Plymouth está localizada em Massachusetts, a 64 quilômetros ao sul de
Boston. A cidade litorânea de 58.000 habitantes tem papel fundamental na História dos Estados Unidos, pois foi aqui que em 1620 aportou a nau
Mayflower, que trazia os primeiros peregrinos que povoariam a Nova Inglaterra. Este acontecimento é relembrado em vários aspectos em Plymouth, o que a torna um destino bem interessante para um bate-volta a partir da capital do estado.
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Modelo do Mayflower exposto na sede da Plymoth Plantation |
Os Peregrinos (em inglês, Pilgrims) eram puritanos, protestantes ingleses que buscavam a liberdade religiosa que não tinham mais em sua terra natal. O Mayflower sofreu alguns reveses no seu trajeto pelo Oceano Atlântico e acabou chegando em solo americano numa época infeliz, no final do ano, início do inverno rigoroso. Como resultado, após algumas semanas metade dos colonos já havia perecido devido ao frio. O restante conseguiu sobreviver graças a
Massasoit (qualquer semelhança com o nome do estado não é coincidência, "massa" significa grande em algonquiano), chefe indígena da tribo Wampanoag, que populava a região. Nos quarenta anos seguintes Massasoit ensinou técnicas de caça, pesca e cultivo aos recém-chegados e ainda os abrigou numa aldeia abandonada tempos antes devido à morte dos habitantes nativos originais, dizimados pela varíola espalhada pelos homens brancos. Agradecidos, alguns anos depois os peregrinos com seus cuidados conseguiram salvar a vida do cacique, quando este adoeceu gravemente. A colônia então floresceu, sendo considerada hoje o marco zero da povoação europeia nos Estados Unidos. Há registros do que é considerada a primeira celebração de Thanksgiving em 1621, com a participação conjunta de peregrinos e indígenas. No entanto, poucos anos após a morte de Massasoit, já bem idoso, a cooperação entre índios e brancos foi para o brejo, e irrompeu uma guerra sangrenta, a chamada Guerra do Rei Phillip, dando início aos inúmeros conflitos que vararam os séculos.
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Estátua de Massasoit localizada na colina em frente à Plymouth Rock |
Para lembrar estes pioneiros, um pouco afastado do centro um monumento gigantesco numa pequena colina gramada os homenageia. O
National Monument to the Forefathers foi inaugurado em 1889 e, com 25 metros de altura, é o maior monumento em granito do mundo. Cada estátua homenageia pilares do modo de vida dos peregrinos: fé (a estátua maior), moral, justiça, educação e liberdade. Achei o monumento bem bacana e estranhei o pouco destaque normalmente dado a ele entre as atrações de Plymouth. Pena que tenha sido o último local que visitamos antes de voltar a Boston, e sua frente estava encobrindo o sol poente, impedindo boas fotos.
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National Monument to the Forefathers |
Os norte-americanos acorrem a Plymouth para apreciar a
Plymouth Rock, uma rocha que dizem marcar o local exato onde os peregrinos aportaram. Seria então uma espécie de Monte Pascoal em versão reduzida. Reduzidíssima, na verdade. Com o passar do tempo ela foi ficando cada vez menor pela ação do vento e do mar, e por roubo mesmo. No século XVIII resolveram remover a pedra utilizando carros de boi para colocá-la na praça principal; o esforço fez com que ela se partisse. Até que em 1920, no tricentenário da chegada dos peregrinos, construíram um templo clássico em granito à beira-mar para abrigar e proteger a rocha. E lá está ela no fundo de um fosso, pequena e remendada, com o ano "1620" entalhado em sua superfície. Devo dizer, algo decepcionante para tamanha fama.
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O monumento da Plymouth Rock... |
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... com a Plymouth Rock no fundo, rente ao solo da praia. |
A orla em volta da Plymouth Rock é bem agradável para se caminhar. No píer adjacente estava ancorada uma réplica em tamanho natural do Mayflower, que podia ser visitada até pouco tempo atrás. Porém o barco foi recolhido para reparos e deverá estar de volta ao seu posto para os festejos do quadricentenário da chegada dos Peregrinos, daqui a dois anos.
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Vista parcial da orla de Plymouth |
Outra atração remanescente dos primórdios da cidade é o
Plimoth Grist Mill. A grafia diferente reflete a forma antiga de se escrever o nome de Plymouth. O moinho original foi construído naquele local em 1636, e o que se visita hoje é uma réplica, que funciona do mesmo modo tradicional, moendo milho e o transformando em fubá. Quando visitamos o moinho, a engrenagem não estava operando, mas colocaram a imensa roda para girar por alguns momentos para vermos o movimento da água, e conhecemos a mecânica de funcionamento pelo lado de dentro.
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O moinho do Plimoth Grist Mill |
Sendo o núcleo urbano mais antigo da Nova Inglaterra, Plymouth está cheia de construções antigas, e ao se passear pelas ruas entre a Plymouth Rock e o moinho, pode-se apreciar várias delas. Digno de nota é o
Cemitério de Burial Hill, tão antigo quanto a povoação, onde estão enterrados alguns dos imigrantes do Mayflower.
