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Montreux e Vevey: os tributos a Freddie Mercury e Charles Chaplin


O garfo plantado no lago em Vevey

        Montreux e Vevey são duas cidades vizinhas à beira do Lago Léman que dispensam apresentações. Famosos resorts da chamada Riviera Suíça, hoje cada uma está ligada a um ícone da cultura mundial do século XX. Eu já havia me encantado com elas quando me hospedei em Lausanne anos atrás, mas no dia em que as conheci choveu bastante, e fiz questão de voltar para revisitá-las sob um sol radiante.

            Como estava sediado em Sion, usei o trem para chegar a ambas numa viagem de 45 minutos, passando pelos vinhedos ao longo do vale do Ródano até alcançar o ponto onde ele se abre no Lago Léman. Vevey (o ey soa como "é" em francês), a mais distante no sentido em que eu trafegava, é uma cidade graciosa de 16.000 habitantes, onde as atrações giram em torno de dois tópicos: a Nestlé e Charles Chaplin. Estava incrivelmente tranquila naquele meio de manhã de quarta-feira de maio.

O Lago Léman. Na outra margem, os Alpes franceses. 

               A Nestlé, habitualmente considerada a maior empresa de alimentos do mundo, começa  sua história em 1867 quando  Henri  Nestlé inventou a farinha láctea em Vevey. A empresa mantém sua sede na cidade até hoje. Quem visita o centro da cidade pode nem saber desta ligação, mas vai desconfiar de algo ao ver o enorme garfo de aço inoxidável com oito metros de altura plantado no lago junto à orla. Um dos principais museus de Vevey, o Alimentarium, é bancado pela Nestlé e o garfo foi colocado em 1995 próximo ao museu para comemorar os dez anos de sua fundação. Fez tanto sucesso que exigiram sua volta após ter sido retirado, o que só aconteceu em 2006. Segundo a wikipedia, está listado no livro Guinness como o maior garfo do mundo. O Alimentarium foca na história da empresa e em aspectos relativos à nutrição. Seu ingresso é coberto pelo Swiss Pass.

A estátua de Carlitos em Vevey

               Bem em frente ao garfo está a estátua de Charles Chaplin, o genial ator e diretor de cinema. Nascido em Londres, Chaplin residiu em Vevey nos seus últimos 25 anos de vida. A estátua o retrata no papel pelo qual ficou mais conhecido no cinema, o de Carlitos, o vagabundo. A casa onde morou com a esposa em Consieur-sur-Vevey, a três quilômetros de distância, foi transformada em museu há poucos anos, o Chaplin's World. O visto americano de Chaplin tinha sido revogado em 1952, efeito da perseguição pelo macartismo, e ele se encantou com a paisagem suíça, estabelecendo lá sua nova residência. 

                Chaplin e sua esposa estão enterrados no cemitério de Consieur-sur-Vevey. Por incrível que pareça, o caixão de Chaplin foi roubado por dois ladrões três meses após seu enterro. Eles pediram resgate para devolver o corpo, mas eram amadores e acabaram presos algumas semanas depois. O caixão, enterrado no campo, retornou ao túmulo original. Uma trama digna de filme...

Manoir de Ban, sede do Chaplin's World - foto cedida por Luís Borsari

              Para se chegar a Manoir de Ban, a residência do casal Chaplin em meio a amplos jardins que se tornou Chaplin's World há cinco anos, basta tomar o ônibus 212 em frente à estação ferroviária de Vevey, na direção de Fenil-sur-Corsier;  o ônibus passa a cada meia hora. Chaplin's World apresenta uma retrospectiva da vida e dos trabalhos de Chaplin, incluindo a reconstituição de um estúdio de filmagem, com temas remetendo a grandes obras como Luzes da Ribalta e Em Busca do Ouro. O museu é considerado imperdível por quem o visita,  mas sua entrada não estava incluída no Swiss Pass, custando 19 francos para adultos.   
         
Vista da orla de Montreux

        A mais agitada Montreux fica a poucos minutos de viagem de trem desde Vevey (ou pelo ônibus 201) e está localizada numa posição estratégica no Lago Léman, junto à passagem pelos Alpes para Interlaken, sendo o ponto de partida do afamado trem panorâmico Golden Pass. O renome internacional de Montreux deriva do seu cassino e do Festival de Jazz, que normalmente entope a cidade de gente durante duas semanas em julho.

Primavera em Montreux, com a localidade de Villeneuve ao fundo

       
           Assim como Vevey homenageou Chaplin com uma estátua à beira-lago, o mesmo fez Montreux com seu artista residente mais famoso, Freddie Mercury. Mercury passou seus derradeiros meses de vida ali. Sua estátua em bronze foi inaugurada em frente à Place du Marché cinco anos após seu falecimento ocorrido em 1991, retratando em pose apoteótica o astro de rock tanzaniano. Se a estátua de Chaplin o apresenta em seu tamanho real, surpreendendo alguns turistas pela sua baixa estatura, a de Mercury possui três metros de altura. A estátua do astro se tornou um objeto de peregrinação dos seus fãs, e sempre há flores depositadas por eles.

