiado de branco, construído no século XV e transformado em fortaleza no século XVI para conter a ameaça das forças turcas que invadiam o país. Com sua aparência medieval, efeito das várias torres, o castelo-fortaleza é curiosamente chamado no mapa que peguei no escritório de turismo (na rua que leva à Igreja Ursulina) simplesmente de "Cidade Velha".
A entrada para o Castelo está situada na Praça Stančić, por um portão acessado por uma ponte sobre o antigo fosso de defesa da fortaleza. Hoje abriga o Museu da Cidade, uma coleção de armas, mobília e vestuário, que dá uma ideia abrangente de como era a vida na cidade ao longo dos seus séculos de existência. Excelente para quem curte história.
A Galeria de Arte Antiga e Moderna está situado no Palácio Sermage que, embora erguido em estilo rococó em 1750, apresenta uma fachada de vanguarda com figuras geométricas na cor laranja. A Galeria ocupa todo um lado da praça de acesso ao Castelo, e apresenta obras de mestres italianos, holandeses e croatas do século XV até a atualidade, com ênfase no período barroco, como era de se esperar. O acervo inclui trabalhos do pintor nascido em Varaždin que dá nome à praça, Miljenko Stančić, falecido em 1977 e cuja especialidade era retratar paisagens e cenas locais com um olhar difuso, como se os cenários estivessem envoltos em neblina.
Mas o coração da cidade é mesmo a Praça Rei Tomislau I (Trg Kralja Tomislava), nomeada em honra do primeiro monarca croata, que governou o país no século X. A praça é completamente rodeada de construções cujas fachadas apresentam detalhes rebuscados típicos do período áureo de Varaždin. O prédio barroco que se destaca é o da Prefeitura, com sua torre e relógio, que ocupa o local desde o século XVI. Ao apreciarmos a fachada se nota o brasão de armas da cidade, criado em 1464 e um dos mais antigos da Europa, no pé da torre dentro de um triângulo em relevo. O brasão também aparece em algumas igrejas. Para deleite dos turistas, há troca de guarda diante da Prefeitura aos sábados às onze da manhã, com os sentinelas trajando uniformes garbosos da época do Império Austro-Húngaro.
A construção cor de creme ao lado da Prefeitura, o Palácio Draskovic, está ligado a um rumor que, se verdadeiro, definiu o destino de Varaždin. Nele morava uma belíssima mulher, Suzana Draskovic; ao se tornar viúva, ela teria feito com que o governante da Croácia mudasse efetivamente a Corte para a cidade em 1756 para estar ao seu lado... Na ocasião o Palácio se transformou na sede do Parlamento croata, o tradicional Sabor.
Uma maquete de metal no canto sul da praça, ao lado da Catedral, mostra como era o local nessa época. O espantoso é constatar que, exceto pelos toldos das mesas de restaurante espalhadas, muito pouco se alterou. Um trabalho excepcional de restauração.
Bem perto dali, um dos palácios mais chamativos abriga um museu peculiar. No neoclássico Palácio Hercer está instalado o Mundo dos Insetos, com mais de 4.500 insetos de mil espécies coletados por um entomologista local. O destaque vai para a coleção de borboletas e para as mostras do habitat dos insetos.
Diferente também é o Cemitério, uns poucos quarteirões a oeste do centro. Com as alamedas totalmente ladeadas por árvores coníferas podadas, o cemitério centenário mais se assemelha a um parque, com as mais de 10.000 árvores cuidadosamente esculpidas desviando totalmente a atenção dos túmulos. O local é tão aprazível que é usado pela população local para caminhadas, e certamente tem lugar de honra na lista dos cemitérios mais bonitos que já visitei na Europa, junto com o cemitério de Bonifácio na Córsega.
Almocei no bom restaurante Park (Ul. Juraja Habdeliča nº 6), situado no hotel de mesmo nome, num local muito agradável ao final de uma pequena rua sem saída. Na varanda junto ao dito parque saboreei o Ravioli Park, um ravióli ao molho branco misturado a legumes.
