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Faro, a capital do Algarve

 

Calçadão junto à marina

           Em outubro do ano passado finalmente conheci uma das regiões mais fascinantes da Europa, o Algarve. Com suas cidades históricas e belíssimas praias de areias douradas, especialmente as cercadas por falésias na parte ocidental da costa,  esta região no extremo sul de Portugal tem uma histórica rica e atribulada. O Algarve foi a última parte do país a ser reconquistada pelos cavaleiros cristãos no século XIII, o que rendeu uma presença maior de resquícios dos séculos de domínio árabe, mesmo com o terremoto de 1755 que devastou a área. Além do mais, núcleos antigos bem conservados com casarões de dois séculos de existência fazem a festa dos turistas. 

Mapa do Algarve

 

          Dividi a estadia, foram duas noites em Faro e quatro em Lagos, realizando bate-voltas a partir delas para conhecer Tavira e Silves, respectivamente. Minha viagem anterior aos países nórdicos quatro meses antes foi realizada sob um tempo maravilhoso, com sol brilhando em todos os dias, mas desta vez não tive tanta sorte - uma tempestade de nome Aline devastava o resto de Portugal e as notícias davam destaque para as inundações nas estradas impedindo o trânsito dos veículos. No Algarve a situação não chegou a este extremo, mas choveu forte em alguns dias e cheguei a ter dois passeios cancelados em Lagos devido ao mau tempo. 

A idílica Rua do Trem na Cidade Velha de Faro. Repare na sombra que faz a chaminé com formato característico do Algarve.


        Capital do Algarve, centro universitário e sede do aeroporto da região, Faro foi a  escala natural da parte inicial da viagem - o aeroporto fica bem perto do centro. A cidade de 67.000 habitantes é base excelente para se conhecer as localidades da região leste do Algarve, com acesso fácil por ônibus ou trem (dei preferência ao trem nos deslocamentos regionais). 

Marina de Faro 


          Hospedei-me em Faro no Roots Hotel, um três estrelas situado a poucos passos da estação ferroviária e a algumas quadras de distância das principais atrações históricas. O hotel não possuía um café da manhã tradicional, mas oferecia uma lancheira opcional com itens básicos incluídos, como brioche, queijo, iogurte e laranjada, que podia ser degustada no pequeno refeitório existente no térreo. Não esqueço meu segundo e último café da manhã no hotel; quando iniciava a refeição desabou uma chuva fortíssima, prenúncio da tempestade que se seguiria, e pude observar a preocupação da encarregada do refeitório ao checar o estado do toldo da varanda. Meia hora depois a chuva cessaria, voltando com força total no dia seguinte em Lagos. 

Estátua de Francisco Gomes no Largo da Sé. Este bispo foi responsável pela reconstrução de Faro após o terremoto de 1755. Atrás está o Seminário Episcopal. 


            Assim que deixei a mala no quarto do hotel após o check-in, saí para conhecer as atrações do centro de Faro, já que o dia seguinte seria totalmente dedicado a visitar Tavira, a cidade histórica mais conhecida do leste algarvio. Após uma curta caminhada alcancei a marina, onde iates dividem o espaço com barcos de pesca singelos. Parar para tirar uma foto junto ao letreiro com o nome da cidade tendo os barcos ao fundo é tarefa obrigatória para os visitantes.  

O Arco da Vila com os ninhos no seu topo


               Da marina já podemos divisar a Cidade Velha, ainda cercada por muralhas da época árabe e situada sobre uma colina.   Ao lado do escritório de turismo  está uma das três portas de entrada para a Cidade Velha, e esta é a mais vistosa. O Arco da Vila (uma referência à denominação da cidade antiga, Vila Adentro) é um grande portal, ostentando uma estátua em mármore de São Tomás de Aquino; Mais parece uma fachada de igreja, contando até com sino. Construído em 1812, hoje abriga moradoras inusitadas, dá para se vislumbrar ninhos de cegonha no topo do arco. Mas se o prédio do Arco é relativamente recente, a passagem arqueada sob ele é para lá de antiga, existindo desde o século XI, sendo chamada de Porta Árabe numa referência à época, quando servia de acesso para quem chegava pelo mar.  

Muralha vista do interior da Cidade Velha, junto à saída da Porta Árabe no Arco da Vila

            Atravessei o Arco da Vila, entrando na Cidade Velha e subindo a ladeira da Rua do Município. Os labirintos das ruas, as fachadas bem cuidadas e o calçamento e iluminação de outrora contribuem para que retornemos no tempo ao percorrer o trajeto. 

Rua do Município

              A Rua do Munícípio leva à parte mais alta da colina, onde se abre o Largo da Sé. Ali o encanto se quebrou, havia uma horda de automóveis ocupando cada espaço livre da praça - não podiam banir o estacionamento nesse sítio histórico como fizeram nas últimas décadas em muitos outros locais de interesse na própria Península Ibérica? Uma pena, pois o largo está cercado de construções relevantes e que merecem ter seus detalhes apreciados. 

