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Conhecendo o centro de Helsinque

 

Catedral Luterana de Helsinque

              Helsinque, a capital da Finlândia, é uma cidade para múltiplos gostos.  Não sendo tão badalada quanto outras capitais nórdicas, possui no entanto uma mistura  de atrações que me agradou em cheio: desde a surpreendente Fortaleza de Suomenlinna até museus ecléticos e edificações cujo estilo merece ser apreciado com calma ao se passear pelas ruas..

               Contando hoje com 650.000 habitantes, foi fundada pelo rei sueco Gustav I em 1550 como um entreposto comercial, Helsinque não teve maior relevância até a Finlândia ser conquistada pelos russos em 1809. Pela sua maior  proximidade com São Petersburgo foi então escolhida como a capital do novo grão-ducado em substituição a Turku, que tinha acabado de sofrer um incêndio devastador. E a partir daí, Helsinque desabrochou, embelezada e modernizada para fazer jus à sua nova função, com o aparecimento de inúmeros prédios monumentais.

Pontos do centro de Helsinque mencionados neste post


               Por questões logísticas dividi minha permanência em Helsinque em duas partes, antes e depois da jornada a Savonlinna num total de cinco noites, já que ficaria cansativo atravessar o país de oeste a leste de uma tacada só. Hospedei-me em dois hoteis diferentes, um bem na região central (Hotel Solo Sokos Helsinki) e outro na região do bairro art-nouveau (Hotel Scandic Hub). Não são tão distantes entre si, dá para ir de um a outro tranquilamente a pé, mas a atmosfera muda bastante, pareciam duas cidades - e cada uma das áreas será objeto de um post. Ambos os hotéis satisfizeram tanto em termos de acomodação como no quesito café da manhã, farto. 

Praça do Senado a pardir da escadaria de acesso à Catedral Luterana

            Criada para abrigar o governo do Grão-Ducado da Finlândia, a Praça do Senado pode ser considerada o eixo central da parte histórica de Helsinque. A ampla praça (sem árvore alguma como é hábito nas praças principais das cidades finlandesas que visitei) é cercada em três lados por construções imponentes neoclássicas. Todo o conjunto foi projetado nas primeiras décadas do século XIX pelo arquiteto berlinense Carl Ludwig Engel (que tem também obras suas em São Petersburgo e Tallinn)  e forma um dos cenários arquitetônicos mais interessantes do norte europeu. 

            As construções dos lados leste e oeste são praticamente idênticas e sediam o Palácio do Governo (onde originalmente foi instalado o Senado que deu nome à praça) e a sede da Universidade de Helsinque. Completando o quadro, entre as duas no centro da praça se ergue majestosa a estátua do czar Alexandre II, de 1894, treze anos após seu falecimento. Marido da czarina Marie que batizou a capital de Åland onde estive hospedado alguns dias antes,  Alexandre II reinou durante 26 anos na segunda metade do século XIX, período de prosperidade para Helsinque e no qual foi promulgada a primeira constituição do país. O czar, que tinha o título  oficial de Grão-Duque na Finlândia, é retratado com o uniforme do Batalhão de Guarda do país nórdico. As quatro figuras que o ladeiam  representam Lei, Luz, Paz e Trabalho.

A estátua do czar Alexandre II em frente ao Palácio do Governo. 


               Mas sem dúvida a Praça do Senado é mais conhecida pela terceira edificação, localizada no seu lado norte. É a Catedral Luterana, separada da praça por uma larga escadaria. Sua posição elevada faz com que seja facilmente avistada pelos barcos que chegam a Helsinque, tornando-se um símbolo da cidade.

Detalhe da fachada da Catedral Luterana, com as estátuas de Pedro e Tomé


                 Conhecida no passado como Igreja de São Nicolau, a catedral de fachada neoclássica branca e domos verdes foi inaugurada em 1852. Cercando a igreja acima do pórtico de entrada estão as estátuas em mármore dos doze apóstolos., cada um segurando um objeto ligado à sua história. Feitas de zinco, as estátuas, assim como as torres laterais e seus domos menores, só foram adicionadas ao projeto original da catedral após a morte do arquiteto Engel, ocorrida doze anos antes da inauguração. Sem estes itens a fachada da catedral se aproximava bastante das duas outras construções que dominam a praça. O engraçado é que no mesmo dia visitei duas igrejas em Helsinque que tiveram destinos opostos: a igreja da Fortaleza de Suomenlinna começou com quatro torres laterais e depois as teve demolidas, enquanto que a Catedral foi planejada sem as quatro torres que foram posteriormente adicionadas.

          Quem espera encontrar um interior igualmente exuberante, vai se decepcionar - ele é bem mais simples em ornamentações, contendo algumas estátuas nas quais se inclui a de Martinho Lutero. A catedral é palco frequente de concertos de música clássica, especialmente no verão.. 

Catedral Luterana e Praça do Senado vistas desde a rua Sofiankatu, uma viela com casas antigas que liga a praça ao mercado. 


          O quarto lado da praça, cortado pela eua Aleksanderinkatu (homenagem ao avô do czar retratado na estátua) é formado por casarões antigos. No canto sudeste da praça, cinco desses casarões contíguos abrigam há alguns anos o Museu da Cidade. O museu não é tão badalado quanto outros de Helsinque, mas o achei instrutivo, com várias exibições que mostram o dia a dia da cidade de outrora, assunto que sempre me cativa.            

