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Porvoo, a cidade histórica perto de Helsinque

 

Vista de Porvoo e sua catedral

          Situada a uma hora de ônibus de Helsinque, Porvoo (pronúncia aproximada pôrvo) é um dos destinos favoritos para passeio de um dia a partir da capital finlandesa. Seu centro histórico com casas de madeira e ruas de calçamento antigo encantam os visitantes.

         Segunda cidade fundada na Finlândia (a primeira foi Turku), Porvoo já era um entreposto comercial importante no século XIV, ganhando importância maior nos séculos seguintes do domínio sueco. Porvoo era a segunda cidade em tamanho quando a Suécia perdeu a Finlândia para os russos, e foi nela que ocorreu a famosa Dieta de Porvoo, a assembleia imperial convocada pelo czar Alexandre I para transformar a Finlândia num grão-ducado com autonomia relativa, três anos antes da transferência da capital para Helsinque.

       Uma diferença marcante para outras cidades finlandesas é que uma ´parcela significativa da sua população de 51.000 habitantes, 28%, tem o sueco como primeira língua. Seu nome nesse idioma é Borgå (a grande diferença entre as grafias se explica pela ausência das letras b, g, e xxx em palavras nativas finlandesas).

Casas de madeira na rua Kirkkukatu ('rua da igreja"), que sobe em direção à Catedral.


                  Conheci Porvoo no penúltimo dia de viagem, mas ao contrário dos demais locais visitados  no país, nem tudo correu como planejado. Eu me preparei para embarcar no ônibus das 9 da manhã na rodoviária de Helsinque, que como mencionei no post de introdução da série se situa no subsolo do Shopping Kamppi. Ao contrário das outras viagens rodoviárias, não comprei a passagem com antecedência, confiando na grande quantidade de horários disponíveis ao longo do dia. Porém era um sábado de muito sol e calor, e encontrei o veículo lotado. Ao perguntar ao motorista onde ficava a bilheteria para que pudesse adquirir a passagem, veio a resposta inesperada de que não havia bilheteria, só  fazendo a operação online. Entrei então no site da companhia e consegui comprar o percurso somente para as onze, agendando ainda o retorno para o meio da tarde. Depois descobri que há do lado de fora do shopping ônibus comuns paradores que também cobrem o trajeto, obviamente demorando mais. 

                  Há uma alternativa mais aprazível e cênica nos meses de alta temporada: um barco a vapor que liga o cais sul de Helsinque a Porvoo. Achei a duração do passeio excessiva para o meu gosto, três horas e meia em cada sentido, e preferi usar o ônibus.

Vista da cidade histórica com a catedral e a série de armazéns característicos

As atrações de Porvoo:

                  Porvoo é conhecida por sua cidade antiga. Suas casas não são tão velhas assim, houve um incêndio que arrasou o centro em meados do século XVIII.  Este centro histórico não é tão grande quanto o de Rauma, nem possui casas tão ornamentadas, mas em compensação há vista de cartão postal devido à presença do rio que leva o nome da cidade, como na foto que abre o post. E um diferencial é a sucessão de armazéns de madeira na cor ocre (usada para aumentar a preservação do material) à beira do rio, que lembram a importância comercial de Porvoo no passado. Assim como as demais construções no centro histórico, muitos abrigam restaurantes e lojas de artesanato e antiguidades. 

                O centro histórico dista cerca de 300 metros da praça do terminal de ônibus, a Praça do Mercado. Encaminhei-me direto para a Ponte Velha, construída em 1858, e atravessei o rio, para obter na margem oposta a melhor vista para a catedral na colina e os armazéns de madeira. 

Armazéns de madeira no rio Porvoo


             Edificação mais icônica da cidade, a graciosa Catedral de Porvoo está situada no alto de uma colina na parte histórica e assim pode ser vista de diversos pontos da cidade. Sua construção data do século XV, mas sofreu incêndios várias vezes; o que espanta é a data do último, 2006, quando um incêndio criminoso por um jovem de 18 anos destruiu seu telhado, reconstruído nos anos seguintes.

Catedral


           O templo tem missas tanto em finlandês quanto em sueco, e foi ungido a catedral em 1723, quando a diocese foi transferida de Vyborg, cidade que acabou conquistada pela União Soviética na Guerra Invernal em 1939, não voltando mais a ser finlandesa. Nos primórdios da dominação russa a catedral sediou sessões parlamentares locais, e foi nela que se reuniu a Dieta em 1809. 