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Cemitério de Burial Hill com a Church of Pilgrimage ao fundo |
Uma das principais atividades econômicas da área é a pesca da lagosta, e não surpreende a presença de vários restaurantes especializados em frutos do mar ao longo da orla. Como não sou apreciador do crustáceo, almocei num restaurante que me foi recomendado, o
Mamma Mia's, obviamente especializado em massas e pizza, com vista para o mar. A dica valeu, a refeição estava bem gostosa, um ravioli que custou 8 dólares.
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O prédio dos Correios |
Para quem deseja aprofundar seus conhecimentos sobre a saga dos peregrinos e seus primeiros tempos no continente americano, existem dois locais a visitar em Plymouth: o primeiro é o museu público mais antigo dos Estados Unidos ainda em operação, o
Pilgrim Hall Museum, que não conheci e que contém vários objetos da época.
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Casas na Leyden Street |
O segundo, considerado uma das atrações principais de Plymouth, é um parque temático situado a quatro quilômetros do centro da cidade. A
Plimoth Plantation - olha a grafia arcaica de novo - reproduz fielmente a vida dos índios e dos peregrinos nos primeiros anos de colonização. Antes de entrar na vasta área, assistimos a um filme no casarão de entrada explicando um pouco da história dos peregrinos e o que íamos encontrar pela frente. Digno de nota é um modelo exposto do Mayflower no saguão. Já que não pudemos apreciar a embarcação a vela no píer, pelo menos encontramos ali sua versão em miniatura.
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Aldeia Wampanoag construída em Plymoth Plantation |
A primeira parte da visita é uma reprodução da aldeia indígena dos Wampanoag. As ocas são feitas de vime e galhos unidos por massa de argila. Em cada oca, descendentes autênticos dos Wampanoag em trajes indígenas contam como era a vida naquela época.
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A nativa americana explica como era a vida dos Wampanoag. Mas definitivamente o tênis moderno destoa do conjunto. |
Sobe-se então por uma trilha até chegar a um pequeno forte no topo da colina. De lá se tem uma visão da segunda parte, a mais interessante na minha opinião, uma vila puritana reconstruída com dezesseis cabanas ao longo de uma via que desce rumo ao mar longínquo. O ano retratado é 1627, quando a colônia já estava estabelecida e próspera. O segundo andar do forte é o melhor ponto para se tirar fotos do complexo, e conta com alguns canhões em exposição que fazem a alegria das crianças.
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Vista da vila a partir do forte |
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Uma das cabanas em Plymoth Plantation |
A maioria das cabanas está mobiliada com utensílios da época, e dentro ou à sua frente se encontram atores em roupas típicas encarnando os colonos. Cada ator exerce uma atividade do cotidiano do século XVII, como preparação e cozimento de alimentos ou entalhe de armas. O filme passado na entrada encoraja os turistas a interagir com os atores através de perguntas. Por exemplo, uma das atrizes estava amassando em um pote o que pareciam ser ervas na porta de uma das cabanas, quando um grupo de crianças se aproximou e perguntou o que estava fazendo. Assumindo a personagem, ela respondeu que estava preparando uma pasta que servia para limpar os dentes da sua família após as refeições. Se seguiu uma exclamação de "Cool!!" por parte da gurizada.
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Interior de uma das cabanas |
Um detalhe que me chamou a atenção: a maioria dos Peregrinos vieram de Leiden, cidade na Holanda para onde tinham migrado anteriormente; repare que há uma rua com esse nome em Plymouth, mostrada em foto mais acima. Após uma década eles ainda não haviam se adaptado ao estilo de vida dos Países Baixos e fizeram nova jornada rumo à América. Para relembrar o fato, uma das cabanas está mobiliada com artefatos holandeses. Há na própria Leiden um museu dedicado à estadia dos Peregrinos por lá.
Plymoth Plantation:
Endereço - 137 Warren Ave.
Ingressos em outubro de 2018: adultos, 28 dólares; crianças de 5 a 12 anos, 16 dólares. Há tíquetes combinados com o Grist Mill.
Horário: 9 às 17 horas.
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Uma das atrizes simulando atividades coloniais |
Como chegar a Plymouth por transporte público:
Plymouth pode ser alcançada desde Boston por trem (rede MBTA - 50 minutos) ou ônibus (45 minutos), que saem da South Station. No entanto as duas estações se encontram afastadas do centro de Plymouth, com uma linha de ônibus fazendo a ligação. Há também um ferry para Provincetown, na ponta de Cape Cod, o que torna Plymouth uma opção interessante para quem se destina à famosa península que tem nome de bacalhau e formato de cauda de escorpião, pronta para dar o bote em Plymouth.
Como estava interessado em conhecer a Plymoth Plantation, achei mais prático ingressar num tour desde Boston pela Brush Hill, pertencente à Gray Line. O tour foi bastante satisfatório com um bom guia/motorista, que inclusive morava em Plymouth e não escondia o orgulho em suas descrições da cidade. Houve tempo livre adequado no parque temático e para perambular pela cidade, aspecto que sempre considero vital em excursões desse tipo.
Postado por Marcelo Schor em 13.10.2018
É um lugar realmente incrível.
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