A normalmente pacata Varaždin se transforma no final de agosto, quando sedia o Festival de Spancirfest, que dura dez dias e enche as ruas com apresentações de músicos, acrobatas e outros artistas. Um mês mais tarde, nas duas últimas semanas de setembro, acontece o mais tradicional Festival de Noites Barrocas nos teatros e igrejas como a Catedral, com concertos de música barroca de Bach a Vivaldi, que combinam em tudo com a atmosfera clássica da cidade. A cada ano, músicos de determinado país são também convidados a se apresentar, inserindo um toque diferente ao concerto; em 2018 virão músicos japoneses. Taí uma combinação curiosa, música barroca em estilo nipônico.
Eu tinha duas opções para fazer o bate-volta desde Zagreb: por ônibus (entre 1h40min e 2h10min de viagem) ou por trem (2h20min de viagem). Com maior número de frequências, praticamente uma por hora, optei pelo ônibus, cuja estação fica bem no centro de Varaždin. Mas atenção, o preço dos ônibus mais rápidos era 72% superior aos paradores , 81 kunas contra 47. Diversas companhias fazem o trajeto, por isso não compre tíquete de ida e volta - o horário fica em aberto, mas uma companhia não aceita o bilhete emitido para a outra
⇨ Para visualizar os demais posts sobre a Croácia publicados no blog, acesse aqui.
Se Varaždin é uma espécie de mini-Viena pela quantidade de palácios barrocos em tons pastel, pelas muitas bicicletas se aproxima mais de alguma localidade holandesa. Legal foi notar vários idosos pedalando pelas suas ruas. As bicicletas contribuem para dar um ar ainda mais encantador ao centro, que de tão limpo e conservado parece até cenário de filme de época.
O Castelo de Varazdin |
O monumento mais importante da cidade é seu Castelo, caiado de branco, construído no século XV e transformado em fortaleza no século XVI para conter a ameaça das forças turcas que invadiam o país. Com sua aparência medieval, efeito das várias torres, o castelo-fortaleza é curiosamente chamado no mapa que peguei no escritório de turismo (na rua que leva à Igreja Ursulina) simplesmente de "Cidade Velha".
O portão de entrada do Castelo |
A entrada para o Castelo está situada na Praça Stančić, por um portão acessado por uma ponte sobre o antigo fosso de defesa da fortaleza. Hoje abriga o Museu da Cidade, uma coleção de armas, mobília e vestuário, que dá uma ideia abrangente de como era a vida na cidade ao longo dos seus séculos de existência. Excelente para quem curte história.
O pátio interno do Castelo |
A Galeria de Arte Antiga e Moderna está situado no Palácio Sermage que, embora erguido em estilo rococó em 1750, apresenta uma fachada de vanguarda com figuras geométricas na cor laranja. A Galeria ocupa todo um lado da praça de acesso ao Castelo, e apresenta obras de mestres italianos, holandeses e croatas do século XV até a atualidade, com ênfase no período barroco, como era de se esperar. O acervo inclui trabalhos do pintor nascido em Varaždin que dá nome à praça, Miljenko Stančić, falecido em 1977 e cuja especialidade era retratar paisagens e cenas locais com um olhar difuso, como se os cenários estivessem envoltos em neblina.
Poço medieval em frente à Galeria de Arte |
Mas o coração da cidade é mesmo a Praça Rei Tomislau I (Trg Kralja Tomislava), nomeada em honra do primeiro monarca croata, que governou o país no século X. A praça é completamente rodeada de construções cujas fachadas apresentam detalhes rebuscados típicos do período áureo de Varaždin. O prédio barroco que se destaca é o da Prefeitura, com sua torre e relógio, que ocupa o local desde o século XVI. Ao apreciarmos a fachada se nota o brasão de armas da cidade, criado em 1464 e um dos mais antigos da Europa, no pé da torre dentro de um triângulo em relevo. O brasão também aparece em algumas igrejas. Para deleite dos turistas, há troca de guarda diante da Prefeitura aos sábados às onze da manhã, com os sentinelas trajando uniformes garbosos da época do Império Austro-Húngaro.
Praça Rei Tomislau com a Prefeitura e o Palácio Draskovic à direita |
A Prefeitura de Varazdin |
A construção cor de creme ao lado da Prefeitura, o Palácio Draskovic, está ligado a um rumor que, se verdadeiro, definiu o destino de Varaždin. Nele morava uma belíssima mulher, Suzana Draskovic; ao se tornar viúva, ela teria feito com que o governante da Croácia mudasse efetivamente a Corte para a cidade em 1756 para estar ao seu lado... Na ocasião o Palácio se transformou na sede do Parlamento croata, o tradicional Sabor.
