Canhão junto ao Bastião de São Miguel e ao Rio da Prata |
Nesta última viagem ao Uruguai finalmente cumpri uma vontade antiga, conhecer Colônia do Sacramento (em espanhol, Colonia del Sacramento). E sem dúvida nenhuma considerei esta joia colonial a cidade uruguaia mais bonita que já visitei. Pelo seu centro histórico com casario e calçamento muito bem conservados, foi nomeada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Colônia me lembrou bastante Paraty, mas no entanto é cidade irmã de outro patrimônio histórico brasileiro, a pernambucana Olinda.
O barco Buquebus que liga Colônia a Buenos Aires, visto do alto do farol. |
Como chegar a Colônia do Sacramento por transporte público:
Colônia está situada a 180 quilômetros a oeste de Montevidéu. São três horas de trajeto por ônibus, cansativo para um bate-volta, com partida do terminal rodoviário de Tres Cruces, a alguns quarteirões da Avenida 18 de Julio. Há também excursões que saem de Montevidéu rumo a Colônia, passando algumas horas no centro histórico.
A cidade fica a pouco mais de uma hora de Buenos Aires pelo barco Buquebus. Visitá-la a partir da capital argentina é portanto uma opção excelente. Os terminais de ônibus e de barco em Colônia do Sacramento ficam lado a lado, a alguns quarteirões do centro histórico.
A cidade fica a pouco mais de uma hora de Buenos Aires pelo barco Buquebus. Visitá-la a partir da capital argentina é portanto uma opção excelente. Os terminais de ônibus e de barco em Colônia do Sacramento ficam lado a lado, a alguns quarteirões do centro histórico.
As atrações de Colônia do Sacramento:
Colônia foi fundada em 1680 pelo português Manuel Lobo às margens do Rio da Prata em frente a Buenos Aires, e logo se converteu em entreposto comercial importante para os portugueses, que vendiam produtos e escravos para os espanhóis do outro lado do rio. Ao longo de um século se alternou entre os domínios português e espanhol, com predominância portuguesa, até se tornar espanhola de fato somente em 1778. A alternância entre os dois domínios deu um charme especial à arquitetura conservada da cidade, onde os elementos portugueses e espanhóis se misturam, tornando-a única no Uruguai.
A cidade tem duas similaridades com Montevidéu: seu centro histórico está situado sobre uma península que avança para oeste no Rio da Prata, e Colônia também possui um logotipo enorme plantado às margens do rio, formado pelas letras do seu nome.
Para iniciar o passeio pela parte histórica já no clima adequado, nada como atravessar o Portón de Campo, a porta de entrada sob o pequeno trecho que restou dos muros que cercavam a cidade. Na realidade a muralha foi restaurada na década de 70 após a realização de escavações. O portão foi construído pelos portugueses em 1745. É acessado por uma ponte de madeira erguida sobre pilares de pedra, com correntes que a tornam levadiça sobre um fosso. O efeito final faz com que pareçamos estar ingressando num castelo medieval. Para dar o toque adicional, um brasão de armas de Portugal está gravado sobre o portão.
Antes de atravessar o portão, convém dar uma parada no escritório de turismo localizado ao lado, com folhetos e banheiro público à disposição. Aproveite para solicitar o mapa das ruelas do centro histórico, pois o ideal é perambular por várias delas para captar toda a magia de Colônia.
Do outro lado do portão, após passar por um canhão chega-se ao Bastião de São Miguel, junto ao Rio da Prata, um dos locais de que mais gostei em Colônia. Ótimo para uma parada estratégica para apreciar o rio e os muros.
Do portão já dá para se descortinar a Plaza Mayor, a praça principal de Colônia. Na realidade está mais para um gigantesco largo retangular sem calçada delimitando a praça, cercado por belas construções coloniais, tanto do período português quanto do espanhol. Vários dos museus da cidade estão situados nessas construções, como o Museu Português. A entrada para os museus de Colônia é única e custava 50 pesos, à venda no Museu Municipal, também localizado na praça.