A estátua de Freddie Mercury em Montreux

               Bem perto da estátua de Freddie Mercury está uma escultura de 2013 montada a partir de uma cabine telefônica vermelha. Nada a ver com Freddie. Trata-se de Allo Claude, uma obra desenhada em homenagem ao criador do Festival de Jazz, Claude Nobs, onde um conjunto de mecanismos movimenta uma bola que passa por objetos ligados à música, incluindo até uma miniguitarra elétrica. Quando parei diante da escultura, os mecanismos estavam se movendo, mas nem sinal da bolinha, deixando o conjunto ainda mais confuso.

Allo Claude

          Prosseguindo pelo belo caminho que margeia a orla do lago, alcançamos o Cassino de Montreux. O antigo prédio elegante no estilo belle-époque foi abaixo num incêndio em 1971 durante um show de Frank Zappa, e seu substituto como templo do jogo tem uma fachada moderna e sem graça. A letra de Smoke on the Water, uma das canções mais conhecidas do Deep Purple, retrata o incêndio. 

Caminho até o Cassino de Montreux

          No entanto, os fãs de música e em especial de Freddie Mercury tem um motivo concreto para visitar o cassino, pois é lá onde se situa o imperdível Queen Studio Experience. Inaugurado pelo próprio integrante do Queen Brian May há sete anos, o museu ocupa o espaço dos estúdios originais onde a banda gravou vários discos entre 1979 e 1995, incluindo o álbum final Made in Heaven, homenagem póstuma ao seu vocalista. Também foram gravados nos estúdios álbuns solo como Barcelona, o inesquecível dueto de Freddie com a soprano catalã Montserrat Caballé. 

Cassino de Montreux

        Uma das maiores atrações do museu é a réplica da mesa de som usada nas gravações, que pode ser manuseada pelos visitantes para manipular as canções.  Podemos encontrar ainda instrumentos, roupas e partituras relacionadas ao Queen. Com entrada gratuita, o museu está aberto diariamente das 10h30min às 22h.

A mesa de som do Queen Studio - foto cedida por Luís Borsari

Os instrumentos do Queen -  foto cedida por Luís Borsari

           Para voltar à estação ferroviária para o retorno a Sion, utilizei um atalho pela Avenue des Alpes, que leva diretamente ao terminal. Apesar de não ter a beleza do cenário da orla do lago, a rua intriga pela arquitetura de algumas de suas construções, formando um conjunto harmonioso.


Avenue des Alpes
     
          Não poderia encerrar este post sem falar de uma das maiores atrações de Montreux, o Castelo de Chillon, localizado a três quilômetros de distância em Veytaux. O mesmo ônibus 201 liga Montreux e Vevey ao castelo a cada dez minutos nas horas de maior movimento. Tendo conhecido bem Chillon na minha primeira visita a Montreux (as fotos abaixo são de então), decidi não retornar desta vez, o que não me impediu de apreciar novamente o castelo a partir do trem, que passa rente a sua murada.

Castelo de Chillon

        O que mais chama a atenção quando nos aproximamos do castelo é a sua localização esplêndida. Situado numa ilhota rente à margem, entre o lago e a montanha, provia ótimo ponto tanto de defesa quanto de controle. O castelo, muito bem conservado, existe desde o século XII, e foi a residência dos Condes de Savoy, que dominavam a região. Em 1536 foi conquistado por Berna, que o transformou em centro administrativo. Após a saída dos berneses em 1798, o governo do novo cantão de Vaud transformou o castelo em monumento histórico. 

        Chillon teve sua fama catapultada após a publicação em 1816 do poema The Prisoner of Chillon pelo inglês Lord Byron. Nele Byron narra a história de um monge que foi encarcerado três séculos antes nas masmorras do castelo por quatro anos. As masmorras são um dos pontos altos do tour pelo interior de Chillon, cuja entrada é franca para quem possui o Swiss Pass. 

Pátio do castelo

          No próximo post desta viagem à Suíça Francesa, realizada em 2019, visitamos a cosmopolita Genebra.


⏩➤ Este é o décimo oitavo post da série sobre a Suíça. Para visualizar os demais, acesse A saborosa Suíça.


 Postado por  Marcelo Schor  em 24.03.2021 

2 comentários:

  1. Schor, a região é mesmo lindíssima! Obrigada pelas dicas e pelo post maravilhoso! Tenho certeza que vai inspirar muitos viajantes a conhecer ou voltar. Parabéns!

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    1. Valeu, Lígia! Eu é que agradeço pela ótima colaboração de vocês para o post.

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