No calçadão do final da Aleksanderinkatu encontra-se a estátua dos Três Ferreiros, esculpida em 1932. A cada fim de ano os ferreiros têm a cabeça coberta com um gorro natalino. 


             Seguindo dois quarteirões para lesre pela própria Aleksanderkatu, ao chegar à orla nos deparamos com a segunda catedral de Helsinque, desta vez na fé ortodoxa. A Catederal Uspenski ("Catedral da Assunção") também se encontra em posição um pouco mais elevada, mas agora numa ilha. Seus pequenos domos dourados sobre a cúpula e torres fazem com que pareça estarmos em São Petersburgo. Aliás, há regiões de Helsinque que realmente lembram a Rússia, tanto que na época da Guerra Fria Helsinque fazia o papel de São Petersburgo em locações de algumas produções famosas de Hollywood, como o filme Reds, de Warren Beaty, de 1981. . 

Catedral de Uspenski


        Considerada o maior templo ortodoxo da Europa nórdica e oriental, com a cúpula central alcançando 33 metros de altura, a Catedral Uspenski é um pouco mais nova que sua colega luterana, datando de 1868. Seu interior é muito bonito, famoso por sua grande iconóstase - a divisória que separa nave de santuário nos templos ortodoxos, normalmente decorada com imagens de santos. 

Mercado de Helsinque diante do cais dos barcos. À esquerda o prédio com colunas gregas é a Prefeitura, outro projeto de Carl Engel. 


                    Uma quadra ao sul da Praça do Senado encontramos o cais de onde saem os barcos para a ilha de Suomenlinna e também o Mercado, com barracas que vendem suvenires, roupas e comidas típicas, entre outros. Experimentei um dia no mercado um prato típico, bolinhos de alce com legumes, mas ao contrário do ótimo suovas que comi dias antes em Estocolmo desta vez não apreciei o prato, não gostando do tempero forte. 

Bolinhos de Alce com batatas e legumes no Mercado de Helsinque 


               Na área colada à ponta do mercado se inicia a Esplanada, a mais elegante avenida do centro histórico. Com duas pistas separadas por um jardim vistoso, possui calçadas repletas de cafés, restaurantes e lojas chiques. É lá que se situa o Hotel Kämp, o cinco estrelas mais tradicional de Helsinque. No fim de semana de calor nos meus últimos dias em terras finlandesas a Esplanada estava repleta de habitantes sentados na grama ou passeando sem pressa, aproveitando o dia de sol com temperatura alta pouco frequente naquelas bandas. 

Estátua de Johan Runeberg no centro do jardim da Esplanada


                  Dividindo o jardim da Esplanada em duas partes está a estátua de Johan Runeberg, escritor que viveu no século XIX e que é considerado o maior poeta finlandês. Runeberg nasceu na cidade de Porvoo que conheci em bate-volta desde Helsinque; pelo visto essa cidade foi berço de vários grandes expoentes da arte finlandesa. Seu filho Walter foi um escultor de renome, e é o autor da estátua do czar na Praça do Senado. 

             Pude apreciar ainda o trabalho do pintor Albert Edelfelt, nascido também em Porvoo, no excelente Museu Ateneum, um dos melhores museus de arte de Helsinque. Fiquei impressionado com seus trabalhos realistas e naturalistas, de que nunca tinha ouvido falar. 

Fim de semana na Esplanada diante do Hotel Kämp


              Decidi conhecer ainda o Parque da Colina do Observatório (em finlandês Tähtitorninvuoren puisto) , uma simpática área verde quatro quadras ao sul da Esplanada, que margeia uma área de mansões e embaixadas. Como o nome já indica, o parque se situa numa pequena colina que também abriga o observatório da cidade. O destaque vai para uma grande estátua de bronze estrategicamente de costas para o mar, "Naufragados", esculpida em fins do século XIX e que mostra uma família de náufragos - pai, mãe e filhos, supostamente à deriva.

Escultura "Naufragados" no Parque da Colina do Observatório

        Mas a grande surpresa estava no caminho a pé para o parque. quando me deparei na Praça Kasarmitori com um monumento que me deixou intrigado - era um homem bastante furado sobre uma cápsula esférica. Havia janelas (mais parecendo escotilhas) que davam para o interior da cápsuila onde se podiam vislumbrar mapas e fotos de guerra em preto e branco . Tratava-se do Memorial Nacional da Guerra Invernal, a terrível guerra travada entre a Finlândia e a União Soviética nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, onde o país conseguiu evitar que os soviéticos tomassem novamente seu território, mas perdeu grande parte da Carélia, até hoje dividida entre Finlândia e Rússia. Minha curiosidade de jamais ter ouvido falar deste monumento impactante (e arrepiante, pelos furos que remetem às balas de fuzil) foi explicada pela sua inauguração recente, no dia de novembro de 2017, que marcava os 78 anos do início da guerra. 

Memorial Nacional da Guerra Invernal

                    No próximo post continuamos nosso passeio por Helsinque.

⏩➧ Este é o décimo segundo post da série sobre a viagem à Suécia e Finlândia realizada em junho de 2023. Para visualizar os demais e o mapa do roteiro, acesse  o post introdutório da série .


 Postado por  Marcelo Schor  em 25.08.2024 


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