É na praça que se encontram também algumas ruínas marcantes, como as do Convento de São Francisco. Erguido pelos jesuítas, sua construção começou somente dois anos após a fundação da cidade, sendo inaugurado em 1694. Durou muito pouco, cinco anos, sendo consumido por um incêndio. Jamais foi reconstruído, só sobrando as paredes do térreo que podem ser apreciadas hoje.
Junto às ruínas do convento se ergue o Farol, o último da costa uruguaia, construído em 1857. Do topo se pode ter uma visão em 360 graus da cidade histórica e do Rio da Prata. De alguns ângulos, o farol parece se elevar em meio às ruínas, formando fotos interessantes onde sobressai o contraste entre o branco de sua parede e a cor escurecida das ruínas.
Visitei o farol justo quando suas portas estavam reabrindo às 14h30min após a sesta do almoço, pagando 30 pesos. Existem mirantes em dois níveis do farol, um intermediário (que separa as partes quadrada e circular da construção) e no cume. Atenção, a escada com 118 degraus em espiral é estreita, só cabendo uma pessoa por vez, com funcionários controlando o sentido de direção ascendente ou descendente. Além disso, o trecho final para o mirante superior é feito em escada vertical, como as que se entra em piscina. A vista lá de cima me decepcionou um pouco, nada de excepcional em meio ao mar de telhados, mas serve para se ter uma boa ideia da geografia da cidade cercada pelo rio por três lados.
Da Plaza Mayor partem algumas das ruas mais pitorescas e antigas de Colônia, tanto com relação ao casario quanto ao calçamento. O exemplo mais emblemático é a Calle de los Suspiros, com seu calçamento em pé de moleque totalmente irregular. Este nome, sempre traz histórias curiosas sobre sua origem. No caso de Colônia há várias teorias: alguns afirmam que se trata das lamúrias dos escravos que subiam a rua oriundos dos navios negreiros para serem vendidos, outros afirmam que o nome deriva dos suspiros de prisioneiros nos últimos passos para a sentença de morte, e há a lenda mais curiosa, onde os suspiros seriam de rapazes ao passarem pelas prostitutas que fariam ponto no local.
As casas mais antigas de um pavimento em tons vermelhos irregulares nesta e nas vielas próximas foram construídas pelos portugueses, que misturavam sangue animal à cal e ao barro nas paredes para obter maior durabilidade.
Atrás da Plaza Mayor está o espaço vazio da Plaza de Armas. Grande parte da área é ocupada por pedras que mostram o resto de fundações da Casa do Governador, onde vivia o governador português. O casarão foi arrasado pelos espanhóis quando tomaram Colônia definitivamente em 1778. As ruínas estão cercadas por placas que informam o que era cada aposento delimitado pelas pedras.
O curioso é que o lado sul da praça, perto da Plaza Mayor, é bem tranquilo e bucólico, com uma fileira de casas junto ao pavimento de pedra que nos fazem ser transportados aos séculos passados. Já o lado norte junto à igreja é bem mais agitado, com alguns bares e restaurantes com mesas ao ar livre dando colorido ao local.
A igreja junto à Plaza de Armas é a principal de Colônia, a Igreja Matriz ou Basílica do Santíssimo Sacramento. Foi a primeira igreja construída no Uruguai, só que o prédio original foi destruído em 1780 por uma explosão causada por um raio. A igreja atual data de 1899.
Em frente à Basílica se inicia uma pequena mas pitoresca rua, a Calle Portugal. O que mais chama a atenção é um carro antigo estacionado na calçada. O carro está sempre por ali, disseram-me que o automóvel pertence ao restaurante em frente, o El Drugstore, um dos mais badalados da cidade. O carro me remeteu à minha primeira visita a Montevidéu, que fiz no final da década de 70 ainda adolescente com meus pais. Um detalhe que me saltou à vista na ocasião foi a enorme quantidade de carros muito antigos que trafegavam pelas ruas da capital. Desde então a frota (e o Uruguai) se modernizou, e Montevidéu perdeu um de seus aspectos mais pitorescos.
Ainda encontraria outro calhambeque na Calle San Pedro, sintomaticamente estacionado também junto a outro restaurante. Não há dúvida que combinam em muito com a atmosfera da cidade.
