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Palácio Legislativo |
Retornei a Montevidéu em dezembro passado e dediquei esta segunda visita a dois pontos turísticos que havia deixado de lado em 2016: o Palácio Legislativo e os parques do Prado. Novamente me hospedei na região de Pocitos e qual não foi minha surpresa ao descobrir que uma mesma linha de ônibus, a 522, unia os três lugares, com pontos em frente ao Palácio e ao Jardim Botânico. Locomoção mais fácil e barata, impossível. O ônibus em seu caminho algo tortuoso para o Palácio passa por outras atrações que havia conhecido anteriormente, como o Parque Rodó e a Intendência (Prefeitura). Outra opção de acesso é o ônibus hop on/off, que pára também no local.
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Outro ângulo do Palácio Legislativo |
Por sinal, a praça onde está o Palácio é movimentadíssima por ser entroncamento de avenidas importantes da capital uruguaia, funcionando como rotatória. Como o ponto de ônibus ficava do outro lado da rua e não havia semáforo, apareceu a questão de como atravessá-la e alcançar o palácio. Havia uma faixa de pedestres em frente à entrada principal e resolvi arriscar e iniciar a travessia. Não é que os carros todos pararam no mesmo instante? Bendita educação dos motoristas de Montevidéu!
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Detalhe da entrada e da torre trabalhada na parte superior. |
Palácio Legislativo de Montevidéu:
O
Palácio Legislativo, onde acontecem as sessões de trabalho de deputados e senadores, é um prédio bastante imponente situado no bairro de Aguadas, na rotatória chamada de Avenida de Las Leyes (nome bastante apropriado), 1.800 metros ao norte da Prefeitura. As visitas guiadas são oferecidas em espanhol, inglês e português, dependendo do horário. Ao adquirir o tíquete por 90 pesos ou três dólares no saguão de entrada, vão lhe perguntar qual o idioma preferido. Os tours em português ocorrem de segunda a sexta-feira às 10h30min e 15h. Às 14h30min há um somente em espanhol.
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As cariátides da torre vistas do corredor do terceiro andar |
Da fachada o que mais me chamou a atenção pela riqueza de detalhes foi a torre quadrada trabalhada. Está rodeada por cariátides (estátuas apoiadas em coluna) esculpidas com três metros de altura. Num total de 24 - seis em cada lado da torre, as cariátides representam diversas atividades como medicina, matemática, música, comércio, agricultura e indústria.
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A Sala dos Passos Perdidos |
Achei a visita guiada excelente, bem informativa, melhor ainda que o tour pelo Teatro Solis que tinha feito dois anos antes. Se o Palácio é lindo por fora, é mais interessante ainda por dentro. O edifício de três andares em estilo neoclássico ocupa 8.000 m². Foi inaugurado em 1925, para coincidir com as comemorações do centenário da independência do Uruguai, quando deixou de ser a Província Cisplatina brasileira. Desde o projeto inicial até a inauguração decorreram 21 anos. O arquiteto italiano que o projetou é o mesmo de dois ícones de Buenos Aires, do outro lado do Rio da Prata: o Teatro Colón e o prédio do Congresso. O Palácio Legislativo uruguaio foi sua última obra projetada, já que ele morreria pouco depois, assassinado pelo mordomo aos 44 anos.
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Os guardas da Sala dos Passos Perdidos |
A visita de trinta minutos, constituída por somente quatro visitantes brasileiros, já começou com o pé direito ao adentrarmos o enorme átrio do prédio do Parlamento, que detém o nome pomposo de
Sala dos Passos Perdidos. Ocupando boa parte do comprimento da edificação, impressiona pelo revestimento em mármore, pelos vitrais e pelos afrescos. Tinha achado o nome bem curioso, até descobrir que esta denominação é comum na língua espanhola para designar halls amplos de ligação entre alas em edifícios públicos.
O átrio é permanentemente vigiado por sentinelas postados junto a uma das portas maciças e a um móvel com tampa de vidro onde repousa a primeira Constituição do país, redigida em 1830.
