Feira do Largo da Ordem, antes da pandemia |
Curitiba é uma das capitais brasileiras mais agradáveis de se visitar. Repleta de atrações, possui um centro histórico com alguns quarteirões muito bem conservados que sediam vários museus e centros culturais. Lá acontece nas manhãs de domingo a feira mais conhecida da cidade, a Feira do Largo da Ordem. Reinstalada há poucos meses após a pandemia, fui conferir como estava a feira num domingo com tempo encoberto.
Mapa do Centro Histórico |
Fundada em 1661, Curitiba tem um nome bem apropriado (quer dizer "pinheiral" em guarani, uma alusão à grande quantidade de araucárias existentes na época). A cidade cresceu no século seguinte como passagem de tropeiros, mas seu desenvolvimento foi mesmo impulsionado com sua escolha em 1853 como capital da recém-criada província do Paraná, emancipada de São Paulo.
Parte inicial da feira na rua Claudino dos Santos, com a torre branca da Igreja da Ordem à direita |
O marco zero da cidade é a Praça Tiradentes no centro, onde há um monumento e placa alusiva. Mas é bem perto dali, justamente no Largo da Ordem, onde aparecem as casas conservadas do chamado Centro Histórico. Ponto central do comércio nos primeiros tempos de Curitiba, o largo é hoje rodeado por ruas de pedestres, cujo pavimento é tomado por mesinhas animadas à noite nos fins de semana.
Largo da Ordem (sem a feira) |
A pequena fonte de pedra bem no centro do largo remonta ao século XVIII, e era o bebedouro pelo qual os tropeiros davam água aos seus cavalos e mulas. Já a população se servia de duas outras bicas nas proximidades, que achei curiosíssimo chamarem de "cariocas", uma alusão ao chafariz da Carioca no Rio de Janeiro, na época a principal fonte de abastecimento da então capital do país.
Bebedouro centenário diante da Igreja da Ordem |
Duas construções chamam a atenção no próprio largo. A primeira é a Igreja da Ordem de São Francisco, a mais antiga da cidade datando de 1737, atualmente sediando o Museu de Arte Sacra. Numa das esquinas do largo está situada ainda a casa também considerada a mais antiga de Curitiba, Casa Romário Martins, único exemplar restante do estilo colonial português do século XVIII. Hoje abriga um centro cultural.
Casa Romário Martins no Largo da Ordem |
Nos domingos pela manhã funciona a feira que atravessa o largo e se estende por vários quarteirões da rua Claudino dos Santos. Encontramos de tudo, desde artesanato até camisetas divertidas apresentando desenhos com capivaras, o anímal símbolo dos parques de Curitiba. Quem estiver com fome vai se deparar com diversas barracas de quitutes espalhadas pela feira, que normalmente acontece até as 14 horas.
A Feira do Largo passa por outra atração turística da cidade, a Praça Garibaldi, onde se acham a Igreja do Rosário, em estilo barroco, e o Relógio das Flores com seus ponteiros em fibra de vidro. O relógio é uma das impressões vívidas que tenho da minha primeira visita à cidade ainda menino; fiquei então impressionado com o artefato, inaugurado havia poucos meses. Movido a quartzo, o relógio com 8 metros de diâmetro tem seu desenho floral renovado a cada estação do ano, trocando sempre de cores.
Relógio das Flores na Praça Garibaldi |
Atrás da Praça Garibaldi aparece uma das visões mais inesperadas para um centro de cidade brasileira: as Ruínas de São Francisco. Trata-se de uma construção de igreja inacabada, cujas obras foram interrompidas há mais de duzentos anos e jamais retomadas; a igreja acabou sendo erguida em outro local. Sabe-se lá como, as pedras nunca foram removidas e são palco atualmente de um anfiteatro, que aparece no canto direito da foto.
Ruínas de São Francisco |
Uma construção com fachada bem moderna destoa das construções históricas vizinhas do Largo da Ordem. É o Memorial de Curitiba, inaugurado em 1996, fruto das comemorações do tricentenário do estabelecimento da vila de Curitiba. Com grandes espaços espalhados por seus andares, apresenta exposições variadas. Parte do seu piso é composto de paralelepípedos antigos que pavimentavam ruas curitibanas das cercanias.
A Feira do Largo vista através da ampla fachada de vidro do Memorial de Curitiba |
Em outubro os salões do memorial estavam ocupados pela mostra dedicada a Jean-Baptiste Debret, o pintor francês que retratou aspectos do cotidiano brasileiro do início do século XIX - tudo a ver com o ambiente dos primórdios do Largo da Ordem. Aliás, a primeira imagem conhecida da cidade, uma vista do casario tomada do morro, é creditada a ele. Debret foi muito divulgado nas décadas de 70 e 80 no Brasil e no exterior devido à abertura da novela Escrava Isaura, que apresentava suas gravuras. O Memorial abre de terça a sexta das 9 às 12h e das 13 às 18h, com horário mais reduzido aos sábados, domingos e feriados, 9 às 15h.
Saguão do Memorial de Curitiba |
Na rua Mateus Leme, que se inicia no Largo da Ordem, encontramos o Museu Alfredo Andersen, dedicado aos trabalhos do artista norueguês falecido em 1935 e considerado um dos grandes expoentes da pintura paranaense. O museu está instalado no número 336, num sobrado de fins do século XIX onde Andersen viveu e trabalhou. Apesar de pequeno, apresenta trabalhos muito interessantes, com entrada gratuita como nos demais museus da área. Abrigando ainda uma escola de arte, o museu abre diariamente exceto às segundas.
Museu Alfredo Andersen |
Seguindo por algumas quadras na direção norte, alcançamos as cercanias do Passeio Público. Primeiro parque da cidade, inaugurado em 1886, o belíssimo jardim foi reformado há dois anos. Seus jacarandás frondosos continuam chamando a atenção com seu colorido ímpar, assim como os portões de entrada, inspirados nos existentes no Cemitério de Cães parisiense. A criançada adora o minizoológico, com seus animais de menor porte, especialmente aves como araras (incluindo a arara-azul), tucano e muitos guarás de plumagem vermelha. Ali funcionava o zoo da cidade até ser transferido para a localização atual, bem mais espaçosa.
Passeio Público |
Há apenas dois meses foi implementado um projeto diferente no Passeio Público, que também vai atrair a atenção das crianças. Parte do programa Jardins do Mel, foram identificadas colmeias de abelhas sem ferrão, presentes em árvores e frestas de construções. As oito colmeias foram sinalizadas com pequenos troncos contendo QR code que apontam para o site do projeto, estando também mostradas no cartaz com o mapa geral do parque. É mais uma inovação numa cidade que sempre provou estar um passo à frente das demais capitais brasileiras.
Minizoo no Passeio Público |
Postado por Marcelo Schor em 24.10.2021
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