Uma maquete de metal no canto sul da praça, ao lado da Catedral, mostra como era o local nessa época. O espantoso é constatar que, exceto pelos toldos das mesas de restaurante espalhadas, muito pouco se alterou. Um trabalho excepcional de restauração.
Outro aspecto da Praça Rei Tomislau em foto tomada diante da porta da Prefeitura |
Bem perto dali, um dos palácios mais chamativos abriga um museu peculiar. No neoclássico Palácio Hercer está instalado o Mundo dos Insetos, com mais de 4.500 insetos de mil espécies coletados por um entomologista local. O destaque vai para a coleção de borboletas e para as mostras do habitat dos insetos.
Mundo dos Insetos no Palácio Hercer |
Diferente também é o Cemitério, uns poucos quarteirões a oeste do centro. Com as alamedas totalmente ladeadas por árvores coníferas podadas, o cemitério centenário mais se assemelha a um parque, com as mais de 10.000 árvores cuidadosamente esculpidas desviando totalmente a atenção dos túmulos. O local é tão aprazível que é usado pela população local para caminhadas, e certamente tem lugar de honra na lista dos cemitérios mais bonitos que já visitei na Europa, junto com o cemitério de Bonifácio na Córsega.
O cemitério de Varazdin e sua parede de árvores |
O Memorial aos Mortos da Segunda Guerra Mundial ocupa posição central no cemitério |
Almocei no bom restaurante Park (Ul. Juraja Habdeliča nº 6), situado no hotel de mesmo nome, num local muito agradável ao final de uma pequena rua sem saída. Na varanda junto ao dito parque saboreei o Ravioli Park, um ravióli ao molho branco misturado a legumes.
Igreja de São Nicolau, onde acontecem algumas apresentações nas Noites Barrocas |
A normalmente pacata Varaždin se transforma no final de agosto, quando sedia o Festival de Spancirfest, que dura dez dias e enche as ruas com apresentações de músicos, acrobatas e outros artistas. Um mês mais tarde, nas duas últimas semanas de setembro, acontece o mais tradicional Festival de Noites Barrocas nos teatros e igrejas como a Catedral, com concertos de música barroca de Bach a Vivaldi, que combinam em tudo com a atmosfera clássica da cidade. A cada ano, músicos de determinado país são também convidados a se apresentar, inserindo um toque diferente ao concerto; em 2018 virão músicos japoneses. Taí uma combinação curiosa, música barroca em estilo nipônico.
Igreja Ursulina, outro local dos concertos em setembro |
Como chegar a Varaždin por transporte público:
Eu tinha duas opções para fazer o bate-volta desde Zagreb: por ônibus (entre 1h40min e 2h10min de viagem) ou por trem (2h20min de viagem). Com maior número de frequências, praticamente uma por hora, optei pelo ônibus, cuja estação fica bem no centro de Varaždin. Mas atenção, o preço dos ônibus mais rápidos era 72% superior aos paradores , 81 kunas contra 47. Diversas companhias fazem o trajeto, por isso não compre tíquete de ida e volta - o horário fica em aberto, mas uma companhia não aceita o bilhete emitido para a outra⇨ Para visualizar os demais posts sobre a Croácia publicados no blog, acesse aqui.
Postado por Marcelo Schor em 07.08.2018
Vou a Varazdin em junho. Gostei muito do post. Conhece alguma outra cidade interessante para indicar próxima de Varazdin?
ResponderExcluirIngrid,
ExcluirQue legal, você vai gostar de Varazdin, e a visitará na época em que fui. Uma outra cidade no estilo histórico de Varazdin é Samobor, a oeste de Zagreb, um pouco menor. Não é propriamente perto, a distância entre as duas é de cerca de 100 quilômetros (mas fica bem perto de Zagreb). Mencionei Samobor no post com as dicas sobre a Croácia:
https://www.albumdeviagens.com/2013/11/dicas-para-viajar-pela-croacia.html
abç.