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A Primeira Constituição do Uruguai |
Subimos a escadaria rumo ao terceiro andar, onde conhecemos o plenário da Câmara dos Deputados e do Senado, totalmente distintos entre si. Em ambos os salões nossa visão foi desde a parte superior, da galeria de onde a plateia assiste às sessões parlamentares quando o Congresso não se encontra em recesso. Na
Câmara dos Deputados chamam a atenção o revestimento em madeira de nogueira italiana e a enorme pintura retratando um momento-chave da história uruguaia, o cerco de Montevidéu pelo General Artigas em 1813. No alto da parede, uma inscrição reproduz um discurso de Artigas na mesma ocasião para os representantes: "Minha autoridade emana dos senhores e cessará por sua presença soberana". Digno de nota é o fato de o herói nacional uruguaio não ter podido vivenciar a independência do país, pois se exilou no Paraguai após ser derrotado em batalha pelas forças luso-brasileiras em 1820 e jamais retornou, falecendo trinta anos depois.
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A Câmara dos Deputados |
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Detalhe do teto e parede da Câmara, com a inscrição contendo a frase de Artigas. |
Já o
Senado possui uma aparência mais moderna, provável efeito do contraste das poltronas azuis com o tapete vermelho. A madeira aqui é nacional, peroba uruguaia, e o destaque vai para o escudo com o brasão uruguaio, encimado por bustos da deusa da sabedoria, Atena.
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O Senado uruguaio |
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O brasão uruguaio |
Há várias diferenças do sistema político uruguaio para o brasileiro. Algumas são o mesmo mandato de cinco anos para presidente, senador e deputado, e o fato de o vice-presidente da República vir do Poder Legislativo, sendo um senador. No momento uma senadora: a vice-presidente é Lucía Topolansky, esposa do ex-presidente José Mujica, que governou o Uruguai até 2015. O presidente da República não pode ser reeleito, ao contrário de senadores e deputados. O número de representantes é também bem inferior ao Brasil: a Câmara dos Deputados possui 99, enquanto a dos Senadores tem 31.
No andar superior está situada a sala central da
Biblioteca da Assembleia Legislativa, toda revestida em madeira nobre. Seu acervo é um dos maiores do país, com 250.000 livros. No centro da sala se encontra uma reprodução da estátua do mesmíssimo General Artigas na Praça da Independência, a principal de Montevidéu com quatro fênix dispostas nos cantos da sua base. A sala conta ainda uma réplica da Vênus de Milo.
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A sala central da Biblioteca |
Parque del Prado:
Muito satisfeito com a visita ao Parlamento uruguaio, peguei novamente o 522 e após uns quinze minutos cheguei ao
Prado, um bairro aprazível ao noroeste de Montevidéu conhecido por suas áreas verdes, todas com entrada gratuita. O bairro, aristocrático no passado, possui ruas bem arborizadas e bucólicas. Saltei em frente à entrada do
Jardim Botânico. O parque é ótimo para caminhar, mas o achei malcuidado, e não dá para compará-lo a congêneres mais famosos como os jardins
de Sydney e do próprio Rio de Janeiro.
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Fonte no Jardim Botânico de Montevidéu |
Saí pelo outro lado do Jardim Botânico, o norte, rumo ao
Jardim Japonês, atração a 800 metros de distância que meus companheiros do tour pelo Palácio tinham elogiado bastante. O jardim tem entrada pela Avenida Millán, passando-se pelo casarão do Museu Juan Blanes, ótimo exemplo das mansões remanescentes no Prado. Doado pelo governo japonês, o jardim foi inaugurado em 2001, lembrando os oitenta anos de relações diplomáticas entre os dois países.
Aí o passeio desandou e a culpa foi minha. Era uma segunda-feira e não pesquisei os horários de abertura. Pois é, o Jardim Japonês só abre de terça a domingo, e apenas após o meio-dia, até as seis da tarde. Encontrei o portão fechado, e só pude circundá-lo, vendo seu interior pelas frestas da vegetação. Apesar de pequeno, aparentou ser mesmo muito bonito, com os aspectos típicos dos jardins do gênero, com lago, gazebo e pontes pitorescas curvas sobre a água. Uma pena!
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Jardim Japonês: observado do seu perímetro. |
A decepção aumentou com o
Parque del Prado, o maior do bairro e um dos mais famosos de Montevidéu, perto também do Jardim Botânico, a oeste. Sua atração principal, o
Rosedal, um roseiral, estava com pouquíssimas flores, o que me surpreendeu, pois o início de dezembro é final de primavera.
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Poucas plantas no Rosedal |
Este foi o típico caso de expectativa frustrada ao se visitar um lugar. De qualquer forma, o passeio valeu para conhecer o bairro, diferente do que já tinha visto em Montevidéu.
No
próximo post, uma autêntica joia colonial - Colônia do Sacramento.
⏬Outros posts já publicados no blog sobre Montevidéu:
Postado por Marcelo Schor em 01.03.2019
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