A Sé de Faro


          A construção mais imponente no largo é a própria , também conhecida como Catedral de Santa Maria. A Sé data de 1251, quando se tinham decorridos apenas dois anos da reconquista católica da cidade, erguida onde provavelmente existia uma mesquita e anteriormente um templo romano. Foi destruída ao longo dos séculos por terremotos e até por um saque inglês que a deixou incendiada em 1596, sendo sempre reconstruída a seguir. 

Vista lateral da Sé


          Adquiri o ingresso de € 5 para conhecer seu interior sustentado por colunas dóricas e repleto de azulejos e detalhes em dourado como é comum em Portugal. A igreja é muito bonita, mas o diferencial do ingresso é poder subir à torre, de onde se tem uma boa vista dos casarões brancos da Cidade Velha. Cuidado com os degraus, mais altos que o normal. E como brinde se obtém uma visão melhor do Arco da Vila, em especial dos seus ninhos. 


Interior da Sé de Faro

                Em frente à Sé se encontra o Paço Episcopal, sede do poder eclesiástico algarvio desde 1585. Foi dali que o Bispo Francisco Gomes comandou a reconstrução de Faro e da própria Sé no final do século XVIII, em grande parte destruídas pelo terremoto de 1755. O bispo foi responsável por inúmeras obras, incluindo o Arco de Vila. Em sua homenagem há uma estátua no largo rodeado por laranjeiras. O interior do paço também é digno de nota, com azulejos em painéis desenhados revestindo o átrio e a escadaria. 

Paço Episcopal com seu portal de entrada em estilo rococó se integrando à janela superior

            O  museu principal de Faro é o Museu Municipal, ainda situado nos limites murados da Cidade Velha, em um antigo convento renascentista. Nele se pode conferir aspectos da História de Faro e artefatos arqueológicos que incluem relíquias do período islâmico. Não cheguei a visitá-lo. 

Rua Conselheiro Bivar
 

           Já do lado de fora das muralhas, Faro conta com um calçadão que ferve à noite com seus  restaurantes de especialidades diversas, a Rua Conselheiro Bivar. Após caminhar bastante pela cidade no dia da chegada, jantei um saboroso fettuccine à carbonara no La Forchetta, especializado em cozinha italiana. 

Igreja do Carmo

            Mais ao norte do centro histórico ocupa lugar de destaque a Igreja do Carmo, no largo homônimo. É um belo templo barroco do século XVIII, mas suas duas torres só foram adicionadas muitas décadas mais tarde, cada uma em um século diferente. Seu altar ostenta ricos detalhes dourados, com o material obtido direto de Minas Gerais, já que naquela época o ouro era a principal extração existente no nosso país. 

O ouro abunda no interior da Igreja do Carmo


            Mas o que distingue a Igreja do Carmo é o seu anexo, a macabra Capela dos Ossos, semelhante à sua congênere famosa existente em Évora e erigida em 1816. As caveiras intercaladas que ocupam a parede do pequeno aposento estão em estado variado de integridade e pertenciam a um antigo cemitério de monges da Ordem do Carmo. No total chegam a mais de mil ossos. A inscrição na entrada nos leva a refletir: "Pára aqui a considerar que a este estado hás de chegar".

Capela dos Ossos

            Sempre pensei que Faro se situasse à beira-mar, pois já tinha ouvido falar da marina e também de suas praias extensas. Na realidade a praia está um pouco distante na Ilha de Faro, e a cidade se encontra às margens da Ria Formosa, que forma um parque natural conhecido pelos passeios de barco para avistamento de pássaros. Para se chegar às praias oceânicas do outro lado da ria, se toma uma balsa no acanhado píer junto à muralha da Cidade Velha, do outro lado da linha férrea que separa Faro da ria  - para quem não conhece o termo comum em Portugal, ria é um canal ou braço de mar navegável.

Embarcação de acesso à praia e que atravessará a ria, mostrada na foto


           Para encerrar, uma curiosidade: Faro é considerada uma das Capitais de Motociclismo da Europa. Há um evento tradicional junto ao aeroporto que reúne os motoqueiros e dura quatro dias a cada julho, atraindo dezenas de milhares de pessoas. Nessas ocasiões suas ruas são tomadas por motos vindas de todos os cantos. Há até um monumento inaugurado há alguns anos numa das avenidas da cidade que apresenta uma moto estilizada em aço inoxidável subindo uma rampa.   

Vista do Largo da Sé e da Ria Formosa a partir do terraço da Sé

   

   No próximo post damos um pulo até a encantadora cidade de Tavira, no extremo oriental do Algarve.

⏩➧ Este é o primeiro post da série sobre a viagem ao Algarve realizada em outubro de 2023. 

 Postado por  Marcelo Schor  em 01.12.2024 


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