Existe um bairro em Genebra onde você parece se sentir no norte da Itália. Na realidade, Carouge é uma cidade pequena vizinha no mesmo cantão. Com apenas 2,5 km² de área, é separada de Genebra pelo rio Arve, mas estando situada a apenas dois quilômetros ao sul do centro da famosa cidade suíça, as duas acabam se fundindo.
Conhecida pela boemia e pela arquitetura mais mediterrânea, ao se examinar sua história faz todo o sentido Carouge ter uma atmosfera tão diversa de Genebra. Tudo começou em 1772, após Genebra se tornar uma república independente e acabar com o sonho do rei da Sardenha e Piemonte, Vitório Amadeu III, de dominá-la. O rei sardo então adotou uma estratégia radical - resolveu nesse ano fundar Carouge, nos limites dos seus domínios e colada a Genebra, para transformá-la na sua rival comercial .
Do seu trono em Turim (pois é, Turim já foi capital da Sardenha...), Vitório Amadeu contratou arquitetos para erguer a cidade, traçando ruas em formato xadrez com casas no estilo italiano, que sobrevivem até hoje. Carouge logo foi declarada Cidade Real pelo monarca e floresceu a partir daí. Ao contrário da puritana Genebra, se tornou um exemplo de tolerância religiosa na região, atraindo católicos, protestantes e judeus, e congregando comerciantes e também artesãos, cuja atividade faz sua fama até os dias atuais. Quanto a Genebra, foi incorporada à França na década seguinte, somente se unindo à Suíça após a queda de Napoleão (foi o último cantão a formar o país).
Do seu trono em Turim (pois é, Turim já foi capital da Sardenha...), Vitório Amadeu contratou arquitetos para erguer a cidade, traçando ruas em formato xadrez com casas no estilo italiano, que sobrevivem até hoje. Carouge logo foi declarada Cidade Real pelo monarca e floresceu a partir daí. Ao contrário da puritana Genebra, se tornou um exemplo de tolerância religiosa na região, atraindo católicos, protestantes e judeus, e congregando comerciantes e também artesãos, cuja atividade faz sua fama até os dias atuais. Quanto a Genebra, foi incorporada à França na década seguinte, somente se unindo à Suíça após a queda de Napoleão (foi o último cantão a formar o país).
Carouge é facilmente acessada desde o centro de Genebra por bondes das linhas 12 e 18, que passam pela parada Bel-Air junto ao Ródano e param em duas estações no bairro: Carouge Marché (onde saltei) e Ancienne. Aliás, no quesito de transportes públicos Carouge foi também pioneira: a linha que usei, a 12, foi a primeira linha de bonde implantada na Suíça no distante ano de 1862, ainda puxada por animais. E a linha também inova por ser, além de interurbana, internacional: seu ponto terminal ao leste se situa já em território francês.
Não custa recordar que o passe de transporte público em Genebra é dado gratuitamente a todos os hóspedes de hotéis na cidade, e portanto a viagem nos bondes não me custou um níquel sequer.
Place du Marché |
Um dos fatores inegáveis da atração exercida por Carouge é a sua arquitetura pitoresca e harmoniosa. Suas casas de até três andares possuem aquelas janelas coloridas de madeira de antigamente que se abrem para os lados. No térreo se destacam arcos em pedra sobre as portas e sobre galerias que conduzem a jardins internos, outro detalhe frequente que só aumenta o charme do lugar. Muitas dessas galerias têm as portas abertas, não deixe de entrar para apreciar os jardins.
Place du Marché |
O centro de Carouge é a Place du Marché, ladeada por duas fileiras de plátanos. A praça ainda faz jus à sua denominação e sedia um animado mercado às quartas e sábados até as duas da tarde. Barracas de legumes, frutas, flores, vinhos e queijos (afinal, estamos na Suíça!) tomam conta do longo espaço entre as árvores, desocupado nos demais dias da semana.