             Não pude entrar na catedral nem apreciá-la pela porta, pois havia uma celebração de cerimônia  no início da tarde e a encarregada que impedia o acesso dos vários turistas era muito mal-educada, uma exceção ao comportamento exemplar finlandês com que me deparei durante a viagem.   
                 
Torre do camponário, separada do corpo principal da igreja

               A cidade parece mais antiga no Largo da Prefeitura Velha, calçado em pé de moleque e com piso inclinado. O destaque maior é mesmo a dita Prefeitura, que ostenta o título de prédio mais antigo do país ainda em pé que abrigou uma prefeitura, datando de 1764. Foi erguida após um incêndio devastador ter arrasado as casas da cidade. Desde 1896 a construção com uma bela torre de relógio sedia o Museu de Porvoo, que também ocupa outra casa no largo, a Casa Holm, da mesma época. 

O Largo da Prefeitura Velha

                Com um nome tão genérico, o museu apresenta mostras ecléticas na parte da Prefeitura, contendo desde documentos históricos até pinturas. Não há um destaque que torne a exibição imperdível. Quando você estiver caminhando pela salas calçando as pantufas obrigatórias, notará o piso inclinado acompanhado de portas empenadas, efeito do afundamento gradual do prédio ocorrido ao longo das décadas.

Prefeitura Velha, hoje Museu de Porvoo

                Já a Casa Holm apresenta temática semelhante a museus em Suomenlinna, Rauma e Naantali: como era a vida nas cidades finlandesas do interior há duzentos anos. A casa pertencia a um comerciante rico, mas o mobiliário da época que compõe a exibição foi colhido de lugares diferentes. O ingresso conjunto de  12 para as duas partes do museu pode ser adquirido na entrada da Casa Holm. 

Casa Holm, a outra parte do museu no Largo da Prefeitura Velha

                Em Porvoo viveram três expoentes das artes finlandesas do século XIX, Johan Runeberg (considerado o maior poeta finlandês, homenageado com a estátua principal da Esplanada na capital), seu filho Walter (escultor da estátua na Praça do Senado) e ainda Albert Edelfelt, o pintor cujos quadros encantam os visitantes do Museu Ateneum. Para honrar os dois primeiros, a casa onde viveram, perto da Praça do Mercado, foi transformada no Museu Runeberg, apresentando a história e coleções do poeta, além da exibição com esculturas do filho numa casa do outro lado da rua.  Com a diminuição do tempo previsto de permanência em Porvoo quando comprei as passagens de ida e volta mais cedo pelo celular, não sobrou mesmo tempo para esta atividade adicional. 

              Aliás, em mais uma homenagem o barco a vapor que une Helsinque a Porvoo se chama... J.L.Runeberg. 

Aposento na Casa Holm, no Museu de Porvoo

           Almocei no simpático restaurante Hanna Maria, no início da rua principal de lojinhas, a  Välikatu. Quem visita Porvoo não pode deixar de provar sua sobremesa típica, a Torta Runeberg, encontrada no restaurante e feita com amêndoas e rum, coberta por geleia de framboesa e glacê. A iguaria era supostamente a favorita do poeta finlandês, criada por sua esposa. Enquanto em Porvoo a torta pode ser saboreada em qualquer dia, no resto do país é tradicionalmente feita somente na época do aniversário de Ruhneberg, 5 de fevereiro. E para jogar por terra qualquer ideia de economizar nas calorias consumidas, a casa ao lado abriga a loja dos deliciosos chocolates Brunberg. Seguindo com a tradição da cidade, é a mais antiga fábrica de chocolate do país, fundada em 1871.

Rua Välikatu, cheia de pedestres na tarde de sábado.


               Quando retornei à Praça do Mercado à tarde para embarcar no ônibus de volta para Helsinque, o local de eventos da praça estava lotado de gente nos bancos tomando cerveja (afinal era um sábado) enquanto assistia a um evento esportivo na tela gigante. Não era futebol e sim uma corrida de cavalos. Curioso. Já mais cedo naquela manhã diante do shopping da rodoviária de Helsinque estava rolando uma partida animada daquele que é o esporte mais popular na Finlândia - o hóquei, na versão sobre chão.  

Jogadores e seus tacos na partida de hóquei na quadra diante do Shopping Kamppi


              O próximo post inicia nova série, desta vez apresentando um destino que eu queria há muito conhecer: o Algarve.
 
⏩➧ Este é o décimo quinto e último post da série sobre a viagem à Suécia e Finlândia realizada em junho de 2023. 

 Postado por  Marcelo Schor  em 01.11.2024 

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