Eu procurava um local tranquilo para almoçar e encontrei. O restaurante La Bohemia fica na Calle del Colegio, uma rua mínima que termina praticamente diante da Calle Portugal. Era cedo e peguei uma mesa com toldo bem no meio da rua bucólica, entre casarões brancos com lampiões na fachada enfeitada por sacadas trabalhadas. Ravióli muito bom a preço razoável, com atendimento simpático. E claro, paguei com cartão de crédito para obter o desconto de 22% do IVA na hora, garantido a detentores de cartões estrangeiros. Como diria aquela propaganda famosa que passava na TV, pagar muito menos que o mostrado no cardápio não tem preço...
⏬Outros posts publicados no blog sobre o Uruguai:
O logotipo às margens do Rio da Prata |
A cidade tem duas similaridades com Montevidéu: seu centro histórico está situado sobre uma península que avança para oeste no Rio da Prata, e Colônia também possui um logotipo enorme plantado às margens do rio, formado pelas letras do seu nome.
O Portón de Campo |
Para iniciar o passeio pela parte histórica já no clima adequado, nada como atravessar o Portón de Campo, a porta de entrada sob o pequeno trecho que restou dos muros que cercavam a cidade. Na realidade a muralha foi restaurada na década de 70 após a realização de escavações. O portão foi construído pelos portugueses em 1745. É acessado por uma ponte de madeira erguida sobre pilares de pedra, com correntes que a tornam levadiça sobre um fosso. O efeito final faz com que pareçamos estar ingressando num castelo medieval. Para dar o toque adicional, um brasão de armas de Portugal está gravado sobre o portão.
Muro junto ao Portón de Campo, visto a partir do Bastião de São Miguel. |
Antes de atravessar o portão, convém dar uma parada no escritório de turismo localizado ao lado, com folhetos e banheiro público à disposição. Aproveite para solicitar o mapa das ruelas do centro histórico, pois o ideal é perambular por várias delas para captar toda a magia de Colônia.
Do outro lado do portão, após passar por um canhão chega-se ao Bastião de São Miguel, junto ao Rio da Prata, um dos locais de que mais gostei em Colônia. Ótimo para uma parada estratégica para apreciar o rio e os muros.
Alguns dos casarões da Plaza Mayor |
Do portão já dá para se descortinar a Plaza Mayor, a praça principal de Colônia. Na realidade está mais para um gigantesco largo retangular sem calçada delimitando a praça, cercado por belas construções coloniais, tanto do período português quanto do espanhol. Vários dos museus da cidade estão situados nessas construções, como o Museu Português. A entrada para os museus de Colônia é única e custava 50 pesos, à venda no Museu Municipal, também localizado na praça.
As ruínas do Convento |
É na praça que se encontram também algumas ruínas marcantes, como as do Convento de São Francisco. Erguido pelos jesuítas, sua construção começou somente dois anos após a fundação da cidade, sendo inaugurado em 1694. Durou muito pouco, cinco anos, sendo consumido por um incêndio. Jamais foi reconstruído, só sobrando as paredes do térreo que podem ser apreciadas hoje.
As ruínas e o farol vistos da Plaza Mayor. À esquerda, o prédio do Museu Naval. |
Junto às ruínas do convento se ergue o Farol, o último da costa uruguaia, construído em 1857. Do topo se pode ter uma visão em 360 graus da cidade histórica e do Rio da Prata. De alguns ângulos, o farol parece se elevar em meio às ruínas, formando fotos interessantes onde sobressai o contraste entre o branco de sua parede e a cor escurecida das ruínas.
Calle de Solis com o farol ao fundo, com destaque para a lanterna em funcionamento no seu topo. |
Visitei o farol justo quando suas portas estavam reabrindo às 14h30min após a sesta do almoço, pagando 30 pesos. Existem mirantes em dois níveis do farol, um intermediário (que separa as partes quadrada e circular da construção) e no cume. Atenção, a escada com 118 degraus em espiral é estreita, só cabendo uma pessoa por vez, com funcionários controlando o sentido de direção ascendente ou descendente. Além disso, o trecho final para o mirante superior é feito em escada vertical, como as que se entra em piscina. A vista lá de cima me decepcionou um pouco, nada de excepcional em meio ao mar de telhados, mas serve para se ter uma boa ideia da geografia da cidade cercada pelo rio por três lados.