Numa ponta da praça desponta a Igreja de Sainte-Croix, inaugurada como templo católico em 1780 e projetada por um arquiteto piemontês. Digno de nota é o catavento em forma de galo posicionado acima da cruz sobre a torre da igreja. Foi em 1789 em reuniões no templo que a população, sempre propensa a discutir novas ideias, aderiu aos conceitos da Revolução Francesa. Três anos mais tarde, Carouge foi ocupada pela França, encerrando seu desenvolvimento excepcional ocorrido até então.
Na Place du Marché tem início a rua mais emblemática de Carouge, a rue Saint Joseph. Com muitas lojas de artesanato, a rua é conhecida pelos guarda-chuvas coloridos dependurados sobre a via, criando uma decoração divertida. Por acaso o rapaz da manutenção (na foto em colete laranja) estava checando cada guarda-chuva e, com a engenhoca que conduzia, ia substituindo os danificados. A rua passa ainda por outra praça, a Place du Temple, onde está a igreja protestante em estilo neoclássico.
Outra rua interessante para se incluir no roteiro a pé é a rue Ancienne. Como sugere seu nome e o trajeto menos retilíneo, é a única via que existia antes de Carouge ser erguida pela Sardenha. Uma das ruas mais características, abriga vários dos bares e cafés pelos quais a cidade é afamada.
Minha visita foi feita na manhã de uma sexta-feira tranquila de maio de 2019 e tudo estava vazio, mas não se engane, mais tarde a praça e as ruas bombariam de gente, ainda mais se fosse dia de mercado. Não que eu tenha achado ruim a ausência de turistas e veículos, já mencionei em posts passados que adoro encontrar as ruas desertas para que eu possa caminhar apreciando todos os detalhes e tirar fotos com a paisagem desimpedida. Como resultado, Carouge me passou uma impressão diferente da maioria dos visitantes, como se fosse uma aprazível e pacata vila italiana...
⏩➤ Este é o vigésimo post da série sobre a Suíça. Para visualizar os demais, acesse A saborosa Suíça.
Igreja de Sainte-Croix |
Numa ponta da praça desponta a Igreja de Sainte-Croix, inaugurada como templo católico em 1780 e projetada por um arquiteto piemontês. Digno de nota é o catavento em forma de galo posicionado acima da cruz sobre a torre da igreja. Foi em 1789 em reuniões no templo que a população, sempre propensa a discutir novas ideias, aderiu aos conceitos da Revolução Francesa. Três anos mais tarde, Carouge foi ocupada pela França, encerrando seu desenvolvimento excepcional ocorrido até então.
Rue Saint Joseph |
Na Place du Marché tem início a rua mais emblemática de Carouge, a rue Saint Joseph. Com muitas lojas de artesanato, a rua é conhecida pelos guarda-chuvas coloridos dependurados sobre a via, criando uma decoração divertida. Por acaso o rapaz da manutenção (na foto em colete laranja) estava checando cada guarda-chuva e, com a engenhoca que conduzia, ia substituindo os danificados. A rua passa ainda por outra praça, a Place du Temple, onde está a igreja protestante em estilo neoclássico.
Place du Temple: o templo protestante com quatro colunas gregas foi inaugurado em 1811. |
Outra rua interessante para se incluir no roteiro a pé é a rue Ancienne. Como sugere seu nome e o trajeto menos retilíneo, é a única via que existia antes de Carouge ser erguida pela Sardenha. Uma das ruas mais características, abriga vários dos bares e cafés pelos quais a cidade é afamada.
Casas mais baixas na rue Ancienne |
Minha visita foi feita na manhã de uma sexta-feira tranquila de maio de 2019 e tudo estava vazio, mas não se engane, mais tarde a praça e as ruas bombariam de gente, ainda mais se fosse dia de mercado. Não que eu tenha achado ruim a ausência de turistas e veículos, já mencionei em posts passados que adoro encontrar as ruas desertas para que eu possa caminhar apreciando todos os detalhes e tirar fotos com a paisagem desimpedida. Como resultado, Carouge me passou uma impressão diferente da maioria dos visitantes, como se fosse uma aprazível e pacata vila italiana...
⏩➤ Este é o vigésimo post da série sobre a Suíça. Para visualizar os demais, acesse A saborosa Suíça.
Postado por Marcelo Schor em 26.05.2021
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