Calle de los Suspiros |
Da Plaza Mayor partem algumas das ruas mais pitorescas e antigas de Colônia, tanto com relação ao casario quanto ao calçamento. O exemplo mais emblemático é a Calle de los Suspiros, com seu calçamento em pé de moleque totalmente irregular. Este nome, sempre traz histórias curiosas sobre sua origem. No caso de Colônia há várias teorias: alguns afirmam que se trata das lamúrias dos escravos que subiam a rua oriundos dos navios negreiros para serem vendidos, outros afirmam que o nome deriva dos suspiros de prisioneiros nos últimos passos para a sentença de morte, e há a lenda mais curiosa, onde os suspiros seriam de rapazes ao passarem pelas prostitutas que fariam ponto no local.
As casas mais antigas de um pavimento em tons vermelhos irregulares nesta e nas vielas próximas foram construídas pelos portugueses, que misturavam sangue animal à cal e ao barro nas paredes para obter maior durabilidade.
Casario da Calle de la Playa, junto à Plaza de Armas |
Atrás da Plaza Mayor está o espaço vazio da Plaza de Armas. Grande parte da área é ocupada por pedras que mostram o resto de fundações da Casa do Governador, onde vivia o governador português. O casarão foi arrasado pelos espanhóis quando tomaram Colônia definitivamente em 1778. As ruínas estão cercadas por placas que informam o que era cada aposento delimitado pelas pedras.
O curioso é que o lado sul da praça, perto da Plaza Mayor, é bem tranquilo e bucólico, com uma fileira de casas junto ao pavimento de pedra que nos fazem ser transportados aos séculos passados. Já o lado norte junto à igreja é bem mais agitado, com alguns bares e restaurantes com mesas ao ar livre dando colorido ao local.
Fundações da Casa do Governador com a Basílica ao fundo |
A Basílica, a Calle Portugal e o carro antigo |
Em frente à Basílica se inicia uma pequena mas pitoresca rua, a Calle Portugal. O que mais chama a atenção é um carro antigo estacionado na calçada. O carro está sempre por ali, disseram-me que o automóvel pertence ao restaurante em frente, o El Drugstore, um dos mais badalados da cidade. O carro me remeteu à minha primeira visita a Montevidéu, que fiz no final da década de 70 ainda adolescente com meus pais. Um detalhe que me saltou à vista na ocasião foi a enorme quantidade de carros muito antigos que trafegavam pelas ruas da capital. Desde então a frota (e o Uruguai) se modernizou, e Montevidéu perdeu um de seus aspectos mais pitorescos.
Ainda encontraria outro calhambeque na Calle San Pedro, sintomaticamente estacionado também junto a outro restaurante. Não há dúvida que combinam em muito com a atmosfera da cidade.
Carros de outrora: atração à parte em Colônia do Sacramento. |
Eu procurava um local tranquilo para almoçar e encontrei. O restaurante La Bohemia fica na Calle del Colegio, uma rua mínima que termina praticamente diante da Calle Portugal. Era cedo e peguei uma mesa com toldo bem no meio da rua bucólica, entre casarões brancos com lampiões na fachada enfeitada por sacadas trabalhadas. Ravióli muito bom a preço razoável, com atendimento simpático. E claro, paguei com cartão de crédito para obter o desconto de 22% do IVA na hora, garantido a detentores de cartões estrangeiros. Como diria aquela propaganda famosa que passava na TV, pagar muito menos que o mostrado no cardápio não tem preço...
⏬Outros posts publicados no blog sobre o Uruguai:
- Montevidéu: Orla e Parque Rodó
- Montevidéu: Centro e Cidade Velha
- Montevidéu: Palácio Legislativo e parques do Prado
Postado por Marcelo Schor em 16.03.2019
Oi, Marcelo. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
E aí, Natalie, tudo certo? Valeu pela seleção!
Excluir